Uma joia de perder a cabeça: Colar de diamantes raros com ligações a Maria Antonieta atinge 4,5 milhões de euros em leilão

Uma peça rara e histórica do século XVIII, composta por cerca de 300 quilates de diamantes de talhe antigo, foi vendida em Genebra por 4,5 milhões de euros, ultrapassando significativamente as expectativas. O colar, que poderá ter uma ligação indireta ao escândalo que afetou a reputação da rainha Maria Antonieta, foi leiloado pela Sotheby’s na sua venda intitulada “Royal and Noble”.

Este colar, com aproximadamente 500 diamantes talhados em brilhos antigos, era propriedade da alta aristocracia europeia e terá sido usado em cerimónias de coroação. A peça tinha sido inicialmente avaliada entre €1,7 milhões e €2,6 milhões, mas o valor final excedeu largamente estas estimativas. Segundo Andres White Correal, especialista em joalharia da Sotheby’s, o ambiente durante o leilão foi “elétrico”. O colar foi arrematado por uma compradora anónima.

“Há claramente um mercado de nicho para joias históricas com uma proveniência fabulosa,” afirmou Correal, explicando que o interesse vai além do objeto em si, abrangendo toda a história associada à peça.

A origem dos diamantes deste colar é atribuída às minas de Golconda, na Índia, conhecidas pela sua clareza excepcional e pela raridade das pedras ali extraídas. As minas de Golconda, entretanto encerradas há mais de dois séculos, forneceram pedras famosas pelo seu brilho e qualidade. Na década de 1930, a sexta marquesa de Anglesey foi fotografada com o colar, numa imagem icónica capturada por Cecil Beaton, que realça o glamour e estilo da época. “Nunca pensariam que ela estava a usar uma joia do século XVIII,” acrescentou Correal, chefe das vendas “Royal and Noble” da Sotheby’s.

A controvérsia da “Affaire du Collier”

A ligação deste colar à rainha Maria Antonieta é envolta em mistério e lendas não confirmadas, com rumores de que algumas pedras poderiam ter sido associadas ao escândalo da “Affaire du Collier”, um episódio que afetou a reputação da monarquia francesa na véspera da Revolução Francesa.

A história começa quando o rei Luís XV encomendou um colar extravagante, avaliado em cerca de €16,45 milhões em valores atuais, para a sua amante, Madame du Barry. Contudo, Luís XV morreu antes de concluir a compra, deixando os joalheiros Charles Auguste Böhmer e Paul Bassenge em dificuldades financeiras. Os artesãos tentaram então vender o colar ao sucessor, Luís XVI, mas a rainha Maria Antonieta recusou a peça.

Em 1784, Jeanne de La Motte, uma vigarista astuta, arquitetou um plano para enganar o cardeal de Rohan, um clérigo influente, fazendo-o acreditar que a rainha desejava secretamente o colar. Jeanne de La Motte falsificou cartas e contratou uma mulher para se fazer passar pela rainha, induzindo o cardeal a comprar o colar em nome de Maria Antonieta.

Depois de obter a joia, Jeanne de La Motte desfez o colar, vendendo os diamantes no mercado negro em Londres. Quando os pagamentos nunca foram efetuados, os joalheiros confrontaram a própria rainha, que desconhecia por completo a situação. Seguiram-se detenções e julgamentos: Jeanne de La Motte foi presa, o cardeal de Rohan foi absolvido, e Maria Antonieta foi exonerada de qualquer envolvimento. Contudo, apesar da sua inocência, o episódio afetou irremediavelmente a sua reputação e aumentou o descontentamento popular contra a monarquia, contribuindo para os eventos que culminariam na Revolução Francesa.

A venda deste colar raro, com o seu passado lendário e ligação a figuras históricas, evidencia o fascínio contínuo por peças que carregam consigo um pedaço da história, sendo que as joias antigas, especialmente com uma história rica, continuam a atrair a atenção e o interesse dos colecionadores em todo o mundo.

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