Ucrânia protagoniza contraofensiva mais rápida desde a II Guerra Mundial. Rússia está descoordenada e sem motivação
Nos últimos dias, a Ucrânia tem conseguido fazer avanços significativos, especialmente na frente de Kharkiv, com as próprias forças russas a admitir que foram assoberbadas pelas tropas de Kiev e forçadas a recuar quase até à fronteira com a cidade de Belgorod, na Rússia.
A contraofensiva ucraniana tem sido tão bem-sucedida que está a ser considerada como a mais rápida desde os tempos da II Guerra Mundial. Relata o jornal ‘El Confidencial’ que os ganhos da Ucrânia têm sido apoiados por um serviço de informações forte, mas grande parte do sucesso, bem como a velocidade a que a contraofensiva se tem desenrolado, muito deve a fracassos das tropas russas.
Os contratempos sofridos pelas forças de Moscovo aconteceram por falhas ao nível do planeamento militar, e devido à falta de preparação do comando russo para fazer frente a uma resistência maior do que inicialmente tinha sido esperado.
A Rússia esperava que o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fugisse do país aquando da invasão, mas isso não aconteceu, mantendo-se firme a liderança da Ucrânia. Vladimir Putin, conta o mesmo periódico, esperava que a operação na Ucrânia decorreria tão fluidamente como a invasão da Crimeia em 2014.
Também contrariamente ao que aconteceu há oito anos, a comunidade internacional reagiu veementemente à agressão russa, com o apoio total à Ucrânia, quer na frente política, quer no que toca ao envio de dinheiro e armas para fortalecer a resistência das forças ucranianas.
Talvez essas reações estivessem contempladas no plano de guerra de Putin, mas é muito provável que fossem encaradas como cenários remotos. Face a esses contratempos, Moscovo teve de improvisar nos teatros de guerra na Ucrânia, e estará aí mais uma vulnerabilidade do seu esforço bélico.
O desenvolvimento imprevisível da guerra deixou os comandos militares sem orientação, uma descoordenação que se compacta com as falhas ao nível da comunicação com os centros de decisão estratégica no Kremlin.
Uma guerra que Putin esperava durar apenas algumas semanas conta já com mais de 200 dias, com o lado russo a sofrer fortes perdas de militares e de equipamento, que tem tido dificuldade sem substituir.
Além disso, são vários os relatos que indicam que muitos batalhões russos são compostos por voluntários e soldados sem grande treino, que estão mal equipados e que estão manifestamente desmoralizados pela percecionada falta de apoio.
Do lado ucraniano, a estratégia militar tem evidenciado a influência da NATO, algo que não é novo e que já se manifesta há vários anos. Essa marca é evidenciada na liberdade de iniciativa dada aos líderes de pequenas unidades, o que confere uma maior, e mais decisiva, flexibilidade às tropas da Ucrânia, comparativamente à rigidez das forças russas.
O armamento enviado pelo Ocidente tem também sido crucial para a resistência e avanço da Ucrânia, designadamente através do uso dos lança-foguetes HIMARS, enviados pelos Estados Unidos.
O fortalecimento das defesas anti-aéreas permitiu à tropas ucranianas retirar à Rússia um dos seus maiores trunfos: a Força Aérea.
Não de somenos importância, a moral das forças da Ucrânia continua alta, apesar de grandes perdas sofrida às mãos da Rússia, um elemento essencial para manter a resistência e conseguir progredir no campo de batalha, movidas pelo desejo de sobrevivência e defesa do país.
Do outro lado das trincheiras, as tropas russas movem-se sob interesses e objetivos que nem sempre conhecem, o que, além de gerar desorientação, cria um sentimento de alienação e não incute grande motivação, depois de vários soldados russos já terem afirmado que se sentem abandonados pelo seu próprio governo.
Num cenário como este, é expectável que os ucranianos continuem a avançar e a reconquistar terras perdidas para as forças invasoras, e é possível que Zelensky e o seu comando militar tenham agora os olhos postos em Donetsk e Mariupol, depois dos ganhos conseguidos em Kharkiv durante este fim de semana.