Tropas da Coreia do Norte a combater com a Rússia são “alvos legítimos”, alerta o Pentágono

O Pentágono declarou que tropas norte-coreanas a lutar ao lado das Forças Armadas russas são consideradas “alvos legítimos” para ataques ucranianos. Esta posição surge num contexto de escalada no conflito, com a presença confirmada de milhares de soldados da Coreia do Norte no território russo.

Durante uma conferência de imprensa na quinta-feira, Sabrina Singh, porta-voz adjunta do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, afirmou que estas forças estrangeiras estão envolvidas no conflito e podem ser alvo de ações militares ucranianas. “Onde quer que estejam posicionadas, são absolutamente alvos legítimos, e esperamos plenamente que sejam envolvidas no combate”, declarou Singh.

No início da semana, o Pentágono informou que cerca de 11 mil soldados norte-coreanos foram destacados para a região russa de Kursk. Embora Singh não tenha confirmado se estas tropas já participaram em operações de combate, destacou que, ao integrarem as forças russas, passam a ser cobeligerantes no conflito contra a Ucrânia.

“Trazer outro país estrangeiro para o campo de batalha, introduzindo mais de 11 mil soldados da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) na luta, é uma ação de escalada”, acrescentou Singh. “Deixámos muito claro que a introdução de soldados da RPDC, especialmente no que diz respeito à soberania da Ucrânia, significa que são alvos legítimos no combate. E, portanto, seriam considerados alvos militares legítimos.”

Singh recusou comentar relatos divulgados pela comunicação social que sugerem que um general norte-coreano foi ferido num recente ataque na região de Kursk, realizado pela Ucrânia com mísseis Storm Shadow fornecidos pelo Reino Unido.

O governo britânico, por sua vez, não confirmou se o uso dos mísseis de longo alcance foi autorizado pelo primeiro-ministro Keir Starmer, mas remeteu para declarações anteriores em que este destacou o “claro direito da Ucrânia à autodefesa contra os ataques ilegais da Rússia”.

O fornecimento dos mísseis Storm Shadow coincidiu com a decisão dos Estados Unidos de permitir à Ucrânia o uso dos sistemas de mísseis táticos do Exército dos EUA (ATACMS) para ataques em território russo.

A autorização para o uso destas armas foi confirmada na terça-feira pelo secretário assistente de Estado Brian Nichols, durante a cimeira do G20 no Rio de Janeiro. Em entrevista ao jornal brasileiro O Globo, Nichols explicou: “As armas que o presidente Biden autorizou que a Ucrânia utilizasse darão ao país maior capacidade para se defender e, esperamos, permitirão que a Federação Russa compreenda que o uso da força para conquistar território ucraniano não terá sucesso. Talvez isso leve a negociações de paz ou, melhor ainda, a uma retirada do território ucraniano.”

No entanto, o Kremlin reagiu com críticas. Dmitry Medvedev, ex-presidente russo, afirmou que esta decisão confere à Rússia o “direito de lançar um ataque retaliatório com armas de destruição massiva contra Kyiv e as principais instalações da NATO”.

Na quinta-feira, o presidente russo Vladimir Putin acusou os Estados Unidos de “empurrar o mundo inteiro para um conflito global” e afirmou que a Rússia agora tem o direito de utilizar o sistema de mísseis Oreshnik “contra instalações militares de países que permitam o uso das suas armas contra as nossas instalações”.

Questionada sobre a crescente escalada do conflito, Singh reiterou a posição dos Estados Unidos: “O que tem sido uma escalada nesta guerra é o facto de a Rússia ter decidido recorrer a um país estrangeiro e trazer soldados da RPDC para o combate.”

Ela também reforçou que os EUA não procuram um confronto direto com a Rússia. “Não procuramos guerra com a Rússia. Não é essa a nossa intenção. Mas vamos, absolutamente, continuar a apoiar a Ucrânia, algo que o presidente deixou claro desde o primeiro dia”, concluiu Singh.

A situação, marcada pela presença de forças estrangeiras no conflito e o fornecimento de armamento avançado à Ucrânia, evidencia o aumento das tensões e o risco de uma escalada ainda maior no cenário geopolítico.

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