Uma em cada quatro pessoas adultas que cresceu num agregado com uma má situação financeira é hoje pobre

A escolaridade do pai é um dos fatores com impacto substancial na situação de pobreza dos filhos quando adultos, apontou esta terça-feira o relatório “Portugal e o Elevador Social: Nascer pobre é uma fatalidade?”, da Fundação “la Caixa”, BPI e Nova SBE. A situação financeira do agregado familiar é determinante: uma em cada quatro pessoas que cresceu num agregado com má situação financeira é pobre. Mais: um em cada três adultos cuja família não consegue satisfazer as suas necessidades de material escola aos 14 anos, é hoje pobre; já nas famílias que não conseguiam garantir uma refeição proteica diária enfrentam uma taxa de pobreza de 22%, o dobro da verificada nas restantes famílias (10%). “Adultos que viviam em agregados com privação na satisfação de necessidade escolares e alimentares têm taxas de pobreza mais de duas vezes mais altas do que aqueles sem privação”, revelaram os investigadores.

O estudo referiu ainda que as pessoas cujo pai completou apenas o ensino básico são duas vezes mais afetadas pela pobreza do que aquelas que o pai completou o ensino secundário. Entre os adultos cujo pai tenha o ensino básico, apenas 20% completam o ensino superior, uma percentagem que sobe para 58,5 e 75,6% para adultos com pais com ensino secundário ou superior.

Assim, “ter um pai com ensino superior quase quadruplica a probabilidade de um adulto ter ensino superior”. O estudo apontou ainda que um em cada quatro adultos que, aos 14 anos, tinham um pai desempregado é pobre, o que sugere que “a situação laboral dos pais é determinante para a situação de pobreza dos filhos quanto atingem a idade adulta”. A profissão dos pais é igualmente relevante: filhos de agricultores e de trabalhadores não qualificados têm uma taxa de risco de pobreza três vezes maior do que os filhos de especialistas das atividades intelectuais (22 e 7%, respetivamente).

O agregado familiar é igualmente importante: os adultos oriundos de famílias monoparentais têm uma probabilidade de 20% de serem pobres. Para os adultos que, aos 14 anos, vivem em famílias numerosas, a probabilidade cresce para 23%. Já os adultos que não viviam com o pai aos 14 anos têm uma taxa de pobreza de 17%, que aumenta para 23% quando não tinham contacto com o pai.

Para finalizar, Portugal, de acordo com os especialistas, “não há evidência de que a transmissão intergeracional de pobreza esteja a diminuir”: as gerações nascidas nas décadas de 60, 70 e 80 em bora situação financeira tinham uma taxa de pobreza entre 11 e 13%; já os adultos que viviam em agregados com má situação financeira, as taxas de pobreza variam entre 22 e 24%, ou seja, sistematicamente entre 11 e 12 pontos percentuais.