Ucrânia não está preparada para a esperada ofensiva russa, acusam responsáveis: atrasos na construção das fortificações defensivas preocupam

Na Ucrânia existem receios de que o exército e as autoridades locais não estejam a trabalhar com a rapidez suficiente para construir as fortificações defensivas suficientemente poderosas para resistir a uma esperada ofensiva da Rússia no nordeste e sudeste do país.

“Estávamos a alertar, desde o verão passado, que é preciso construir fortificações defensivas em escala industrial, reunindo os ministros apropriados e as administrações militares locais para construir linhas defensivas rapidamente e torná-las extremamente fortes”, lembrou o deputado da oposição Rostyslav Pavlenko, em declarações ao jornal ‘POLITICO’.

No outono, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o primeiro-ministro Denys Shmyhal reconheceram que as antigas estruturas defensivas precisariam de ser renovadas e serem adicionadas novas fortificações na linha da frente na sequência da desanimadora contraofensiva de verão da Ucrânia, que rendeu apenas ganhos territoriais marginais após meses de combates.

A contraofensiva da Ucrânia falhou em parte em corresponder às esperanças porque as forças russas estavam muito bem entrincheiradas e o exército ucraniano não conseguiu romper três linhas de defesas formidáveis ​​e bem concebidas.

Os analistas militares do Royal United Services Institute (RUSI), do Reino Unido, alertaram, em maio de 2023, para a possibilidade, uma vez que a “engenharia provou ser um dos ramos mais fortes das forças armadas russas. As defesas agora construídas, compostas por obstáculos complexos e fortificações de campo, representarão um grande desafio tático para as operações ofensivas ucranianas”.

Agora, são os ucranianos que enfrentam a possibilidade de uma ofensiva russa concertada e a dúvida é se as linhas defensivas são tão capazes como as dos russos. “Finalmente começaram a construí-las. Mas é tarde. Só começaram realmente no mês passado”, acusou Ivanna Klympush-Tsintsadze, deputada da oposição e ex-vice-primeira-ministra na administração do ex-presidente Petro Poroshenko.

“Começámos a construir e a reformar fortificações de defesa apenas a 1 de março”, indicou Oleh Syniehubov, governador do oblast de Kharkiv, sem avançar quando estariam prontas. “As fortificações têm um propósito complexo e consistirão em barreiras capazes de impedir blindados e campos minados”, sustentou. De acordo com um ex-comandante de campo, a preocupação é o facto de a Ucrânia não ter minas suficientes para equipar as novas fortificações, nem sequer soldados mobilizados suficientes para as equipar adequadamente.

Em novembro último, Zelensky discutiu com os chefes do exército a necessidade de uma expansão significativa das fortificações, mas foi só em fevereiro que Shmyhal anunciou 524 milhões de dólares em financiamento para a sua construção, acrescido de 280 milhões adicionais de outras fontes. “Agora o dinheiro está disponível”, referiu Pavlenko. “Mas agora é uma questão de colocar o dinheiro em betão”, apontou, que não escondeu o desapontamento com o ritmo como com os materiais utilizados numa inspeção recente.

De acordo com Pavlenko, a Ucrânia precisa de construir fortes fortificações defensivas porque a Rússia está agora a usar poderosas bombas planadoras que estão a causar imensos danos nas linhas da frente e alguns temem alterar o equilíbrio militar. “Precisaremos de fortificações muito profundas para resistir a essas bombas aéreas guiadas”, sustentou o responsável ucraniano. “Os russos fortalecem sempre e onde for possível, independentemente de estarem ou não na ofensiva, e essa é uma lógica de guerra sólida”, finalizou.

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