Ucrânia receia que Putin lance ataque a partir da Bielorrússia e Transnístria para obrigar a desviar tropas do Donbass

O coronel ucraniano na reserva, Mikhailo Prytula, emitiu um aviso nesta terça-feira sobre a possibilidade de um ataque iminente a partir da Bielorrússia, após a deslocação de pelo menos mil soldados para a região de Gomel, que faz fronteira com a Ucrânia. Embora este número de tropas seja insuficiente para uma invasão em larga escala, Prytula destacou que a rota de Gomel em direção a Zhytomyr, Berdychiv ou Kryzhopol já era considerada uma possível via de invasão antes mesmo do início do conflito em fevereiro de 2022.

Embora as tropas russas não tenham utilizado esta rota específica durante o início da invasão, Prytula teme que estas movimentações possam ser uma estratégia para desviar a atenção das forças ucranianas, potencialmente preparando um ataque duplo: um a partir do norte, via Bielorrússia, e outro do sudoeste, através da região da Transnístria.

Apesar da ameaça, Prytula reconhece que, neste momento, a probabilidade de tal ataque é reduzida. Com 1.100 soldados bielorrussos, é altamente improvável que uma incursão através da fronteira seja bem-sucedida. No entanto, esta movimentação poderia obrigar o Exército Ucraniano, liderado por Oleksandr Syrskyi, a deslocar divisões para essa zona, enfraquecendo outras áreas de defesa crítica.

A Improbabilidade da Participação Ativa da Bielorrússia

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), a possibilidade de a Bielorrússia se envolver diretamente no conflito é mínima. O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, enfrenta eleições presidenciais no início do próximo ano e parece pouco interessado em complicar a sua posição política, especialmente após as revoltas que quase abalaram o seu governo em 2021. Embora a oposição bielorrussa esteja fragmentada e enfraquecida, qualquer envolvimento militar direto na guerra seria extremamente impopular e poderia desviar os esforços das forças armadas da sua principal função atual: a proteção do regime.

Preocupações com Chernobyl e as Implicações para a Ucrânia

O governo ucraniano não está a subestimar a ameaça bielorrussa, especialmente após os recentes exercícios militares em Gomel. Kiev emitiu um aviso firme a Minsk, declarando que qualquer ação que comprometa a integridade territorial da Ucrânia será enfrentada com uma resposta severa. A proximidade destes exercícios à central nuclear de Chernobyl, localizada perto da fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia, é uma preocupação adicional para o governo de Zelensky. As autoridades ucranianas alertaram publicamente para os perigos de atividades militares numa zona tão próxima à área de segurança radioativa, recordando os riscos já enfrentados durante as primeiras semanas da ofensiva russa.

O ‘Fantasma’ de Um Ataque a Partir da Transnístria

Embora Prytula tenha levantado a hipótese de um ataque vindo da Transnístria, uma região separatista da Moldávia sob controle pró-russo, a realidade é que tal cenário é pouco viável. Transnístria, que se encontra numa situação semelhante à das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk antes da guerra, não possui reconhecimento internacional e está mal equipada para uma ofensiva dessa magnitude. Além disso, a região depende do Mar Negro para receber reforços, uma área onde a marinha russa tem enfrentado dificuldades para manter o controle. A possibilidade de transportar e mobilizar 10.000 a 20.000 soldados através desta rota é considerada, mesmo sob os padrões militares russos, uma operação suicida.

Jogos de Desinformação e a Estratégia Russa

O objetivo principal destes movimentos militares parece ser desviar a atenção do alto comando ucraniano, criando falsos alarmes para obrigar o Exército Ucraniano a redistribuir as suas forças, especialmente à medida que a situação no Donbass se agrava. A Rússia, com as suas tropas a cerca de dez quilómetros de Pokrovsk, um ponto vital para as comunicações e logística na região de Donetsk, pode estar a tentar enfraquecer as defesas ucranianas através de manobras de distração.

A perda de Pokrovsk representaria um golpe severo para a Ucrânia, comprometendo várias linhas de abastecimento crucial. Este cenário levanta preocupações sobre a capacidade do general Syrskyi de defender todas as frentes, com outras localidades importantes como Chasiv Yar, Toretsk, Vuhledar e Niu York também sob ameaça.

Confrontos na Frente de Kursk e Implicações Futuras

Apesar da pressão em várias frentes, a Ucrânia tem conseguido manter posições na região de Kursk, onde as suas tropas controlam cerca de 1.500 quilómetros quadrados. No entanto, os combates continuam intensos, e embora a Rússia tenha conseguido conter o avanço ucraniano em alguns pontos, ainda não recuperou terreno significativo.

A situação atual coloca ambos os países numa posição arriscada: a Ucrânia procura aliviar a pressão em Donetsk abrindo novos frontes, enquanto a Rússia tenta concentrar forças para retomar a iniciativa. Se a estratégia ucraniana em Kursk acabar por provocar a queda de Pokrovsk, a situação poderá piorar consideravelmente para Kiev. Contudo, se a Rússia falhar em Donetsk, Moscovo poderá enfrentar consequências desastrosas em ambos os lados do conflito.

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