‘Truque’ para combater o acne torna-se viral no TikTok. Especialistas alertam que pode aumentar risco de cancro de pele

As redes sociais têm sido palco de inúmeras dicas duvidosas, mas uma nova tendência de skincare no TikTok está a causar preocupação entre especialistas. Alguns criadores de conteúdo sugerem que apanhar um escaldão ou passar tempo num solário pode ajudar a combater a acne, mas esta abordagem não só é ineficaz como pode representar um risco sério para a saúde, alerta um artigo publicado por Karl Lawrence, Research Fellow, e Wisam Alwan, Clinical Research Fellow em Dermatologia, ambos do King’s College London, na plataforma The Conversation.

Apesar de a exposição ao sol e à radiação ultravioleta (UV) ter sido usada há muito para tratar algumas condições de pele, como psoríase e eczema, há pouca evidência de que a exposição aos raios UV seja eficaz no tratamento da acne. “Os riscos associados à exposição excessiva à radiação UV ultrapassam em muito qualquer benefício que se possa observar na aparência da pele,” advertem os autores.

A fototerapia é um procedimento médico que envolve a exposição da pele à luz solar ou radiação UV num ambiente controlado. Pode ser eficaz em casos de psoríase e eczema onde outras terapias falharam ou não são compatíveis. No entanto, a fototerapia é sempre realizada em ambiente clínico, com doses cuidadosamente controladas para minimizar os efeitos nocivos da exposição UV. São realizados testes prévios para reduzir o risco de queimaduras solares.

Em relação à acne, “há poucas evidências de que a exposição aos raios UV seja benéfica,” referem Lawrence e Alwan.

Uma investigação realizada em 2023, envolvendo 19.939 participantes, avaliou a exposição aos raios UV nos seis anos anteriores à inscrição no estudo. Os resultados sugeriram que a exposição prolongada a níveis baixos de UVB (aproximadamente uma hora por dia) estava associada a uma menor probabilidade de desenvolver acne moderada a grave em jovens adultos. No entanto, os especialistas destacam várias limitações: as doses de UV não foram medidas diretamente, baseando-se em cálculos de localização e dados meteorológicos. Além disso, o estudo não abordou os potenciais efeitos negativos da exposição prolongada ao sol.

Em experiências com células da pele humana, observou-se que os raios UVB poderiam eliminar a bactéria Propionibacterium acnes, associada ao desenvolvimento da acne. Porém, estes resultados não foram replicados em estudos com humanos, e as conclusões apontam que qualquer benefício é provavelmente insignificante e insuficiente para uso terapêutico, especialmente considerando os efeitos adversos da radiação UV.

Uma revisão de 2023 que analisou todos os estudos sobre exposição ao sol e acne realizados entre 1992 e 2022 concluiu que a exposição à radiação UV raramente melhora os sintomas da acne. Em alguns casos, pode até piorar a situação, uma vez que os raios UVB podem ativar células imunológicas que agravam a inflamação e aumentam a produção de sebo, um fator de risco conhecido para o desenvolvimento da acne.

Além da falta de eficácia no tratamento da acne, a exposição excessiva ao sol está associada a riscos bem documentados, como o aumento do risco de cancro da pele. Estudos mostram que apenas um episódio de escaldão grave na infância ou adolescência pode duplicar a probabilidade de desenvolver cancro de pele na vida adulta. “O risco aumenta com a frequência de queimaduras solares, devido aos danos significativos que a radiação UV causa no ADN das células cutâneas,” explicam os autores.

A exposição ao sol também contribui para o envelhecimento prematuro da pele, ao danificar o colagénio e a elastina, resultando em rugas e flacidez.

Para minimizar os riscos, Lawrence e Alwan recomendam as seguintes medidas quando se está exposto ao sol:

  • Utilizar protetor solar de largo espectro com um mínimo de SPF 30, reaplicando a cada duas horas ou após nadar ou transpirar.
  • Procurar sombra durante as horas de pico de exposição solar (normalmente entre as 10h e as 16h).
  • Usar roupas protetoras, como chapéus de aba larga e óculos de sol com proteção UV.
  • Tratamentos eficazes para a acne: Atualmente, os tratamentos mais eficazes para a acne incluem medicamentos disponíveis na farmácia ou prescritos pelo médico. Para casos mais graves, os antibióticos orais com efeito anti-inflamatório e o isotretinoína (um derivado sintético da vitamina A) são opções comuns. A isotretinoína é conhecida por reduzir a produção de sebo, as lesões da pele e as bactérias que causam a acne, sendo capaz de limpar 85% das lesões após quatro meses de tratamento. Apenas cerca de 25% dos pacientes necessitam de um segundo ciclo de tratamento.
    Apesar da sua eficácia, há preocupações com possíveis efeitos secundários, como alterações de humor. No entanto, um estudo recente com mais de 30.000 pacientes não encontrou ligação entre a isotretinoína e mudanças de humor, sugerindo que esses efeitos secundários são extremamente raros.

É importante sublinhar que quem toma medicação para a acne deve ter cuidado ao expor-se ao sol. Medicamentos como a isotretinoína e tetraciclinas (um tipo de antibiótico) podem aumentar a sensibilidade à luz, provocando maiores danos na pele quando exposta ao sol. Um estudo mostrou que entre 20 a 40% dos pacientes que tomavam tetraciclinas apresentavam fotosensibilidade. Por isso, usar protetor solar é crucial para quem está em tratamento.

Os autores Karl Lawrence e Wisam Alwan alertam que, apesar da tentação de experimentar alternativas vistas nas redes sociais, “é importante falar com um médico antes de tentar usar o sol ou um solário como tratamento para a acne.” Já existem opções seguras e eficazes para o tratamento da acne, e é essencial evitar soluções que possam trazer riscos adicionais para a saúde.

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