“Vamos ouvir a avaliação dos especialistas”. Afinal, Costa não garante reabertura de escolas a 10 de janeiro

O primeiro-ministro, António Costa, não dá como garantido o regresso às aulas presenciais mesmo no dia 10 de janeiro, ao contrário daquilo que disse António Lacerda Sales há dois dias.

Em declarações à ‘CNN Portugal’, à margem do debate com Jerónimo de Sousa, o responsável disse que antes dessa decisão ser tomada é necessário ouvir os especialistas (hoje no Infarmed), ainda que esteja otimista quanto à reabertura de escolas.

“Vamos ouvir a avaliação dos especialistas e a perspetiva que têm da evolução da pandemia. Esperemos que essa evolução nos permita manter o calendário como previsto das escolas poderem reabrir”, disse o primeiro-ministro.

Costa recordou também que existe um “esforço” de vacinação com a dose de reforço para docentes e funcionários das escolas e renovou o “apelo” aos pais para a vacinação das crianças com mais de cinco anos.

Estas declarações surgem dois dias de o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales, ter garantido que as aulas vão ser retomadas a 10 de janeiro, afastando a hipótese de serem adiadas devido ao aumento de casos de covid-19.

“Penso que essa medida [adiamento] não está garantidamente sobre a mesa. E, portanto, as aulas começam no dia 10 de janeiro para as crianças, porque essa é uma medida fundamental para a saúde física, mental, social e psicológica das nossas crianças”, disse o governante, na segunda-feira.

Tema divide especialistas

Especialistas ouvidos pela Multinews foram questionados sobre a possibilidade de as escolas se manterem encerradas por mais tempo, mostrando-se divididos.

“Não sou nada favorável a fechar as escolas, acho que se devem manter abertas, porque a verdade é que todos os dados apontam para que a maior parte dos contágios não esteja a ser feito em ambiente escolar, aliás a maioria das infeções está entre os 20 e os 50 anos”, considera Pedro Esteves, investigador do CIBIO.

Segundo o responsável, “a maior parte dos casos que têm acontecido nas escolas são contaminações que vêm do exterior, é um miúdo ou dois que aparecem infetados e vai uma turma inteira para casa, mas estão todos negativos”.

“Acho contraproducente (encerrar as escolas) porque ia prejudicar tremendamente os pais e criar uma pressão maior ainda quando há outras medidas que me parecem muito mais razoáveis”, refere.

Já Gustavo Tato Borges, da Associação dos Médicos de Saúde Pública, não concorda a 100%. “A manutenção das férias não deve continuar mas seria prudente, apesar de alguns colegas meus não concordarem, colocar os ciclos de ensino onde as crianças ainda não estão completamente vacinadas (1º e 2º ciclos) em ensino à distância”, afirma.

“Bem sei que não é a forma ideal de ensino, mas penso que é mais adequado permitir que as crianças tenham uma regularidade no ensino, do que iniciarem aulas presenciais e, passados uns dias, serem colocados em isolamento por um período de tempo”, indica.

O responsável justifica que “terem aulas presenciais para rapidamente serem colocados em isolamento não permite que tenham uma vida regular, mas que vivam em constante sobressalto, para além de que os seus pais terão a sua vida em sobressalto”, aponta.

“Recordo que as crianças só terão o esquema vacinal completo em Março (sensivelmente) e que, até lá, são utentes de risco para contrair a infeção e transmitirem. Por muito que tenham doença ligeira, podem ter contacto com familiares mais vulneráveis, que podem contrair doença grave e vir a ser internados ou falecer”, conclui.

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