Um ‘Túnel da Mancha’ no Mediterrâneo? Conheça o projeto de mais de 6 mil milhões de euros ‘às portas’ de Portugal

De Madrid a Casablanca, são nove horas de viagem, isto sem necessitar de pisar num aeroporto, mas com necessidade de apanhar um barco: atualmente, os voos entre a capital espanhola e a cidade marroquina de Tânger, uma porta de entrada estratégica entre a África e a Europa desde os tempos fenícios, demoram uma hora e meia. E é esta curta distância que justifica os esforços renovados para construir uma ligação ferroviária entre o sul da Europa e o norte de África, reduzindo a viagem para 5h30 – isto a tempo do Campeonato do Mundo da FIFA, em 2030, que vai decorrer também em Portugal.

O projeto contempla um túnel subaquático, proposto entre Marrocos e Espanha, que seria o primeiro a ligar os dois continentes. Nas últimas décadas, foram apresentadas diversas versões da ideia, mas a última proposta, revela a revista ‘Newsweek’, está a ganhar força, depois de as autoridades marroquinas terem anunciado este mês que iriam lançar estudos oficiais para aferir a viabilidade do projeto.

O túnel subaquático, de 27,3 quilómetros, sob o Estreito de Gibraltar, iria ligar as cidades de Punta Paloma (Espanha) e Malabata (Marrocos) – parte da proposta pede a ligação com as redes ferroviárias maiores de ambos os países para que os passageiros possam continuar as suas viagens em ambos os continentes. Marrocos, em 2018, tornou-se o primeiro país africano a abrir uma rede ferroviária de alta velocidade.

“Estamos a avançar com estudos sobre este importante projeto para os países e para as relações Europa-África”, salienta Raquel Sánchez, ministra da Agenda de Transportes, Mobilidade e Urbana da Espanha, em conferência de imprensa com seu homólogo marroquino há um ano.

Desde então, ambos os países envolveram-se em conversações de alto nível sobre a revitalização do projeto, com funcionários do Governo a realizar múltiplas reuniões e a Espanha já a atribuir fundos para estudar a logística.

Essa logística é significativa. O projeto envolveria a construção de dois túneis subaquáticos de via única, com 27 quilómetros de extensão, que chegariam a 472,4 metros abaixo do nível do mar – apresentaria uma inclinação máxima de 3%. O Estreito de Gibraltar, que fica numa grande falha sísmica, atinge quase 900 metros no seu ponto mais profundo.

Se concretizada, a ligação ferroviária facilitaria a movimentação de até 12,8 milhões de passageiros e outros 13 milhões de toneladas de carga anualmente, de acordo com projeções da Sociedade Espanhola de Estudos de Comunicação Fixa através do Estreito de Gibraltar (SECEGSA). “Estamos, portanto, a iniciar uma nova etapa no relançamento do Projeto de Ligação Fixa através do Estreito de Gibraltar, que iniciámos em 1981”, reforça Sánchez.

O projeto ganhou um renovado sentido de urgência depois de Portugal, Espanha e Marrocos terem vencido a candidatura conjunta para o Campeonato do Mundo FIFA de 2030, em outubro passado. O Governo espanhol destinou recentemente mais de 2,3 milhões de euros para investigação relacionada com o projeto, marcando o investimento mais significativo no seu desenvolvimento desde 1981.

Não há estimativas oficiais de custo para o túnel, mas algumas apontam para custos superiores a 6 mil milhões de euros.

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