Tensões no PSD com escolha de Rui Moreira para encabeçar lista da AD às eleições europeias. Manifesto fala em “traição aos portuenses”
O suspense que envolve as escolhas para as eleições europeias parece ter-se dissipado com Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto, emergindo como o nome escolhido para liderar a lista da Aliança Democrática (AD) nas eleições europeias marcadas para 9 de junho. O anúncio foi feito por Luís Marques Mendes, comentador da SIC e conselheiro de Estado, e confirmado pelo próprio Rui Moreira durante o seu comentário semanal na CNN.
Em declarações, Moreira expressou o seu interesse no projeto europeu: “O projeto europeu é um projeto que me atrai”. Além disso, o autarca sugeriu que os seus projetos para a cidade do Porto estão praticamente “concretizados”. Esta posição é reforçada por Nuno Melo, presidente do CDS, que tem apoiado Moreira desde o seu primeiro mandato como presidente da Câmara do Porto. Melo elogiou Moreira em entrevista ao Expresso, embora tenha preferido aguardar pelo “momento próprio” para o anúncio oficial, que se espera para esta segunda-feira à noite. Ambos os partidos da AD, PSD e CDS, vão reunir os seus conselhos nacionais para aprovar a lista, que deve ser apresentada até dia 29.
No entanto, a escolha de Moreira não é consensual entre os autarcas do PSD no Porto. Um manifesto assinado por 20 autarcas sociais-democratas do Porto, incluindo Miguel Côrte-Real, líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto, e Vladimiro Feliz, que foi candidato à Câmara do Porto em 2021, manifesta-se contra a nomeação de Moreira. O manifesto critica a escolha como uma “traição aos portuenses, aos militantes, simpatizantes e autarcas eleitos pelo PSD”, conforme citado pelo Expresso.
O comunicado dos autarcas do PSD destaca: “O Porto nunca perdoou a quem o abandona”. Além dos já mencionados, outros signatários incluem Tiago Mota e Costa, diretor da campanha de 2021, e Alexandre Pinto, membro da mesma direção de campanha. Rita Monteiro de Sousa e Luís Magalhães, ambos candidatos em 2021 quando o PSD era liderado por Rui Rio, também assinaram o manifesto. O documento critica a direção atual do PSD por escolher alguém contra quem estes signatários se posicionaram politicamente há menos de três anos.
Miguel Côrte-Real, líder da bancada municipal do PSD no Porto e signatário do manifesto, enfatizou ao Expresso a questão da coerência: “Não há problema com a governança do município. O que estamos a avaliar é que demos a cara como uma alternativa a Rui Moreira por considerar que havia pessoas mais indicadas e não nos revíamos nele. Como é que, menos de três anos depois, vimos [PSD] dizer que o Rui Moreira é o melhor candidato? É uma questão de coerência”.
O manifesto acusa ainda Rui Moreira de protagonizar “fortes ataques ao sistema partidário nacional”, sugerindo que a sua aproximação ao PSD está relacionada com o “decrescer da sua popularidade ao longo dos seus mandatos”. Os signatários também apontam a “proximidade” de Moreira com o ex-primeiro-ministro socialista António Costa como um motivo para a sua rejeição.
Apesar da indicação de Marques Mendes, Miguel Côrte-Real mantém a “esperança” de que Luís Montenegro possa reconsiderar a escolha. Ele sugere Miguel Poiares Maduro como uma alternativa mais credível para encabeçar a lista a Bruxelas: “Miguel Poiares Maduro é reconhecido dentro e fora do partido, na Europa. Era um nome que credibilizaria o partido”.
Deste modo, enquanto a nomeação de Rui Moreira parece iminente, as tensões dentro do PSD do Porto demonstram que a decisão não é unânime, deixando aberto o cenário para futuras reações e desenvolvimentos políticos.