Ucrânia apela a soldados norte-coreanos para se renderem. Kiev garante segurança, alimentação e cuidados médicos

A Ucrânia lançou um apelo direto aos soldados norte-coreanos que possam estar presentes na linha de combate, incentivando-os a renderem-se em troca de garantias de segurança, alimentação e cuidados médicos adequados. A mensagem, parte do projeto ucraniano “I Want to Live” (Quero Viver), foi transmitida num vídeo em coreano, depois de relatos indicarem a chegada das primeiras unidades militares norte-coreanas à região fronteiriça russa de Kursk.

No vídeo, partilhado nas redes ucranianas, são mostrados campos de prisioneiros de guerra na Ucrânia, onde soldados capturados recebem assistência conforme as convenções de Genebra. A iniciativa garante que os militares que se rendam estarão em segurança, com alimentação e cuidados médicos providenciados pelo governo ucraniano. “Não importa quantos soldados Pyongyang envie para ajudar a Rússia, nem o destino — os campos de prisioneiros de guerra ucranianos estão preparados para receber soldados de qualquer nacionalidade, religião e convicção ideológica”, afirma a mensagem.

O apelo surge na sequência de informações divulgadas pela Direção Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, que relatou a chegada das primeiras tropas norte-coreanas ao território russo, mais precisamente na zona de Kursk, próxima à linha de frente do conflito.

A iniciativa “I Want to Live” e o incentivo à rendição

O programa “I Want to Live” foi criado pela Direção Principal de Inteligência da Ucrânia em setembro de 2022, com o objetivo de facilitar a rendição de soldados russos que preferissem entregar-se ao exército ucraniano em vez de continuar a combater. Através desta linha de ajuda, os soldados podem comunicar a sua intenção de rendição e, em muitos casos, evitar retaliações ao serem registados como prisioneiros capturados, em vez de desertores.

De acordo com Andrii Yusov, representante da Inteligência de Defesa ucraniana, até junho deste ano, mais de 300 militares russos já haviam se rendido voluntariamente usando esta linha direta. “O número de soldados dispostos a render-se aumentou. Só no âmbito deste projeto, mais de 300 ocupantes russos já se renderam à custódia ucraniana”, revelou Yusov. Além disso, o responsável explicou que alguns prisioneiros manifestaram desejo de não ser trocados, e até mesmo de se juntar às forças de defesa ucranianas.

O projeto acumulou mais de 35 mil pedidos, em sua maioria de militares russos no ativo, ou de potenciais recrutas que temem ser enviados para a guerra. Estes soldados, segundo Yusov, desejam regressar ao seu país após o fim das hostilidades, mas preferem evitar problemas legais, optando por uma rendição oficial e registada.

Embora a linha “I Want to Live” ofereça várias formas de comunicação — incluindo um site, uma linha direta e um chatbot mantido pelo Ministério da Defesa da Ucrânia — o acesso direto para soldados norte-coreanos pode ser um desafio. Na Coreia do Norte, o acesso à internet é rigorosamente limitado e os poucos dispositivos eletrónicos que os cidadãos têm acesso estão sob vigilância e são restritos a conteúdos aprovados pelo Estado. Mesmo na Rússia, o site do projeto foi banido pouco após o seu lançamento, mas continua acessível com o uso de VPNs ou através de outras plataformas de comunicação seguras.

O vídeo em coreano dirige-se especificamente aos soldados de Pyongyang, com uma mensagem clara: “Vocês não devem morrer sem sentido numa terra estrangeira. Não devem repetir o destino de centenas de milhares de soldados russos que nunca mais voltarão para casa.”

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