“Vai matar alguém”: diversos avisos sobre a segurança do submersível Titan foram ignorados

A implosão mortal do submersível Titan continua envolta em incógnitas e crescem as acusações de descuidos da empresa de exploração OceanGate Expeditions no que diz respeito à segurança. O pequeno submarino terá deixado cair pesos em algum momento da sua descida, embora não se saiba se se deveu a uma medida de rotina ou um esforço para abandonar a missão.

Segundo Rob McCallum, um veterano especialista em submersíveis que começou a levar turistas aos destroços do ‘Titanic’ na década de 2000 em submarinos russos, foi uma das vozes mais ativas da indústria a expressar preocupações sobre a OceanGate e garantiu que os submersíveis descartam peso para controlar a flutuabilidade.

“Por vezes perdem um pouco de peso para desacelerar quando se aproximam do fundo e, às vezes, perdem muito peso para subir”, explicou McCallum, em declarações aos britânicos do ‘The Guardian’. “É preciso ler o registo de mergulho para saber que pesos foram descartados imediatamente antes da catástrofe.”

Os submersíveis “não carregam um gravador de dados e, portanto, depende-se das comunicações entre o submersível e o navio – a menos que o registo mostre uma preocupação do submersível, nunca saberemos”, sublinhou McCallum, que operou vários submarinos comerciais a cerca de 11 mil metros.

Rob McCallum deixou diversos alertas à OceanGate sobre questões de segurança, algo que não foi tido em conta pelas autoridades governamentais e pela OceanGate, cujo cofundador, Stockton Rush, fez um convite ao especialista. “Queria que dirigisse a operação do Titanic para ele”, explicou McCallum ao jornal ‘New Yorker’. “Na época, era a única pessoa que ele conhecia que havia feito viagens de expedição comercial ao Titanic. O plano de Rush era ir além e construir um veículo especificamente para esta expedição com vários passageiros.”

McCallum, numa visita à oficina da OceanGate na área de Seattle, para ver o primeiro submersível da OceanGate, o ‘Cyclops I’, deixou preocupações face ao design aparentemente rudimentar e a falta de recursos de segurança. “Houve vários pontos de falha”, incluindo o seu sistema de controlo utilizar Bluetooth. “Cada submarino no mundo tem controlos conectados por um motivo – se o sinal cair, não se fica em apuros.”

McCallum decidiu não se envolver no projeto devido a uma variedade de preocupações de segurança. Algo que Stockton Rush não gostou. “Eu sei que a nossa abordagem inovadora e focada em engenharia (em oposição a um processo de design focado em conformidade com os padrões existentes) vai contra a ortodoxia submersível, mas essa é a natureza da inovação”, disse Rush. “Titan e os seus sistemas de segurança estão muito além do qualquer coisa atualmente em uso.”

“Esse assunto deixa-me um pouco agitado. Cansei-me de a indústria que tentam usar um argumento de segurança para impedir a inovação. Desde que Guillermo Söhnlein e eu começámos o OceanGate, ouvimos os gritos infundados de ‘você vai matar alguém’ com muita frequência”, resumiu Rush. “Tomo isto como um sério insulto pessoal.”

Também David Lochridge, piloto do Cyclops I quando McCallum foi fazer um mergulho de teste, acabou por deixar a OceanGate. Após a sua partida, numa troca de emails com sobre as preocupações sobre segurança, definiu o submersível “como um limão”.

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