Toneladas de escombros e milhões sem abrigo: Turquia reconstrói zona maior do que Portugal depois do terremoto

Um mês e meio após o terremoto que abalou o sudeste da Turquia e o noroeste da Síria, causando cerca de 60 mil mortos, as escavadoras continuaram a retirar escombros e a demolir o que sobrou dos edifícios.

Uma tarefa árdua visto que são à volta de 200 milhões de toneladas de betão, tijolos, detritos metálicos e madeira, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Em termos de volume, estes destroços, amontoados em pilhas de um metro de altura, ocupariam 100 quilómetros quadrados.

Só na Turquia, cerca de 3,3 milhões de pessoas perderam as suas residências como consequência do sismo, o que levou muitos a mudarem-se para as províncias do oeste do país, onde vivem em casas de parentes, hotéis que disponibilizaram abrigo ou residências universitárias. Contudo, há quase dois milhões a viver em acampamentos que ficaram danificados após as inundações, ocorridas na semana passada, de acordo com os dados do governo turco.

Mais de meio milhão de habitações ficaram destruídas ou tiveram de ser demolidas, devido a graves estragos estruturais, e outras 130 mil sofreram danos moderados, ficando inabitáveis enquanto não forem amplamente reforçadas. Também dezenas de milhares de edifícios públicos – desde escolas e hospitais a gabinetes governamentais – ficaram severamente danificados assim como prédios privados, desde estábulos e quintas a fábricas.

Outras infraestruturas fundamentais como estradas, aeroportos, portos, caminhos-de-ferro, estações elétricas, barragens e reservatórios também foram afetadas e precisam de ser reconstruídas assim que possível. Mais de mil quilómetros de condutas de água potável e quase dois mil de esgotos sofreram os impactos do sismo assim como várias estações de tratamento de esgotos e de águas residuais.

O governo de Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, prometeu reerguer meio milhão de casas no prazo de um ano. Destas, algumas serão construídas pela agência pública TOKI e outras através de concursos semiabertos, aos quais vão concorrer empresas privadas. Vão também haver áreas residenciais que terão de ser movimentadas dado que, como os terramotos demonstraram, o terreno onde estavam localizadas não resiste a mais tremores fortes por muito bem construídos que os edifícios sejam.

“O solo comportou-se, durante os tremores de terra, como se fosse líquido e as construções perderam todo o apoio, pelo que os nossos técnicos explicam que, nestas áreas, não será possível reconstruir”, notou o diretor do Banco Mundial para a Turquia.

“A escala da destruição é tremenda”

“Na estrada de Nurdag para Antioquia [ao longo da linha de falha do sudeste da Anatólia], a única coisa que muda nos edifícios é se estão muito danificados ou completamente destruídos”, explicou o diretor do Banco Mundial para a Turquia, Humberto López, citado pelo jornal espanhol ABC, que esteve recentemente na área para analisar a situação.

A dimensão da área afetada é de 110 mil quilómetros quadrados, ou seja, uma área maior do que a Áustria ou Portugal e semelhante à Bulgária, o que “cria um problema muito grande”, frisou López ao lamentar: “A escala da destruição é tremenda, não é como noutros lugares em que estivemos, onde se pode concentrar o trabalho de reconstrução”.

A previsão inicial de danos do Banco Mundial coloca o impacto direto do terramoto em cerca de 31,5 mil milhões de euros, valor ao qual vão ser acrescentados os custos de reconstrução – de montante semelhante – e ainda as perdas associadas à interrupção da vida económica na região, que a instituição estima em cerca de 3,7 mil milhões de euros.

Estas estimativas foram ultrapassadas por outras feitas pelo PNUD ou pelo governo turco, que calcula os gastos provocados pelo terramoto em, aproximadamente, 96 mil milhões de euros ou cerca de 10% do PIB do país. A oposição turca, que está a depositar as suas esperanças nas próximas eleições de maio, acredita que o valor será ainda mais elevado, apontando para 116 mil milhões de euros.

Quanto à disparidade entre os números, López esclareceu que é necessário “distinguir entre os danos sofridos pelas infraestruturas afetadas e o custo da sua recuperação, que é mais difícil de calcular porque depende da forma como é levada a cabo”. “Os nossos dados sugerem que metade dos estragos ocorreu em edifícios residenciais privados e ainda não sabemos como vamos proceder, se através de iniciativa pública, subsídios, etc.”.

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