Taxa de risco de pobreza nos idosos atinge valor recorde dos últimos 15 anos
A taxa de risco de pobreza entre idosos alcançou, em 2023, o valor mais elevado desde 2007, segundo indicam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelados esta semana. De acordo com o relatório sobre rendimentos e condições de vida, 21,1% dos portugueses com mais de 65 anos foram considerados pobres no último ano. Este agravamento verificado ocorre apesar de uma ligeira melhoria nos indicadores gerais de pobreza, que baixaram 16,6% em todas as faixas etárias, uma redução de 0,4 pontos percentuais face a 2022.
Carlos Farinha Rodrigues, especialista em desigualdade, sublinha em entrevista ao Jornal de Notícias (JN) que “o aspeto mais negativo” dos dados é o aumento expressivo da pobreza entre os idosos. O investigador destaca que, ao excluir as transferências sociais como reformas e subsídios, o risco de pobreza sobe ainda mais, atingindo 21,4%. A incorporação, pela primeira vez, dos dados fiscais sobre pensões no inquérito do INE também contribuiu para revelar que os valores reais das pensões são ligeiramente mais baixos do que os declarados pelos próprios reformados, aprofundando a gravidade do problema.
Outro fator determinante foi a subida do limiar de pobreza de 591 euros para 632 euros mensais entre 2022 e 2023. Muitos idosos que antes estavam ligeiramente acima deste valor passaram a ser considerados pobres, porque os aumentos nas pensões, realizados em janeiro e julho, foram insuficientes para acompanhar o ritmo de crescimento do limiar. “O aumento das pensões foi inferior à subida do limiar de pobreza, o que agravou a situação”, explicou Farinha Rodrigues.
A pobreza entre os reformados subiu para 19,6% em 2023, um aumento de quatro pontos percentuais face a 2022. Em contraste, as taxas de pobreza diminuíram entre a população empregada e os desempregados. A análise regional, agora mais detalhada devido à nova divisão estatística em vigor desde janeiro, revela disparidades significativas no território nacional. A Península de Setúbal apresenta a maior taxa de pobreza (18,7%), seguida do Norte (18%), reforçando a perceção de que a Área Metropolitana de Lisboa oculta desigualdades internas consideráveis.
Farinha Rodrigues defende que o combate à pobreza requer políticas públicas mais eficazes, tanto conjunturais como estruturais. “A pobreza não se resolve apenas com medidas como o Complemento Solidário para Idosos ou o Rendimento Social de Inserção”, afirma. É essencial, segundo o especialista, promover alterações no mercado de trabalho para combater os baixos salários, além de políticas que favoreçam um aumento expressivo do salário médio.
Embora o aumento do salário mínimo desde 2018 tenha tido um impacto positivo na redução da pobreza, Farinha Rodrigues alerta para os desafios decorrentes da proximidade entre o salário mínimo e o salário médio. “Precisamos de estratégias que assegurem um crescimento significativo do salário médio para reduzir de forma sustentável as desigualdades económicas”, conclui.