Ucrânia: Aumento da presença naval russa no estreito de Gibraltar motiva vigilância apertada das autoridades em Portugal e Espanha
Nos últimos anos, a guerra na Ucrânia tem gerado repercussões em várias frentes e, no que diz respeito ao tráfego naval, as águas ao redor da Península Ibérica tornaram-se palco de um aumento significativo da presença militar russa, especialmente nos últimos meses. Tanto Portugal como Espanha têm vindo a monitorizar e a acompanhar de perto o crescente número de navios de guerra e submarinos russos que transitam pelas suas Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) e águas internacionais, em direção ao Mediterrâneo.
Desde o início da invasão da Ucrânia, o estreito de Gibraltar, uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo, tem registado um aumento de 50% no tráfego de embarcações russas em 2024, comparativamente ao ano anterior. Segundo fontes do Ministério da Defesa espanhol, citado pelo El País, muitos destes navios partem dos portos de Kaliningrado e São Petersburgo, no Báltico, e seguem para a base naval russa de Tartus, na Síria, com material bélico e armamento a bordo. Embora não tenham sido fornecidos números exatos por questões de segurança, fontes da Marinha Espanhola mencionam “muitas centenas” de embarcações envolvidas.
A rota tradicional da Rússia através do Mar Negro tornou-se cada vez mais difícil desde o início do conflito, devido ao controlo rigoroso exercido pela Turquia no estreito de Bósforo, aliado à NATO. Com as forças ucranianas a danificarem consideravelmente a frota russa no Mar Negro, Moscovo tem desviado os seus navios de guerra para rotas alternativas, passando pelas águas atlânticas e mediterrâneas, incluindo o estreito de Gibraltar e as zonas marítimas de Portugal e Espanha.
Segundo o Ministério da Defesa espanhol, a presença naval russa é uma consequência direta da guerra, e a Espanha intensificou as operações de monitorização, tendo recentemente mobilizado fragatas como a Blas de Lezo e a Canarias para acompanhar o submarino Novorossiyk em setembro de 2024. Estas fragatas monitorizam o trânsito dos navios russos desde as águas espanholas até à sua saída para o Mediterrâneo, com o apoio de forças navais portuguesas e francesas.
Vigilância em Portugal: submarinos e navios russos
Também em Portugal, a Marinha tem estado atenta ao aumento da presença naval russa, monitorizando várias embarcações que transitam pela ZEE nacional. No início de setembro de 2024, a Marinha Portuguesa comunicou a escolta de um “submarino russo de última geração da classe Varshavyanka”, equipado com avançada tecnologia de mísseis, que navegava pela costa portuguesa acompanhado pelo rebocador de alto-mar russo Evgeny Churov. Esta operação, coordenada pelo Centro de Operações Marítimas de Portugal, foi conduzida pela corveta NRP Setúbal, e terminou quando as embarcações seguiram em direção ao Mediterrâneo.
Em comunicado, a Marinha Portuguesa destacou que estas ações de vigilância asseguram a defesa e segurança dos espaços marítimos sob soberania nacional, enquanto contribuem para os compromissos internacionais no quadro da NATO. A operação foi uma de várias que a Marinha e a Força Aérea têm realizado, como parte das suas missões de monitorização e fiscalização de atividades de navios estrangeiros.
Há cerca de um mês, durante uma operação de fiscalização de pesca, a Força Aérea Portuguesa também detetou a passagem do navio reabastecedor russo Vice-Admiral Paromov e do submarino Novorossiyk, ambos em trânsito por águas portuguesas. Nessa mesma missão, foi avistado o navio-escola russo Kruzenshtern, seguindo para o Mediterrâneo. No total, a Força Aérea já realizou mais de 60 horas de vigilância a navios estrangeiros este ano, num total de 17 missões.
Operações de vigilância em águas internacionais
As operações de monitorização realizadas por Portugal e Espanha fazem parte de um esforço conjunto no âmbito da NATO para garantir a segurança marítima nas águas atlânticas e mediterrâneas. O comandante da fragata espanhola Santa María, Paco García Flores, explicou que estas operações garantem o cumprimento do “direito de passagem inocente” pelos navios russos, um princípio do direito marítimo internacional que permite o trânsito rápido e ininterrupto por águas territoriais, desde que não comprometa a paz ou segurança do Estado costeiro.
Tanto a Marinha Portuguesa como a Espanhola, em colaboração com as forças da NATO, garantem que os navios russos permaneçam em movimento contínuo e não realizem manobras ou paragens que possam comprometer a segurança regional. O comandante Jaime Indalecio Lamas Tizón, da fragata Atalaya, sublinhou que a presença russa é particularmente notória, embora todos os navios fora da aliança NATO sejam monitorizados de forma semelhante.