Diáspora: “Um bom gestor tem de ter uma boa dose de criatividade”, diz responsável da BlackRock em Portugal

André Themudo é responsável pelo desenvolvimento de negócio da BlackRock em Portugal, Espanha e Andorra. Antes de ingressar na BlackRock em 2011, André Themudo trabalhou no departamento de Estratégia do Banco Espírito Santo e na Logoplaste e, em 2008, trabalhou na Fidelity Investments em Madrid. Tem mais de 13 anos de experiência de trabalho na área de Gestão de Activos, Sector Bancário e Finanças Corporativas. André Themudo é licenciado em Economia pela Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, tendo realizado um semestre na Faculdade de Economia Aplicada de Antuérpia, na Bélgica. É também mestre em Finanças pela Escola de Negócios INDEG/ISCTE, em Lisboa. É membro do Conselho da Diáspora Portuguesa desde Dezembro de 2022.

O que diz ANDRÉ…

Para o gestor é fundamental tentar antecipar necessidades futuras e confiar a 100% na equipa, dando autonomia e responsabilidade.

Como surgiu o desafio de trabalhar para a BlackRock em Espanha?
Por uma grande coincidência que começa três anos antes. Em 2008, integrei a equipa de Vendas de outra grande gestora americana, em Madrid. Essa foi a minha primeira experiência profissional fora de Portugal. Na altura, o grupo de portugueses em Madrid era já bastante grande e era frequente combinarmos jantares. Num desses encontros estava um português que trabalhava na BlackRock e estivemos à conversa uma vez que éramos, na altura, concorrentes. Eu, no fim desse ano, voltei para Lisboa, mudei de empresa e passados mais de dois anos ele ligou-me e disse-me que a BlackRock estava à procura de alguém com alguma experiência e que falasse espanhol. Candidatei-me de imediato e o processo levou uns oito meses até se materializar na minha entrada na BlackRock e no meu regresso a Madrid.

Aceitou de imediato? Porquê?
Aceitei. Houve várias razões para a mudança, mas nenhuma relacionada com o trabalho que tinha na altura e que adorava. O primeiro factor foi voltar a uma gestora de activos com dimensão e projecção internacional, o segundo foi voltar a um ambiente mais cosmopolita e Madrid pareceu-me uma boa combinação. 

Quais as suas principais funções?
Actualmente, sou o Responsável pelos segmentos de Wealth e Gestoras de Activos em Portugal, Espanha e Andorra. O que a minha equipa e eu fazemos é desenvolver relações com a banca privada, de retalho, digital, assim como com gestoras de patrimónios e de activos, Family Offices ou plataformas de distribuição nos três países. Em Portugal, concretamente, sou o responsável por todo o negócio da BlackRock no país.

O que mais o fascina na indústria em que trabalha?
O propósito para o qual trabalhamos na BlackRock. Contribuir para que cada vez mais pessoas obtenham uma melhor saúde financeira. Uma vez que todos os investimentos que fazemos na BlackRock são feitos em nome dos nossos clientes e tendo em conta que esses investimentos têm objectivos de longo prazo, como a reforma, acho que não há nada melhor que poder contribuir para que, quem investe connosco, esteja mais bem preparado e possa viver uma reforma digna. Outro factor importante é poder contribuir, de maneira activa, nas comunidades em que operamos. Em Portugal, por exemplo, colaboramos com instituições como a Inspiring Girls. Uma instituição que ajudamos na promoção do seu clube financeiro com o objectivo de fomentar uma maior literacia financeira em jovens mulheres, com idades entre os 14 e 18 anos. E, por último, poder contribuir para uma democratização do investimento que, muitas vezes, ainda é tido como algo pouco acessível.

É em Espanha que passa grande parte do tempo de trabalho? Como é o seu dia-a-dia?
O meu tempo é dividido entre Espanha e Portugal e  o dia-a-dia é passado em grande parte a coordenar as iniciativas comerciais que temos com diferentes parceiros e que podem ir desde reuniões específicas de produto, a conferências de mercado com redes de distribuição. Outra parte importante é a coordenação interna, tanto com outros responsáveis europeus da BlackRock como com trainings de produto com gestores de fundos. Por último, em conjunto com a minha equipa, discutir a visão estratégica de cada um dos segmentos pelos quais sou responsável e os clientes de cada um.

Quais as principais diferenças ao nível da metodologia de trabalho que encontrou ao mudar-se para Espanha?
Exagerando de alguma maneira, mas depois de mais de 13 anos a trabalhar em Espanha, acho que aqui , genericamente, arrisca-se mais. Sendo respeitosos, os espanhóis tendem a ter menos burocracia, facilitando a tomada de decisões de maneira mais rápida.

O que é que Espanha lhe tem vindo a ensinar sobre Gestão de Pessoas?
O que sei sobre gestão de pessoas aprendi em Espanha, mas não acho que haja diferenças substanciais entre os dois países. 

Qual a sua filosofia de Gestão?
Não há uma filosofia propriamente dita, mas acho que um bom gestor tem de ter uma boa dose de criatividade, inconformismo, humildade e ambição. Eu tento equilibrar estas características da melhor maneira possível, mas, acima de tudo, acho fundamental tentar antecipar necessidades futuras e confiar a 100% na equipa, dando autonomia e responsabilidade.

Estando a viver longe de Portugal, como é que “mata saudades” do nosso País?
O longe é relativo porque estou a uma hora de avião e, por trabalho ou por lazer, acabo por ir praticamente todas as semanas a Portugal. Por outro lado, a comunidade de portugueses em Madrid é cada vez maior e é normal estarmos juntos nos tempos livres e, por último, já existem vários sítios onde é possível comer um bom pastel de nata.  

 

Esta entrevista está incluída na secção Diáspora na edição nº208, de julho, da Executive Digest. 
Esta secção procura conhecer gestores e empresários portugueses de referência em empresas no estrangeiro.
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