Unicre: «Sentimos que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente»

A pandemia não veio abrandar o dinamismo do mercado de trabalho no setor da banca e dos serviços financeiros. A garantia é deixada por Leonor Barros, diretora de Recursos Humanos da Unicre, segundo a qual é necessário ser ágil e atrativo para se conseguir ser a empresa escolhida pelos melhores talentos.

Em entrevista à Executive Digest, a responsável explica que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, com candidatos que sabem exatamente o que querem. Esta alteração de paradigma traz também um novo desafio às empresas e às lideranças: têm de promover um leque de benefícios alargado, que vai além do salário. Progressão na carreira e sustentabilidade, por exemplo, também são critérios analisados pelos profissionais.

Leonor Barros também deixa claro que «os horários e os modelos de trabalho flexíveis tornaram-se aspetos muito mais importantes e até preponderantes numa oferta de emprego». Quanto aos profissionais que já fazem parte da equipa, será crucial promover iniciativas internas «que liguem as pessoas ou que promovam o engagement num âmbito mais alargado, fora do ambiente de trabalho».

Acompanhe a entrevista na íntegra:

Como descrevem o mercado de trabalho no vosso setor, em Portugal?

O mercado de trabalho no nosso setor é altamente dinâmico, rápido, exigente e requer skills e know-how muito técnicos e específicos para determinadas áreas. Apesar do momento que vivemos, o mercado de trabalho continua a movimentar-se, o que nos obriga a ser ágeis e atrativos, ou corremos o risco de não ser a primeira escolha.

De que forma tem evoluído?

Sentimos que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, com um ritmo mais acelerado e com candidatos que sabem exatamente o que procuram e que só serão atraídos por organizações que ofereçam possibilidade de progressão na carreira, desafios, tecnologia, inovação, sustentabilidade e, não menos importantes, modelos e benefícios que contribuam para o seu work-life balance.

Quais são as principais dificuldades na captação de talento?

Na Unicre identificamos como um dos principais desafios a captação de talento e, nesse sentido, procuramos trabalhar o employer branding através de estratégias de comunicação internas e externas, do reforço da cultura organizacional, da identificação e otimização dos níveis de satisfação internos, da criação de planos de benefícios que promovam a saúde e bem estar e de metodologias de trabalho que potenciem a agilidade, simplicidade, cooperação e envolvimento.

Ainda no âmbito do employer branding, temos uma iniciativa, em que apostamos fortemente, relacionada com a realização de dois programas de estágios: um de curta duração, o ‘be Unlockers Summer Edition’, desenhado sobretudo para jovens que ainda frequentam a faculdade, mas que procuram um primeiro contacto com a realidade empresarial, das instituições financeiras; e um outro de maior duração, de cerca de um ano, o ‘be Unlockers Trainee’, especialmente criado para recém-licenciados que querem iniciar a sua atividade profissional.

Para a Unicre, estes dois modelos são uma forma de recrutamento futuro, que nos tem ajudado a ganhar relevância no mercado de trabalho, nomeadamente junto das gerações mais novas, que aportam um potencial disruptivo que em muito trará benefícios à evolução de um setor que ainda é tido, por muitos, como conservador. A par destes programas, temos procurado estar presentes nas feiras de emprego das faculdades de referência, para conhecer, em primeira mão, o melhor talento nacional.

E em termos de retenção?

No que respeita à retenção do talento, a Unidade de Recursos Humanos da Unicre tem como seu principal desígnio ser um verdadeiro parceiro de todas as unidades da empresa, contribuindo para o bem estar das suas equipas e, consequentemente, para o crescimento dos negócios.

Este desígnio de que falo tem-se materializado a partir de uma série de iniciativas e projetos destinados aos nossos Unlockers, ou seja, às nossas pessoas.

