“Vende-se escrava: Tem 12 anos, não é virgem, mas é muito bonita”: O drama das crianças e mulheres vendidas pelo Estado Islâmico

Desde 2014 que milhares de mulheres e crianças de minoria yazidi são feitas escravas pelo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria. Nove anos depois, ainda se desenvolvem esforços para resgatar estas pessoas do horror vivido, em que para além de trabalhos forçados, as meninas e mulheres são recorrentemente violadas, espancadas e trocadas como moeda entre terroristas.

É o caso de Bahar e dos três filhos, que em novembro de 2015 já tinham sido vendidos pela 5.ª vez. Outro filho e o marido terão sido levados, assassinados e enterrados numa vala comum.

A mulher yazidi, minoria religiosa e étnica rotulada pelo EI como “infiel”, foi levada da aldeia de Sinjar, no Iraque.

“Tinha de agir como se fosse esposa deles, sempre que quisessem. Batiam-me quando queriam”, relata à BBC. Os filhos, com menos de 10 anos eram também brutalmente agredidos.

Eram ‘propriedade’ de um tunisino, que os emprestava a outras pessoas para fazer trabalhos de limpeza nas bases do EI. “Fui limpar, mas violavam-me. Havia ataques aéreos durante todo o dia. Eles corriam para pegar em armas ou para se esconder. Foi um caos, pior do que qualquer pesadelo”, conta.

Quando estavam na casa do tunisiso que os tinham comprado, um dia chegou um carro com vidros escuros, conduzido por um motorista. Bahar pediu que a matassem porque adivinhava que iria ser novamente vendida, possivelmente a alguém ainda pior.

Na realidade, o motorista colocou-a em contacto com Abu Shuja, um dos coordenadores do resgate destas mulheres e crianças, que lhe deu um código que deveriam dizer após serem levados para a Síria.

Foram levados numa mota, por outro homem, que lhes pediu que mantivessem o silêncio, para que os elementos do EI não suspeitassem de nada, e acreditassem na versão de que eram uma família.

Finalmente, e após uma série de passagens por pontos de controlo dos terroristas, chegaram à casa de Abu Shuja. Agora estão a recuperar das cicatrizes, emocionais e físicas, de anos e anos de abusos.

Outro coordenador das operações de resgate é o empresário Bahzad Fahran, que revela que o grupo que fundou, o Kinyat, conseguiu infiltrar-se no Estado Islâmico para criar uma rede de resgate.

Relata que tem acesso aos grupos de redes sociais onde são vendidas as mulheres e crianças e mostra os anúncios publicados. “Vende-se escrava: tem 12 anos e não é virgem, mas é muito bonita. Em Raqqa, 11 mil euros”, lê-se numa das publicações.

Para resgatar estas vítimas, os grupos têm de pagar o valor exigido pelos terroristas, e fazer de tudo para que não suspeitem do esquema.

No total, mais de 6400 mulheres e crianças yazidis terão sido vendidas como escravas após o Estado Islâmico tomar Sinjar. Mais de 5 mil pessoas desta minoria foram chacinadas.

Sem terem para onde voltar, as mais de 300 pessoas resgatadas por estes grupos permanecem em acampamentos na região curda do Iraque.

“Tenho de continuar a lutar. Mas agora, como as coisas estão, somos como mortos-vivos”, termina Bahar.

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