Ucrânia prepara-se para uma longa guerra contra Moscovo: mas estará o Ocidente preparado?

Mais de 21 meses desde o início do maior conflito na Europa desde a II Guerra Mundial, os combates na Ucrânia continuam sem fim à vista e nenhum dos lados consegue ganhar supremacia nos campos de batalha – 2023 não trouxe a expulsão dos soldados de Vladimir Putin das áreas ocupadas, notou Oleksii Tilnenko, em declarações à agência ‘Reuters’.

O responsável ucraniano, que fugiu de Kherson no ano passado e vive em Kiev, onde ajuda pessoas deslocadas internamente, vê a sua cidade natal ainda a ser atingida por bombardeamentos e uma linha da frente sem mexidas. Pior: o Kremlin está a correr para reconstruir as suas forças armadas e assim intensificar o seu esforço de guerra.

“A esperança é que o Ocidente possa de alguma forma mobilizar-se, de alguma forma estimular a sua indústria de defesa para renovar equipamento e produzir o que é necessário para defender os nossos cidadãos comuns”, garantiu Tilnenko, de 36 anos.

Prestes a entrar no segundo inverno desta invasão em grande escala, os soldados ucranianos vivem em trincheiras geladas e reconhecem que estão exaustos de combater uma superpotência rica em recursos. Os líderes ucranianos sabem que devem garantir a ajuda militar ocidental para continuarem o conflito – o que será mais difícil agora que a guerra entre Israel e a Palestina desvia a atenção mundial.

As tropas russas ocupam cerca de 17,5% da Ucrânia e estão novamente na ofensiva no leste, depois de terem travado em grande parte a contraofensiva ucraniana, que falhou em atravessar as extensas linhas defensivas no sul e no leste. As perspetivas em Kiev são sombrias, em contraste com o estado de espírito de há um ano, quando as tropas ucranianas desafiaram as expectativas ao derrotar os russos em redor de Kiev antes de recuperar territórios no nordeste e sul, incluindo Kherson.

Os ataques com drones e mísseis fazem agora parte da vida diária. Na cidade de Kharkiv, no nordeste do país, estão a ser construídas escolas subterrâneas para que as crianças possam estudar sem risco de sofrer um ataque aéreo.

Oleksii Tilnenko considerou que a ajuda militar ocidental deveria ter chegado mais rapidamente, em volumes maiores e de forma menos fragmentada: o poder aéreo vital para a contraofensiva está em falta e os prometidos caças F-16 não foram entregues.

O que se pode esperar para 2024?

De acordo com os analistas militares, Vladimir Putin poderá aproveitar o abrandamento dos combates para construir mais defesas e regenerar o exército russo para um novo ataque – o presidente russo deverá intensificar ainda mais o esforço de guerra da Rússia uma vez que tem assegurado um novo mandato de seis anos no Kremlin após as eleições presidenciais de março próximo.

De acordo com Tilnenko, a fadiga da guerra é um facto da vida. “Todos estão cansados. Os soldados estão cansados, as vítimas estão cansadas, os deslocados internos estão cansados. Mas não há saída. Não podemos simplesmente desistir e dizer ‘OK, tudo bem’. No mínimo, muitas pessoas morreram. Esperamos que fique mais fácil. E veremos como será.”

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