Sonho europeu ao longe ou candidato à Presidência no futuro? Os próximos ‘voos’ de Costa, segundo especialistas
António Costa viu-se obrigado, por diversas vezes enquanto esteve a liderar o Governo, a sublinhar que iria levar até ao fim o seu mandato, isto quando surgiam notícias de que estaria ‘de olho’ num cargo ou posição de relevo nas instituições da União Europeia (UE). No entanto, a sua demissão no seguimento das investigações da Operação Influencer, em que aparece ‘colado’ num processo paralelo que corre no Supremo Tribunal de Justiça, pode ter sido o ‘xeque-mate’ às aspirações de Costa na Europa.
Esta quinta-feira o secretário-geral do Partido Socialista Europeu (PSE), Giacomo Filibeck, considerou que a reputação de Costa “permanece intacta” mas, segundo três politólogos ouvidos pela Executive Digest, poderá não ser bem assim.
No entanto, há também quem acredite que é provável que o primeiro-ministro demissionário ainda ensaie uma candidatura à Presidência da República. Isto, claro, se não acabar de facto indiciado no processo que está em investigação.
José Adelino Maltez indica que não sabe se Costa “quer mesmo voar”.” Por outro lado, o problema aqui são as candidaturas dos amigos dele e que lhe foram leais dentro do PS. Deixou de ter asas nesse domínio”, explica. Acreditando que é possível que Costa ensaie uma candidatura a Belém, aponta uma condicionante: “Como estes processos são longos a correr na justiça, apanham já um período eventualmente de candidatura a Presidente da República”.
“A conclusão é que vai mudar de vida. Mas não será para a Europa, até porque o que dizem os jornais europeus é que não lhe permite ter qualquer sonho nesses termos, primeiro tem de se livrar do que é a suspeita num processo português”, considera Adelino Maltez, ressalvando que foi “um líder genial” e que “uma figura assim não precisa de muitos cálculos e que, certamente, arranjará emprego em qualquer lado”.
Pedro Silveira, professor de ciência política na Universidade da Beira Interior (UBI) começa por dizer que “António Costa tinha, até há umas semanas, o horizonte aberto, por muito que achasse que deveria terminar o mandato, haveria sempre a hipótese de não acontecer, mas tinha imensas possibilidades”. No entanto, neste momento o que terá na cabeça é um “enorme ponto de interrogação”.
“Ou seja, o seu futuro, por muito que gostasse de fazer algo, ou pensasse que ainda poderia fazer algo, depende necessariamente das suspeitas que existem sobre ele e enquanto não forem totalmente resolvidas, não me parece que seja exequível que continue em cargos políticos”, explica à Executive Digest.
“Como é previsível que demore muito tempo o desenrolar do caso, acho que ele próprio também começa a perceber que isso será difícil de acontecer, não sei o que pensa fazer em termos profissionais, mas é muito difícil antecipar, em termos políticos, se vamos ter a capacidade do MP e do Supremo dizerem claramente que, no caso dele, não há indícios para qualquer tipo de inquérito, e arrumar a questão. Ou se na verdade isso vai correndo paralelo, como parece indiciar o comunicado da PGR, e isso fará com que demore muitos anos, e será muito difícil exercer cargos públicos enquanto a questão não estiver resolvida”, termina o politólogo.
Já Patrícia Silva, docente e investigadora de ciência política na Universidade de Aveiro, diz que é “sempre muito difícil resgatar a imagem de um político desgastado por envolvimento em questões de corrupção”, até porque os partidos “tendem a dar pouca margem para voos futuros a estes membros cuja credibilidade possa ter sido colocada em causa”.
“No entanto, António Costa pode beneficiar da ausência de críticas objetivas por parte de qualquer partido sobre a sua seriedade, o que pode sugerir uma potencial recuperação, o que poderá permitir a António Costa lançar-se a outros voos políticos. Tal não será, contudo, enquanto existirem desenvolvimentos judiciais que lancem suspeitas sobre o seu envolvimento no processo. Poderá demorar anos, o que afastará Costa durante muito tempo de vários cargos políticos”, considera a politóloga, em declarações à Executive Digest.