Tabaco: “Impacto da pandemia no nosso sector foi grande”, afirma Miguel Simões
Em entrevista à Executive Digest, Miguel Simões explica que os impostos devem servir para desincentivar o consumo e o preço é uma dessas formas de o conseguir. Porém, alerta que quando se aumenta em demasia os impostos abre-se um espaço «terrivelmente perigoso» que é o do contrabando. Para o responsável, a elasticidade de preço é muito importante para que o contrabando não afete a saúde pública e a receita fiscal.
A pandemia impactou (e de que maneira) todos os sectores económicos. De que forma é que indústria do tabaco, e a Imperial em particular, foi afetada por esta pandemia?
O impacto da pandemia no nosso sector, como praticamente em toda a Economia, foi grande, mas fomos capazes de nos adaptar às novas circunstâncias e de nos reinventarmos. Numa altura em que muitas empresas do sector, e não só, efetuaram despedimentos, nós mantivemos todos os nossos postos de trabalho e não recorremos ao lay-off. Aliás, contribuímos para a proteção de mais mil pontos de venda em Portugal e estamos convictos de que seremos capazes de continuar a crescer este ano.
A Imperial registou quebras de vendas durante este período ou, pelo contrário, houve uma maior procura dos seus produtos?
Sim. Tal como todas as empresas do sector, fomos impactados por este período extraordinário que vivemos (e que continuamos a viver) e com isso as vendas diminuíram, não só pela quebra do turismo, mas também pela menor acessibilidade a produtos com muitos pontos de venda fechados.
Este período trouxe mudanças nos hábitos dos consumidores? Por exemplo, durante o período de confinamento, assistiu-se a alguma mudança no comportamento destes? (Açambarcaram, mantiveram os hábitos, deixaram de fumar, etc.)
No início da pandemia as pessoas aumentaram um pouco a compra por receio de haver menos disponibilidade, mas logo se adaptaram a uma nova compra mais concentrada em tabacarias e gasolineiras. Em termos de hábitos de consumo destacaria duas alterações. No cigarro tradicional procuraram produtos de maior quantidade (maços de 23) para evitar menos compras ou segmentos de maior quantidade de tabaco (Superking Size) para evitar menos consumo durante o dia. Outro fenómeno foi a procura por novas alternativas. O tempo em casa permitiu às pessoas pesquisarem e informarem-se mais sobre o cigarro eletrónico e sobre o nosso produto BLU. O vaping começa a ser visto como uma alternativa ao tabaco, é menos prejudicial que o tabaco tradicional (sem combustão ou alcatrão), não deita cheiro ou cinza e, no caso do BLU, existe mesmo a opção sem nicotina. O vaping pode ser, de facto, uma forma para deixarmos de fumar.
Como um líder na venda de cigarros eletrónicos em Portugal (com o BLU), assistiu-se a uma maior procura por este tipo de tabaco em virtude de as pessoas estarem mais tempo em casa?
É claramente uma categoria que cresce em Portugal e o BLU é claramente um motor desse crescimento com cerca de 60% de quota de mercado, destacando-se como o grande líder da categoria.
Foram muitas as organizações que alertaram para os riscos de o tabaco potenciar a doença (Covid-19). Como é que a Imperial reage a estas declarações?
Todos sabemos que o tabaco é nocivo para a saúde, mas já é possível encontrar soluções menos nocivas para esta, como é o caso do nosso cigarro eletrónico BLU. Não há qualquer evidência científica de que o cigarro eletrónico seja mais prejudicial à saúde do que o tabaco tradicional ou aquecido. Aliás, há mesmo vários especialistas na Europa que consideram que o cigarro eletrónico é 95% menos nocivo à saúde do que o tabaco tradicional e que é uma forma para deixar de fumar (por exemplo, o BLU é o único cigarro eletrónico onde existe a hipótese de este não ter nicotina). Mas também acredito que a própria doença Covid -19 tem sido uma aprendizagem constante já que o que são hoje certezas amanhã podem não ser.
Quais são as perspetivas da empresa em relação a vendas até ao final do ano e será possível fazermos, desde já, um balanço do primeiro semestre?
Relativamente ao primeiro semestre o impacto em vendas foi grande, mas também foi um semestre de adaptação e aprendizagens. Os meses de confinamento obrigaram ao encerramento de mais de 50.000 dos pontos de venda de tabaco o que nos levou a uma adaptação de visitas ao mercado e também trazer soluções adaptadas aos clientes e que os ajudasse a ter mais confiança a estarem abertos e manter o seu negócio (instalámos mais de 1000 acrílicos nos nossos clientes). Creio que até ao final do ano iremos continuar com alguma quebra face ao ano passado porque temos menos turismo e ainda existem bastantes limitações na parte social pois este é um momento de release para os consumidores. Será um semestre de adaptação, busca de oportunidades e de focus no que é importante e controlamos.
Como é que a Imperial tem enfrentado esta nova realidade? Que medidas tomou e que iniciativas desenvolveu ou está a desenvolver para enfrentar este ‘novo normal’?
Fomos pioneiros na implementação de proteções acrílicas em alguns dos nossos pontos de venda de norte a sul de Portugal (mais de 1000), o que permitiu uma maior proteção para os trabalhadores dessas lojas, assim como para os consumidores. Conseguimos também realizar autênticas visitas virtuais a vários pontos de venda, com este processo a ser monitorizado a partir de ‘casa’. Para além destas iniciativas no âmbito do combate à covid-19, estamos a desenvolver mais ações de sensibilização em relação a um outro “novo normal”. A partir de setembro, inicia-se a aplicação de coimas para quem deitar beatas para o chão, o que nos levou a querer participar em ações que o alertem e previnam. A primeira terá lugar já esta quinta-feira, 3 de setembro, em Vila Nova de Gaia, com a distribuição de 6000 cinzeiros de bolso numa das ruas mais movimentadas de Mafamude.
Estamos em vésperas da discussão do próximo Orçamento do Estado e gostaria de saber qual a posição da Imperial relativamente à carga fiscal sobre o tabaco.
Os impostos devem servir para desincentivar o consumo e o preço é uma dessas formas de o conseguir, mas quando aumentamos em demasia os impostos abrimos um espaço terrivelmente perigoso que é o do contrabando. A elasticidade de preço é muito importante para que o contrabando não afete a saúde pública e a receita fiscal. Foi assim quando a fiscalidade do tabaco de enrolar subiu desmedidamente. Tem de haver equilíbrio entre as finalidades e o caminho para o conseguir. Parece-nos que este Governo tem sido ponderado neste equilíbrio e esperamos que assim continue. Importa sublinhar que a estabilidade da equipa do Ministério das Finanças tem sido igualmente um ponto forte. Desde que a receita fiscal do Tesouro seja garantida, e este ano, voltamos a conseguir este encaixe, não faz sentido que não se prossiga essa linha.