“Tive que adaptar o meu método de trabalho para alcançar objetivos”, diz portuguesa gerente de restaurante no mais icónico hotel do Dubai

Desafiada para tornar real o projeto pensado pelo CEO do Jumeirah Group, o português José Silva, Marta Fidalgo gere um dos mais luxuosos beach clubs da cidade mais populosa dos Emirados Árabes Unidos.

Natural de Óbidos, foi nesta vila que começou a carreira profissional. Aos 14 anos, acumulava os estudos com pequenos trabalhos de Verão. Depois do curso de Marketing Turístico, o mercado laboral não lhe deu as oportunidades que desejava e isso levou-a a rumar até Inglaterra. Tinha 23 anos, começou como empregada de mesa, mas o melhor ainda estava para acontecer: recebeu o convite para liderar a abertura de um restaurante no Harrods, a mais famosa loja de departamentos de luxo, em Londres. Mais tarde, acabaria por ir para o Dubai, uma cidade segura, movimentada, e que combina Sol, praia e deserto. Nos últimos anos, Marta liderou a abertura de seis espaços nesta região. O último foi o SAL, que abriu portas em plena pandemia e onde se servem pratos portugueses.

A gestora portuguesa planeou ao milímetro a abertura do SAL. Fez todo o planeamento, desde contratar pessoas à formação, definir o tipo de serviço ou decoração da sala.

Como é que surgiu o desafio de trabalhar no SAL Burj Al Arab Jumeirah?
Já trabalhava no grupo Jumeirah desde 2019. Comecei como gerente do restaurante Kayto no hotel Al Nassem. Com a pandemia a chegar, em Março, decidimos fechar o restaurante, e eu na altura estava em casa há dois meses quando recebo uma chamada a dizer que não iria voltar ao Al Nassem, mas que ia abrir o SAL no Burj Al Arab ainda no Verão de 2020, em plena pandemia. Ao princípio foi um choque, mas vivendo no Dubai há quase sete anos e tendo o Dubai aplicado uma estratégia muito mais inteligente durante a pandemia eu sabia que ia ser um caso de sucesso.

Aceitou de imediato? Porquê?
Aceitei de imediato. Não penso que muitas empresas se tenham atrevido a arriscar abrir um negócio em plena pandemia, muito menos quando falamos de hotelaria e restauração. Senti-me privilegiada e com muito orgulho de ser um restaurante de nome e sabores portugueses, o qual foi um sucesso desde o primeiro dia até hoje.

Quais são as suas principais funções?
Organizar, dirigir e controlar uma operação de um restaurante e beach club com uma capacidade de 300 camas, 150 lugares sentados, 25 cabanas privadas e uma equipa de mais de 100 pessoas.

O que mais a fascina na indústria em que trabalha?
Nenhum dia é igual ao outro. O facto de podermos dar asas à nossa imaginação e fazer acontecer é algo difícil de encontrar em outra profissão. Todos os dias tenho a oportunidade de fazer melhor  do que no dia anterior e impressionar os nossos clientes. E, claro que na minha função acabo por conhecer pessoas incríveis e muitos clientes que são fiéis aos restaurantes que dirigi. Acabaram por se tornar clientes regulares e muitos deles também amigos.

Como é o seu dia-a-dia de trabalho?
Intenso. Temos um “footfall” diário entre 800 a mil pessoas por dia em época alta, que aqui no Dubai vai de Outubro a Maio. A pressão de manter os standards e ao mesmo tempo demostrar resultados é imensa num hotel com a reputação como a do Burj Al Arab. Mas, sem dúvida que tento levar o meu dia-a-dia, sempre com positividade e energia para gerir as minhas equipas. O segredo é saber também nos divertimos enquanto trabalhamos. Organização é muito importante, semanal e diária, na qual organizo de maneira a despender somente o tempo necessário em trabalho de escritório e dedicar o máximo possível no “floor” com os meus clientes e funcionários. Faz toda a diferença mostrarmo-nos e darmos o exemplo “hands on”.

Quais as principais diferenças ao nível da metodologia de trabalho que encontrou ao mudar-se para o Médio-Oriente?
A disciplina é um pouco diferente e deparei-me com uma realidade um pouco diferente da que estava habituada. Tive que adaptar o meu método de trabalho para assim alcançar objectivos sem me levar à exaustão. Mas houve e há sempre um pouco de resistência, mas na minha profissão necessitamos de trabalhar a nossa inteligência emocional para sermos bem sucedidos em qualquer ambiente, país ou cultura.

O que é que o Dubai lhe tem vindo a ensinar sobre Gestão de Pessoas?
A adaptação a uma diversidade de culturas, as quais são diferentes umas das outras proporcionou-me uma visão mais aberta de como trabalhar em harmonia. Chego a ter entre 15 a 20 etnias diferentes para gerir. A tolerância e a adaptabilidade são realmente factores muito importantes na gestão de pessoas. Mas quando se encontra a melhor maneira de nos adaptarmos, os resultados são realmente muito satisfatórios a nivel profissional e pessoal. São experiências inesquecíveis.  

Tendo já trabalhado em Portugal e Reino Unido, o que significa para si trabalhar nesta área no Médio-Oriente? Foi sempre um objectivo?
Foi por por acaso e não estava planeado. Na altura em Portugal, quando me lancei no mercado de trabalho depois de ter completado quatro anos de estudos superiores, as portas que procurava não se abriram. O que me fez então emigrar para Londres. Já em Londres, depois de três anos e meio, a cidade foi-se tornando pesada com o tempo, com cada vez mais trânsito, mais congestionamento nos transportes públicos, e claro, a escassez de Sol que nos faz tão bem ao corpo e à alma. Enviei o meu currículo por uma amiga que aqui estava e fui chamada. Passado poucas semanas já estava no Dubai. Não foi um objectivo planeado mas como sempre digo “we may change the plans but never the goal”. Por agora vim para ficar.

Estando a viver tão longe de Portugal, como é que “mata saudades” do nosso País?
Visito todos os anos a minha família e amigos, e eles também me tentam visitar aqui no Dubai. A verdade é que a competência do meu trabalho não me proporciona muitas chances de ir mais vezes e assim as saudades “matam-se” por vídeo chamada e pelas redes sociais. “Oh Camões, neste mar Salgado, no SAL nao ha lágrimas por Portugal”. 

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