Antes da crise pandémica, ainda em 2019, iniciamos um projeto de flexibilidade do trabalho, em conjunto com a Unidade de IT, tendo culminado com um piloto que permitia aos nossos colaboradores adotar um de três modelos de trabalho flexível: trabalho remoto, trabalho por objetivos, e horário de trabalho customizado. Graças a este projeto foi possível à Unicre preparar-se e ter uma resposta mais rápida e ágil ao cenário de home office necessário com o espoletar da pandemia.

Já em 2020, implementamos uma iniciativa orientada ao bem estar da saúde mental, através da criação de um espaço de apoio psicológico gratuito e alargado aos familiares de cada colaborador.

Para além destes, existem outros benefícios para os nossos Unlockers, nomeadamente no que respeita às férias. Cada colaborador tem direito a 29 dias de férias, juntamente com a dispensa no dia de aniversário. Destacamos ainda a nossa preocupação e foco com os filhos dos Unlockers: além da dispensa dos pais no primeiro dia de aulas de filhos até aos 12 anos, a Unicre disponibiliza uma semana gratuita, no período de férias, para os filhos, também até essa idade, com diversas atividades lúdicas. Mais recentemente, e uma vez que foi necessário renovar o parque informático para se adaptar à realidade do home office, a Unicre deu a possibilidade aos colaboradores com filhos em idade escolar de receberem computadores em casa.

Gostaria ainda de salientar que um dos fatores que nos diferencia é, sem dúvida, o envolvimento e compromisso que os nossos Unlockers têm com a organização, e que é bem visível na divulgação que promovem, junto das redes sociais, dos nossos projetos e produtos, criando um maior dinamismo nessas comunicações. Um exemplo que temos bem presente desse envolvimento está relacionado com a atualização do nosso código de conduta, documento tradicionalmente “boring”, para o qual convidámos um dos nossos colaboradores a fotografar os restantes de forma a servirem de mote para ilustrar, humanizar e dar vida a esse documento. Esta é uma prova do propósito da nossa marca: “Ligamos pessoas, empresas e tecnologia, proporcionando experiências de pagamento únicas.”

Que estratégias estão a desenvolver para combater estas dificuldades de captação/retenção?

É fundamental trabalhar a comunicação interna em conjunto com as áreas de marketing. Na Unicre a comunicação tem ganho cada vez mais relevância, na medida em que estamos conscientes de que é através de uma mensagem clara, transparente e simples que seremos desafiados a aumentar os níveis de satisfação da employee experience. É fundamental termos iniciativas que recordem os nossos Unlockers que fazem parte integrante da organização, criando momentos de ligação e partilha que promovam o espírito de equipa.

Como ações internas, temos a destacar o dia de aniversário da Unicre, em que todos os colaboradores foram surpreendidos, nas suas casas, com a oferta de um bolo para festejar com a família. De referir ainda as Utalks, um espaço dedicado à partilha de conhecimento com os nossos colaboradores, que adotou o novo formato 100% virtual e que permite, de uma forma descontraída, manter a equipa informada e unida.

E que resultados estão a ter?

O feedback dos nossos Unlockers tem sido bastante positivo e isso é notório nos níveis de participação interna de cada iniciativa que desenvolvemos.

Notam diferenças naquilo que os colaboradores procuram numa oferta de emprego? Quais?

Naturalmente. Os horários e os modelos de trabalho flexíveis tornaram-se aspetos muito mais importantes e até preponderantes numa oferta de emprego. A juntar a isto, e devido ao maior distanciamento físico, tudo quanto sejam iniciativas internas que liguem as pessoas ou que promovam o engagement num âmbito mais alargado, fora do ambiente de trabalho, são também são sempre bem recebidas.

Fazem parte de um setor visto como conservador. Como encaram esta perceção? Ainda faz sentido?

Não nos revemos como uma empresa conservadora. A Unicre tem a sua génese e sempre foi conhecida como uma empresa tecnológica, muito direcionada e focada na inovação dos pagamentos. Mas reconhecemos que o setor, como um todo, ainda possa ser visto dessa forma. Mais uma vez reforçamos que a comunicação tem uma função estratégica e é um elemento crucial na construção de uma imagem sustentada e envolvente junto do futuro talento.

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