Suspeitas de sabotagem russa: milhares de voos na Europa com problemas nos sistemas GPS
Milhares de voos entre países europeus foram afetados no último ano por interferência nos sistemas GPS, e os especialistas acreditam que a culpa é da Rússia. Segundo os serviços de informações britânicos, desde agosto, mais de 2.300 voos da Ryanair relataram incidentes de interferência GPS, além de quase 1.400 na Wizz Air, 82 na British Airways e quatro na easyJet.
De acordo com o jornal The Sun, com base na análise de registos de voos do site GPSJAM.org, no mesmo período, cerca de 46.000 aviões registaram problemas com o GPS sobre o Mar Báltico. A maioria dos problemas relatados ocorreu na Europa Oriental, junto à fronteira com a Rússia.
O bloqueio do GPS não afetou apenas os sinais de satélite usados pelas companhias aéreas, mas também smartphones e sistemas de armas.
Embora a responsabilidade da Rússia pelos ataques de interferência não tenha sido confirmada, Martin Herem, comandante das Forças de Defesa da Estónia, acredita que o Kremlin está por trás disto.
“A Rússia pode estar a tentar testar as suas capacidades de interferência num cenário potencial de jogos de guerra”, acrescentou o general estónio.
“A Rússia demonstrou as suas capacidades de guerra electrónica noutros lugares, não apenas na Ucrânia e nos países bálticos”, disse Herem. “Eles são definitivamente muito fortes nisso.”
A fonte potencial das atividades de interferência não é clara, mas o Ministério da Defesa da Rússia admitiu anteriormente que as suas unidades de guerra electrónica baseadas no enclave de Kaliningrado realizaram exercícios para testar as suas capacidades de perturbação de satélites.
Outra possível origem poderia ser de navios russos baseados no Mar Báltico, disse Herem.
Embora os alvos potenciais das operações de interferência russas sejam provavelmente objetos militares, as perturbações dos satélites também podem potencialmente afetar os jactos comerciais que voam na área.
O sistema de navegação por satélite GPS faz parte do sistema de navegação de uma aeronave, e interferências podem representar um risco à segurança. O governo britânico confirmou em março que um avião da RAF, com o secretário da Defesa, Grant Shapps, a bordo, teve interferências no sinal GPS ao voar perto do enclave báltico russo de Kaliningrado, a caminho do Reino Unido a partir da Polónia.
Apesar de Downing Street afirmar que a interferência não ameaçou a segurança da aeronave, uma fonte de defesa classificou o incidente como “extremamente irresponsável”.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo e a Agência de Segurança Aérea da UE (Easa) realizaram uma cimeira em janeiro para discutir a interferência e “spoofing” GPS, com a Easa a relatar um aumento acentuado no número de ataques.
Enquanto a Easa afirmou que enfrentar a ameaça era uma prioridade, a Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido minimizou o risco e disse que a interferência frequentemente está associada a atividades militares, mas que isso não significa que os aviões comerciais estejam a ser diretamente visados.
Glenn Bradley, responsável pelas operações de voo da CAA, afirmou: “A aviação é uma das formas mais seguras de viagem e existem vários protocolos de segurança para proteger os sistemas de navegação em aviões comerciais. A interferência GPS não afeta diretamente a navegação de uma aeronave, e embora seja um problema conhecido, isso não significa que uma aeronave tenha sido deliberadamente interferida.”
Um porta-voz da Ryanair declarou: “Nos últimos anos, tem havido um aumento na interferência dos GPS que afetou todas as companhias aéreas. As aeronaves da Ryanair possuem múltiplos sistemas para identificar a localização da aeronave, incluindo GPS. Se algum dos sistemas de localização, como o GPS, não estiver a funcionar, a tripulação, como parte dos procedimentos operacionais padrão, muda para um dos sistemas alternativos.”
Já um porta-voz da easyJet afirmou que existem “múltiplos sistemas de navegação a bordo de aeronaves comerciais, bem como procedimentos em vigor que mitigam problemas com o GPS que podem ocorrer por várias razões”.