Tempestades estão a tornar-se mais fortes e mortais: cientistas correm para entender rios atmosféricos e assim prevenir danos catastróficos

A tempestade que assolou a Califórnia, nos Estados Unidos, durante mais de cinco dias foi a ‘oportunidade’ para os cientistas, em terra e no ar, implantarem instrumentos para medir rios atmosféricos – foram lançadas ferramentas de aviões, equipadas com pequenos paraquedas, ou fizeram-nas voar presas a balões, diretamente para a tempestade.

Estes dispositivos fornecem informações essenciais para melhorar as previsões meteorológicas conforme as alterações climáticos vêm transformando as tempestades mais poderosos em focos maiores de perigo. Os rios atmosféricos recentes estão carregados de humidade, suficiente para rivalizar com os fluxos na foz do rio Mississippi, capazes de causar as inundações mais destrutivas.

O aquecimento dos oceanos está a sobrecarregar as tempestades, tornando-as mais mortíferas: a da Califórnia provocou a morte a 9 pessoas, causou cerca de 11 mil milhões de dólares em danos e perdas económicas – Los Angeles, por exemplo, viu cair numa questão de dias metade das chuvas anuais.

Os cientistas procuram agora compreender estes sistemas antes que piorem: a investigação sobre estas plumas de vapor de água transportadas pelo ar, extraídas do Pacífico tropical, cresceu dramaticamente nas três décadas desde que ficaram conhecidos os ‘rios atmosféricos’ – mas as previsões sobre onde uma tempestade atingirá o continente ainda podem estar erradas em centenas de quilómetros, e é difícil prever como se desenvolverão determinadas tempestades.

“Quanto mais aprendemos, mais reconhecemos de que precisamos de mais dados sobre isso”, salientou Maike Sonnewald, líder do grupo computacional sobre clima e oceanos da UC Davis, citado pelo jornal britânico ‘The Guardian’.

Sonnewald, um oceanógrafo que utiliza a ciência da computação para obter informações sobre o clima e previsões meteorológicas de longo prazo, referiu que as imagens de satélite ajudam a traçar um quadro que, no entanto, é incompleto. “Não temos necessariamente uma resolução suficientemente alta para podermos modelar coisas específicas”, acrescentou, explicando que a natureza dinâmica do oceano – e a facilidade com que pequenas mudanças podem criar grandes mudanças nos modelos – representam desafios preditivos.

“O clima está a mudar – estamos a tornar a Terra mais quente – isso é sabido. São os detalhes que são difíceis de discernir”, sublinhou Sonnewald. Uma atmosfera em aquecimento pode reter exponencialmente mais vapor de água e o aquecimento das temperaturas da superfície do oceano evaporará mais rapidamente, para que os cientistas possam prever facilmente como as coisas irão piorar. O mais complicado é saber quando e onde.

Os modelos globais nos quais os cientistas confiam para emitir previsões são bons para “’farejar’ que há algum potencial de uma tempestade impactante com pelo menos vários dias de antecedência”, referiu Alex Lamers, meteorologista de coordenação de alertas do Centro de Previsão do Tempo.

Os satélites só podem ir até certo ponto no preenchimento de lacunas de informação sobre o oceano. “O Pacífico é uma vasta extensão e não há muitas observações meteorológicas reais lá”, disse. Por esse motivo, uma equipa de cientistas liderada por Martin Ralph, diretor fundador do centro de clima ocidental e extremos hídricos do ‘Scripps Institution of Oceanography’, começou a fazer medições diretamente de dentro dos próprios sistemas de tempestades.

Desde 2016, o programa de reconhecimento atmosférico de rios conta com aviões “caçadores de furacões” da Força Aérea dos EUA que lançam um pequeno conjunto de instrumentos, conhecidos como ‘dropsondes’.

Fixada a um pequeno paraquedas, cada sonda flutua através das nuvens e chega ao oceano – uma viagem que demora cerca de 20 minutos – ao mesmo tempo que fornece observações importantes aos cientistas a bordo. A temperatura do ar, a pressão, o vapor de água e a velocidade do vento são todos recolhidos pelas ‘dropsondes’, como uma “ressonância magnética para um rio atmosférico”, segundo Ralph, permitindo aos investigadores ver o interior do sistema em vez de terem de confiar em imagens de satélite.

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