Taxas de juro do BCE: o impacto na vida das empresas

As taxas de juro têm sido um dos temas mais quentes em 2024. Com a economia global a enfrentar uma série de de-
safios – desde a inflação alta até. às tensões geopolíticas e os efeitos contínuos da pandemia de COVID-19 – os bancos centrais em todo o mundo têm ajustado as suas políticas monetárias na tentativa de manter a estabilidade.
Nos EUA, a Reserva Federal (Fed) tem aumentado agressivamente as taxas de juro desde o início do ano para tentar controlar a inflação. Essa abordagem tem tido um grande impacto nos mercados financeiros, afectando tudo, desde o custo dos empréstimos até às taxas de câmbio.
Mas o que esperar até ao final do ano? A resposta não é simples. Alguns economistas acham que a Fed pode começar a diminuir o ritmo dos aumentos das taxas de juro, enquanto outros acreditam que a inflação ainda não está sob controlo e que serão necessários mais aumentos. Esta incerteza significa que os investidores e analistas precisam de estar atentos aos dados económicos e às declarações dos principais responsáveis pela política monetária.

Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) enfrenta desafios semelhantes. Com diferentes economias na União Europeia em diferentes estágios de recuperação e a enfrentarem diferentes níveis de inflação, a política monetária precisa de ser cuidadosamente ajustada para evitar a estagnação económica, enquanto combate a inflação.
Na última reunião de política monetária, em Julho, o BCE colocou o pé no travão após a primeira descida das taxas de juro de referência para a Zona Euro em oito anos na reunião anterior.
Recorde-se que, em Junho, assistimos à primeira descida das taxas de juro desde Março de 2016, tanto para a taxa das operações principais de refinanciamento como para a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez, enquanto para a taxa de depósito, foi a primeira redução desde Setembro de 2019.
Actualmente, a taxa de juro das operações principais de refinanciamento, a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez e a taxa da facilidade permanente de depósito mantêm-se em 4,25%, 4,50% e 3,75%, respectivamente.

MEDIDAS DO BCE
O BCE não poderia ter adoptado medidas mais drásticas para conter a inflação sem causar uma perda de produção “muito substancial”, o que dificultaria uma recuperação “já anémica”. Quem o defende é Giorgio Primiceri, da Northwestern University, que durante o fórum do BCE, em Sintra, no passado mês de Julho, argumentou que um maior esforço para estabilizar a inflação teria impactos negativos significativos na produção económica.
De acordo com Giorgio Primiceri, as perspectivas de curto e médio prazo para a inflação e a política monetária são optimistas. A curto prazo, espera-se uma trajectória “relativamente suave” para atingir o objectivo de inflação na economia da Zona Euro. A médio prazo, o optimismo é sustentado pela manutenção da credibilidade do BCE, apesar do aumento da inflação em 2021.
O professor, autor do estudo “Os impulsionadores da inflação pós-pandemia”, destacou que a inflação nos EUA e na Zona Euro apresentou comportamentos e causas semelhantes durante a pandemia. Mencionou que ambas as economias foram afectadas por choques de oferta significativos que limitaram a capacidade produtiva. No entanto, a recessão foi mais severa na Zona Euro, e a recuperação foi mais lenta em comparação com os EUA.

DINAMISMO ECONÓMICO
«O compromisso do BCE para com a flexibilização é um sinal claro de apoio ao crescimento económico. Novas descidas de taxas ajudarão ao alívio das condições financeiras e deverão ter reflexos num maior dinamismo do consumo privado e do investimento, ajudando a manter o ritmo de crescimento da economia», esclarece fonte oficial da Schroders.
Os especialistas explicam que, para as famílias, as descidas de taxas de juro beneficiam principalmente quem tem créditos à habitação, em particular empréstimos a taxa variável. Com prestações mais baixas, o rendimento disponível aumenta e pode ajudar a estimular o consumo. Em paralelo, a remuneração dos depósitos tende a diminuir, o que pode desincentivar a poupança e levar à procura de alternativas de investimento que ofereçam melhores retornos.
Por outro lado, para as empresas, o acesso a crédito mais barato facilita o investimento em novos projectos ou na expansão de negócios, com perspectivas positivas para a produtividade e rentabilidade das empresas. Empresas com níveis de endividamento mais elevado têm também oportunidade de renegociar as suas dívidas, com o objectivo de obterem condições mais favoráveis, que possam melhorar os seus balanços e saúde financeira.

Os especialistas da Schroders acrescentam ainda que, do ponto de vista do investimento em geral, as taxas de juro mais baixas tendem a valorizar os mercados accionistas, uma vez que os investidores procuram retornos mais elevados do que os oferecidos pelos instrumentos de dívida tradicionais. Isto pode beneficiar o investimento em acções e obrigações.
Uma análise recente da Schroders sobre as rendibilidades dos investimentos durante 22 ciclos de redução das taxas de juro desde 1928 conclui que, nos 12 meses após a Fed ter começado a reduzir as taxas de juro, a rendibilidade média das acções dos EUA foi 11% superior à inflação. As acções também superaram o desempenho das obrigações do Estado em 6% e das obrigações de empresas em 5%, em média.
O numerário foi ainda menos considerado. As acções superaram o numerário em 9% nos 12 meses após o início da redução das taxas, em média. As obrigações também têm sido mais vantajosas do que o numerário.
«Ainda assim, a nível europeu, a persistência da inflação contribui para alguma incerteza quanto ao ritmo futuro da flexibilização e quanto à sua eficácia como catalisadora do crescimento da economia e dos mercados», sublinham.

Já João Pereira, CEO da Gestlifes e responsável pelo CréditoPessoal.pt, acrescenta que «a política de taxas de juro baixas dá a possibilidade aos particulares e às empresas de aumentarem os seus investimentos e, assim, fazerem crescer a economia, dando mais conforto no momento de investir, seja para comprar a própria casa ou investir num negócio».
Filipe Gomes, managing director do ComparaJá, sublinha que «a política das taxas de juro baixas são um mecanismo que leva, invariavelmente, ao aumento da oferta de dinheiro na economia. Este efeito é especialmente notado no crédito habitação na medida em que este se torna mais acessível e as próprias prestações reduzem de valor». 

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