Temperatura global da Terra sofreu alterações drásticas em 485 milhões de anos: flutuações chegam aos 25 graus, revelam cientistas

Uma equipa de cientistas reconstruiu a história climática da Terra nos últimos 485 milhões de anos: o resultado, publicado na revista ‘Science’, constitui a análise mais detalhada sobre as alterações da temperatura global da superfície do nosso planeta. De acordo com a equipa liderada por especialistas do Museu Smithsonian de História Natural de Washington e da Universidade do Arizona (nos Estados Unidos), foi possível compreender como as temperaturas da Terra têm flutuado ao longo do tempo.

E, segundo os cientistas, flutuaram… e de que forma.

A análise dos cientistas confirmou resultados já conhecidos, como a forte ligação entre a acumulação de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, um gás com efeito estufa, e o aumento das temperaturas – mas também revelou surpresas.

Assim, na curva climática traçada, a temperatura da Terra variou mais do que o estimado durante grande parte do período Fanerozóico, que abrange os últimos 540 milhões de anos e se mantém até aos dias de hoje. Uma era geológica durante a qual a vida se diversificou e se espalhou pela Terra, mas também teve de enfrentar múltiplas extinções em massa.

Ao longo do éon Fanerozóico, a temperatura média global da superfície terrestre variou entre os 11 e os 36 graus Celsius e, de acordo com o estudo, os períodos de calor extremo estão frequentemente relacionados com níveis elevados de C02 na atmosfera. “Esta pesquisa ilustra claramente que o dióxido de carbono é o principal fator que controla a temperatura global ao longo do tempo geológico. Quando o CO2 está baixo, a temperatura é fria; quando está alto, a temperatura é quente”, resumiu Jessica Tierney, paleoclimatologista da Universidade do Arizona e coautora do novo estudo.

Os resultados revelaram ainda que a atual temperatura média global da superfície da Terra, de 15 graus Celsius, é mais fria do que durante grande parte deste período geológico. No entanto, concluiu que as emissões de gases com efeito estufa causadas pelas alterações climáticas antropogénicas estão a aquecer o planeta a um ritmo muito mais rápido do que os eventos de aquecimento mais rápidos que ocorreram nos últimos 500 milhões de anos.

A velocidade do aquecimento, alertaram os autores, põe em perigo espécies e ecossistemas em todo o mundo e está a provocar uma rápida subida do nível do mar – recordaram que outros episódios de rápidas alterações climáticas durante o Fanerozóico provocaram extinções em massa. “Os humanos, e as espécies com quem partilhamos o planeta, estão adaptados a um clima frio e mudar rapidamente para um clima mais quente é perigoso”, avisou Tierney.

A origem deste estudo remonta a 2018, quando parte da equipa estava a projetar uma nova sala no Museu Smithsonian que pretendia contextualizar os fósseis da coleção, destacando como o clima da Terra mudou ao longo dos últimos 500 milhões de anos.

Os cientistas queriam oferecer aos visitantes do museu uma curva que representasse a temperatura global média da Terra ao longo do Fanerozóico, mas ficaram surpreendidos ao descobrir que ainda não existia uma curva de temperatura fiável para este período. Isto deve-se em grande parte às inúmeras peças em falta do registo fóssil, sendo difícil decifrar como eram as temperaturas antigas à escala global.

Os espécimes fósseis fornecem algumas pistas sobre temperaturas antigas – por exemplo, a química das conchas fossilizadas fornece informações sobre as temperaturas dos oceanos num passado distante – mas são apenas instantâneos isolados de uma região num determinado momento. “É como tentar visualizar a imagem de um puzzle de mil peças quando se tem apenas algumas delas”, referiu Emily Judd, investigadora da Universidade do Arizona que liderou o estudo.

O método

Para fazer face a estes obstáculos, a equipa decidiu criar a curva de temperatura da Terra através de um método chamado assimilação de dados, que combinava dados do registo geológico e modelos climáticos. Os cientistas reconstruíram o clima em vários pontos do Fanerozóico, integrando dados relacionados com as antigas temperaturas dos oceanos de diferentes partes do planeta preservadas em conchas fossilizadas e outras amostras de matéria orgânica, com simulações computacionais de climas passados.

Os colegas da Universidade de Bristol geraram mais de 850 simulações de modelos de como poderia ter sido o clima da Terra em diferentes períodos, tendo em conta a composição atmosférica. De seguida, utilizaram a assimilação de dados para combinar estas duas linhas de dados e criar uma curva mais precisa de como a temperatura da Terra variou nos últimos 485 milhões de anos.

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