“Ter algum dinheiro reservado para oportunidades que valem a pena é inteligente, mas o grosso da carteira deve ser investido”, diz Country Manager da Trade Republic

Numa altura em que a inflação atinge níveis históricos, chegando já aos 10,6% a nível nacional, a ‘Executive Digest’ falou com Kintxo Cortés, Country Manager da plataforma de investimento Trade Republic em Portugal, sobre que estratégias de investimento devem os portugueses adotar para rentabilizar as suas poupanças e combater este período de recessão económica.

O especialista em investimento sublinhou em especial é “difícil ser preciso sobre quando o mercado vai recuperar” e defendeu que é importante reservar dinheiro para oportunidades que valem a pena, apesar de defender que o “grosso da carteira deve ser investido”. Já sobre o futuro, falou-nos sobre o novo tipo de investimento como as criptomoedas que estão a sofrer um impacto sem precedentes, e que na sua opinião “ninguém deveria ter considerado cripto um investimento seguro”.

Num momento tão complexo no que diz respeito à inflação quais as melhores estratégias de investimento para os portugueses rentabilizarem as suas poupanças?

É difícil prever as movimentações do mercado nos próximos meses, mas o que permanece claro é que ficar à margem deste, optando apenas por dinheiro físico, é o maior risco previsível. Em primeiro lugar porque o valor da inflação de mais de 10% está a comer o poder de compra que o dinheiro físico traz às pessoas muito rapidamente. Em segundo lugar, porque é realmente difícil ser preciso sobre quando o mercado vai recuperar. Pessoalmente, não estou a defender o investimento total. Ter algum dinheiro reservado para oportunidades que valem a pena é inteligente, mas o grosso da carteira deve ser investido. Se um indivíduo tivesse investido 10.000 euros no S&P 500 durante os últimos 15 anos e falhado os 10 melhores dias, teria perdido mais de 60% dos retornos.

Os especialistas recomendam investir seguindo uma estratégia de Dollar Cost Averaging (DCA) ou Custo Médio em Doláres, em que as pessoas que poupam e investem colocam o seu dinheiro em produtos diversificados (como ETFs reprodutores de índices) de forma periódica, independentemente do modo como o mercado se está a comportar. Com esse método, os investidores estariam a adicionar posições em níveis de preços altos e baixos e a apostar na subida de valor do mercado de ações a longo prazo. Essa seria uma boa estratégia a seguir, se o que está a tentar fazer é proteger o dinheiro da inflação e investir a longo prazo.

Quais as melhores opções de investimento e quais as suas vantagens?

Uma das ideias erradas mais comuns sobre o mercado de ações diz respeito às pessoas não estarem conscientes de que este permite a qualquer pessoa investir em qualquer tipo de ativos, não apenas em frações de empresas como muitos incorretamente pensam. Também é possível investir em imóveis (através de REITS ou empresas imobiliárias), obrigações, mercadorias, moedas, etc. Todos eles são legítimos, bem como as diferentes opções de investimento são legítimas. Tudo depende da tolerância ao risco e as expectativas de retorno que os investidores possuem. Para investidores jovens ou novos investidores que estejam a procurar investir a longo prazo, produtos diversificados como ETFs parecem ser uma boa opção por muitas razões:

  1. Dão exposição a muitas indústrias e ativos de qualquer natureza de uma forma muito diversificada.
  2. São líquidos, pode-se comprá-los ou vendê-los sempre que se quiser.
  3. Cobram taxas muito baixas, especialmente quando comparados com outros produtos similares da banca comercial.
  4. Pode-se investir em índices, indústrias, geografias, tópicos, etc. Portanto, se se estiver entusiasmado com um tema em particular, é uma ótima maneira de nele investir.

Como é que a inflação está a afetar a aposta em produtos bancários dos portugueses? E como é que este problema afeta as instituições bancárias?

Lamentavelmente, ocorre sempre a mesma situação: sempre que o contexto económico fica mais tenso, os pequenos titulares são os primeiros a vender as suas posições e a abandonar o mercado. Isto é um erro. Por outro lado, os investidores mais experientes aproveitam a situação para reforçar as suas posições no que consideram ser ações sólidas.

Como é que a proliferação de corretoras e plataformas alternativas de investimento tem influenciado o perfil do investidor português e suas poupanças?

Influenciou muito e não apenas no que respeita ao primeiro efeito óbvio – a melhoraria do acesso ao investimento através da tecnologia trouxe muitos investidores mais jovens –, mas também teve efeitos no comportamento de investidores experientes. Um dos principais desafios que a indústria de investimento tem enfrentado durante as últimas décadas está relacionado com o acesso: acesso a ferramentas fáceis de compreender, acesso sob a forma de preços/comissões que permitem às pessoas investir, acesso a certos tipos de ativos (ações de diferentes geografias), etc.

Não tenho acesso total aos dados completos do mercado para apoiar quaisquer declarações, mas com a nossa chegada ao mercado português sabemos que muito provavelmente a idade média dos investidores irá descer (apesar de reunirmos muito interesse de investidores experientes), o interesse em negociar ativos estrangeiros irá crescer (temos de longe as melhores taxas do mercado), e as pessoas que investem para poupar e proteger/construir a sua riqueza a longo prazo também irão aumentar (acreditamos que os nossos planos de poupança são imbatíveis). Por último, mas não menos importante, nos países onde já estamos presentes, estamos satisfeitos por ver que cada vez mais mulheres estão a começar a investir. Podemos também esperar o surgimento em Portugal de uma nova geração de mulheres investidoras. O nosso posicionamento é bastante único, estamos a fornecer o melhor acesso, ferramentas e custos aos investidores que procuram não especular, mas crescer.

Quais os melhores ativos de refúgio atualmente na sua opinião?

Depende do período de tempo que se estiver a analisar. Os investidores que procuram proteger as suas poupanças a curto-médio prazo podem achar interessante um rendimento fixo de alta qualidade (EUA a 10 anos, por exemplo), mas os investidores que procuram um horizonte temporal mais amplo têm visto melhores resultados investindo em ETFs através de contribuições periódicas (atingindo 8-10% de retornos anualizados). Não devemos esquecer que continuar a investir em mercados em baixa é a única forma de atingir rendimentos interessantes a longo prazo.

O mercado das criptomoedas está a sofrer um impacto sem precedentes. Estes ativos ainda representam um investimento seguro?

Acho que ninguém deveria ter considerado cripto um investimento seguro, desde logo porque todos os investimentos implicam algum grau de risco. Além disso, qualquer pessoa que invista deveria saber que, apesar do desempenho espantoso nos últimos anos de alguns flagship tokens como Bitcoin e Ethereum, as criptomoedas são um ativo de alto risco. Dito isto, cripto representa uma aposta assimétrica muito interessante para investidores de alto risco que apostam numa indústria que tem os fundamentos para desafiar o mundo tal como o conhecemos hoje. O valor baseia-se puramente nas expectativas de como essas empresas e tokens irão construir aplicações que, talvez um dia, transformem os seus atributos em novos protocolos e formas de operar que possam gerar valor. A falta de liquidez no mercado afundou o seu valor, tal como outros ativos especulativos, mas o desempenho dos últimos anos e a promessa que representam continuam a fazer deles um investimento potencialmente assimétrico e positivo.

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