Vale de Judeus: Fuga teve início um minuto depois de troca de turno do guarda da sala de videovigilância
A fuga de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre, foi classificada como um incidente de “gravidade extrema” pela ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice. O caso, que ocorreu no sábado, expôs uma série de falhas no sistema de vigilância e segurança do estabelecimento prisional. De acordo com o relatório preliminar entregue à ministra pela Divisão de Serviços de Segurança da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), o evento resultou de uma sucessão de erros graves que comprometeram a segurança da prisão.
A operação de fuga começou um minuto após uma troca de turno na sala de videovigilância. Pelas 9h54, um guarda substituiu o seu colega na monitorização das câmaras, momento que ficou registado nas gravações. Apenas um minuto depois, às 9h55, três indivíduos infiltraram-se no perímetro externo da prisão, de acordo com os dados apresentados pela ministra em conferência de imprensa.
O relatório, que detalha a cronologia da fuga, indica que às 9h57 os reclusos iniciaram a sua evasão, colocando duas escadas – uma dentro do muro da prisão e outra do lado exterior. O último dos fugitivos ultrapassou a vedação às 10h01, concluindo assim uma operação que durou apenas seis minutos.
Videovigilância e falta de resposta
Embora o sistema de videovigilância estivesse a funcionar corretamente e todas as câmaras estivessem operacionais, o guarda recém-chegado à sala de controlo não reagiu ao que as imagens mostravam. Segundo o relatório, as movimentações para a fuga foram captadas em tempo real, o que levanta sérias questões sobre a atenção ou a competência do guarda em serviço naquele momento. O relatório sugere que o agente poderá ter assistido à fuga sem alertar os seus superiores, ou simplesmente não se apercebeu do que estava a acontecer.
A ministra da Justiça foi clara ao condenar o incidente, referindo que “não pode ser desculpado”. Em declarações aos jornalistas, afirmou que o relatório preliminar revela “desleixo, irresponsabilidade e falta de comando” na gestão do estabelecimento prisional, e deixou em aberto a possibilidade de instaurar processos disciplinares aos envolvidos, caso as investigações o justifiquem.
“Cadeia de erros e falhas graves”
Rita Júdice destacou a gravidade das falhas detetadas, referindo que a fuga foi o resultado de uma “cadeia sucessiva de erros e falhas graves e grosseiras”. Na altura da evasão, estavam de serviço 35 guardas prisionais e, segundo a ministra, não houve falhas no sistema de videovigilância. No entanto, as medidas de segurança foram consideradas insuficientes e a resposta à fuga extremamente lenta. O alerta para a GNR foi dado apenas às 11h18, cerca de 83 minutos após a fuga dos reclusos.
“A cadeia de comando falhou”, afirmou a ministra, sublinhando que a sequência de eventos revelou “decisões erradas ou ausência de decisões”. A demora na reação à fuga contribuiu para que os cinco reclusos escapassem sem qualquer resistência, apesar das câmaras terem captado todo o processo.
Consequências e mudanças na DGRSP
Como consequência direta do incidente, Rita Júdice aceitou a demissão de Rui Abrunhosa Gonçalves, diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, substituindo-o por Isabel Leitão. A nova responsável pela DGRSP terá a missão de reforçar as medidas de segurança e implementar as recomendações resultantes da auditoria, numa tentativa de evitar que casos semelhantes voltem a ocorrer.
A ministra reiterou que o caso de Vale de Judeus exige uma resposta firme e imediata, e que serão tomadas todas as medidas necessárias para responsabilizar os envolvidos e melhorar a segurança nas prisões portuguesas.