Depois de São Tomé, Putin ‘pisca o olho’ a outro país da CPLP que quer ser “parceiro permanente” de Moscovo

O presidente russo propôs esta quinta-feira ao homólogo da Guiné-Bissau, país membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o desenvolvimento da cooperação bilateral entre as duas nações. O encontro entre Vladimir Putin e Umaro Sissoco Embaló ocorreu em Moscovo, onde Embaló se deslocou para participar no desfile do Dia da Vitória, que celebra a vitória russa sobre a Alemanha Nazi no final da II Guerra Mundial, conforme reportado pela agência estatal russa RIA Novosti.

Putin elogiou o empenho de Embaló no fortalecimento dos laços bilaterais entre os dois países. “Hoje temos a oportunidade de discutir a implementação dos acordos bilaterais em vários domínios e de considerar novas medidas para desenvolver a cooperação”, afirmou Putin no Kremlin, destacando ainda a convergência de posições entre os dois países sobre questões globais.

“A Rússia e a Guiné-Bissau compartilham abordagens semelhantes para a resolução de muitos dos desafios da agenda global. Temos posições próximas quanto à formação de uma ordem mundial multipolar e à segurança”, acrescentou o presidente russo.

Putin convidou Embaló a realizar uma visita oficial à Rússia, convite que foi também feito pelo líder guineense. Por sua vez, Embaló expressou o desejo de que Putin visite os países africanos e inclua a Guiné-Bissau em sua agenda. “Espero que um dia visite os países africanos e inclua a Guiné-Bissau na sua agenda”, expressou Embaló, garantindo que o seu país será um “parceiro permanente” de Moscovo. “Temos sido bons aliados e esperamos continuar a sê-lo. Podem contar com a Guiné-Bissau como um parceiro permanente, que nunca mudará”, concluiu.

A aproximação entre os dois países ocorre no âmbito de uma proximidade da Rússia também com São Tomé e Príncipe que tem levantado preocupações em Portugal, o o ministro dos negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, a manifestar “estranheza” e “apreensão”. Especialistas apontam que é sinal de uma estratégia russa dirigida a países africanos, incluindo os que integram a CPLP.

A relação entre São Tomé e Príncipe e a Rússia remonta ao período da guerra colonial, quando o arquipélago recebeu apoio de Moscovo. Apesar dos esforços recentes de Portugal para contrariar essa influência, oferecendo material militar ao país, a cooperação militar entre Portugal e São Tomé e Príncipe tem também sido longa, datando desde 1988.

Isidro de Morais Pereira, major-general, assinala que Portugal deve olhar para estes países “de forma mais criteriosa”, evitando que a Rússia capitalize em situações de fragilidade. O comentador destaca também a crescente influência russa em todo o continente africano, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia.

A Rússia tem oferecido apoio a vários países africanos em troca de acesso a recursos naturais estratégicos, o que coloca as ex-colónias portuguesas na mira de Moscovo. Pereira alerta que este acordo pode comprometer a coesão da CPLP, colocando em causa o espírito de comunidade dentro da organização.

Esta cooperação militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia representa um desafio para Portugal, que tem utilizado a CPLP como uma ferramenta diplomática. A eficácia da diplomacia portuguesa é posta em causa, especialmente perante a crescente influência russa em África.

“É possível que o Kremlin queira expandir a sua influência em Moçambique. O país tem sérios problemas no Norte, na região de Cabo Delgado, e a Rússia pode prestar auxílio nesse sentido”, acrescenta Tiago André Lopes, em declarações à CNN Portugal. sublinhando que Portugal usa a CPLP como “arma diplomática”.

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