Trump a caminho da Casa Branca? Há um cenário real em que perde as eleições mas toma o poder na mesma. Saiba como pode acontecer

Em 2020, um presidente em exercício – rejeitado pelos eleitores americanos nas urnas – tentou obter um segundo mandato, mergulhando os EUA na confusão, no conflito e, no último suspiro, em violência. Como será em 2024? Pode repetir-se o cenário?

De acordo com o jornal ‘POLITICO’, que entrevistou dezenas de pessoas familiarizadas com o processo eleitoral, há um consenso claro: Trump não só poderá fazer uma segunda tentativa de anular as eleições, em caso de derrota, como também ele e os seus aliados já estão a preparar o terreno. “A ameaça mantém-se”, alertou Tim Heaphy, que liderou a investigação sobre a subversão eleitoral de Trump.

No entanto, 2024 não é 2020: o caminho para o ex-presidente é agora mais estreito, mas também mais extremo. Faltam a Trump algumas das ferramentas que ameaçou utilizar há quatro anos para derrubar a transferência de poder – hoje, os militares e o Departamento de Justiça respondem perante Joe Biden. Por outro lado, o candidato republicano precisa de aliados para reverter uma eventual derrota: anular a vitória de Kamala Harris exigiria uma enorme ajuda dos poderosos republicanos nas câmaras estaduais e no Congresso, alguns dos quais que o rejeitaram há quatro anos.

A primeira tentativa de Donald Trump, em 2020, estimulou uma ação real dos democratas no Congresso: as atualizações da Lei de Contagem Eleitoral visaram ligar o Congresso aos resultados certificados pelos governos estaduais, o que tornará, em teoria, mais difícil roubar uma eleição. Mas Trump já sabe como fracassou em anular os resultados há quatro anos – e com incentivos maiores: se perder, vai enfrentar uma avalanche de processos criminais que poderá durar a sua vida. Se vencer, é provável que desapareçam.

“Ninguém sabe exatamente qual será o ataque de Trump ao sistema eleitoral em 2024”, sublinhou o democrata membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Jamie Raskin. “O que fará ele desta vez?”

A resposta, segundo congressistas, investigadores do Congresso, agentes partidários, autoridades eleitorais e especialistas em direito constitucional, é esta:

— aprofundará a desconfiança nos resultados eleitorais ao fazer alegações infundadas ou hiperbólicas de fraude eleitoral generalizada e ao montar processos judiciais improváveis ​​que contestem votos suficientes para inverter o resultado em estados-chave.

– apoiar-se-á em funcionários amigáveis ​​do condado e do estado para resistirem à certificação dos resultados eleitorais – uma tarefa fútil que, no entanto, alimentaria uma campanha para pressionar os legisladores republicanos eleitos nas câmaras estaduais e no Congresso.

– apelará aos aliados nas legislaturas dos estados indecisos controlados pelo Partido Republicano para nomearem eleitores presidenciais “suplentes”.

— contará com os republicanos do Congresso para apoiar estes eleitores alternativos — ou pelo menos rejeitar os eleitores democratas — quando se reunirem para certificar o resultado.

— tentará garantir que Kamala Harris tenha negados os 270 votos no Colégio Eleitoral para se tornar presidente, enviando a eleição para a Câmara dos Representantes, onde os republicanos provavelmente terão os números para escolher Trump como o próximo presidente.

Já estão reunidos alguns dos ingredientes necessários para esta campanha: Donald Trump já embarcou numa missão clara de alimentar o máximo de incerteza possível sobre os resultados das eleições – afirmou que a única forma de perder para Harris é se os democratas fizerem batota, apesar de não haver provas de qualquer fraude significativa em 2020 ou a decorrer em 2024. Os seus aliados têm-se esforçado para amplificar a mensagem.

Muitos dos responsáveis que se colocaram no caminho do candidato republicano há quatro anos foram depostos ou reformaram-se, cedendo o poder a sucessores mais complacentes e alinhados com Trump. Entretanto, intensificaram-se as ameaças contra os funcionários eleitorais e os receios crescentes de agitação civil – potencialmente nos locais de votação, nas instalações de contagem de votos e nas cerimónias do Colégio Eleitoral – o que os detratores de Trump temem que possam reforçar qualquer campanha de subversão eleitoral.

É possível que Donald Trump e os seus aliados não façam um esforço sustentado para anular a sua derrota eleitoral. Uma vitória esmagadora de Kamala Harris tornaria mais difícil reunir os republicanos ao seu lado. No entanto, entre os especialistas consultados, há a convicção de que se Trump ganhar, ninguém espera um esforço comparável por parte dos democratas para subverter as eleições. Mas para Trump e os seus aliados têm uma premissa já garantida: na noite das eleições, seja qual for o resultado, sejam quantos votos faltem contar ou o que os conselheiros digam, Donald Trump vai declarar-se como vencedor das eleições de 5 de novembro.

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