‘Vice’ do Conselho de Segurança da Rússia diz que Zelensky é um “toxicodependente ilegítimo”
Dmitry Medvedev, antigo presidente e primeiro-ministro russo e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, voltou a atacar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Num comentário publicado no domingo na plataforma Telegram, Medvedev acusou Zelensky de ser um “toxicodependente ilegítimo” que prolonga o conflito na Ucrânia para manter o poder.
Medvedev afirmou que o governo ucraniano está determinado a insistir numa “guerra total até ao último ucraniano” e a adiar as eleições presidenciais o máximo possível. “É a única maneira de preservar o poder de um toxicodependente ilegítimo”, escreveu.
As declarações surgem num contexto de renovadas críticas ao presidente ucraniano, cuja popularidade tem enfrentado desafios internos. De acordo com uma sondagem recente do Centro de Monitorização Social, sediado em Kyiv, apenas 16% dos ucranianos votariam em Zelensky numa futura eleição presidencial. Outros 27% prefeririam Valerii Zaluzhnyi, antigo comandante das forças armadas e atual embaixador da Ucrânia no Reino Unido. A mesma pesquisa indicou que cerca de 60% dos inquiridos não desejam que Zelensky concorra à reeleição.
Desde o início da invasão russa em larga escala, em fevereiro de 2022, a Ucrânia tem estado sob lei marcial. Esta medida, que suspende eleições durante períodos de guerra, foi recentemente prolongada pelo parlamento ucraniano por mais 90 dias, adiando qualquer possível eleição presidencial para, pelo menos, fevereiro de 2024.
As acusações de Medvedev fazem eco de uma narrativa promovida por figuras pró-Kremlin desde os primeiros dias da invasão, numa tentativa de deslegitimar Zelensky e a sua gestão da guerra.
Em maio de 2022, circulou nas redes sociais um vídeo alterado digitalmente onde Zelensky parecia admitir o consumo de cocaína. A agência Reuters desmentiu a veracidade do vídeo, explicando que ele combinava excertos manipulados de uma entrevista original de 2019 ao jornal Ukrainska Pravda, na qual o presidente ucraniano falava sobre o seu gosto por café e negava o uso de substâncias ilícitas.
Em março do mesmo ano, surgiram imagens adulteradas de uma chamada de vídeo entre Zelensky e Elon Musk, CEO da SpaceX, que mostravam um suposto monte de pó branco na secretária do presidente. O vídeo, que rapidamente se tornou viral, foi desmascarado, comprovando-se que o conteúdo original não apresentava qualquer substância na cena.
A campanha de desinformação russa não se limitou ao público interno. Em 2023, atores norte-americanos, como Elijah Wood e John McGinley, foram enganados por agentes ligados à Rússia através da plataforma Cameo. Os atores gravaram mensagens personalizadas apelando a um “Vladimir” para que procurasse ajuda para a toxicodependência.
Segundo um relatório do Microsoft Threat Analysis Center, os vídeos foram editados com emojis e logótipos falsos de meios de comunicação e partilhados nas redes sociais, sendo apresentados pelos media estatais russos como pedidos genuínos dirigidos ao presidente ucraniano. “Estas mensagens foram manipuladas para dar credibilidade às alegações infundadas e de longa data da Rússia sobre o alegado consumo de substâncias por Zelensky”, concluiu o relatório.
As acusações de Medvedev e as campanhas de desinformação são vistas como parte de uma estratégia mais ampla do Kremlin para enfraquecer o apoio interno e internacional a Zelensky. Até ao momento, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia não comentou diretamente os ataques recentes, mas a desinformação russa continua a ser amplamente contestada por analistas e verificadores de factos.
Enquanto a guerra persiste, a legitimidade e a liderança de Zelensky permanecem sob o escrutínio não apenas do Kremlin, mas também de segmentos da população ucraniana que enfrentam os custos humanos e económicos do conflito.