Soluções financeiras ‘taylor made’. Necessidades das empresas vão obrigar a rever paradigmas
Lá de fora, para onde apontava o futuro risonho das exportadoras portuguesas até ao surto, chegam notícias das grandes empresas que estão a mexer com o mercado ao acionar as mais diversas soluções financeiras, com o ‘crédit revolving facilities’a ganhar muito terreno, nesta fase.
Nas últimas semanas as grandes empresas europeias, oriundas de todos os setores de atividade têm vindo a trabalhar com a banca no sentido de aumentar a liquidez disponível nos seus créditos, recorrendo à solução ‘credit revolving facilities’.
Segundo estimativas do Bank of America, as entidades financeiras da zona euro têm quase dois biliões de euros comprometidos nesse tipo de instrumento, que se traduzem em empréstimos flexíveis, permitindo que as empresas solicitem o valor principal ou devolvam, no todo ou em parte, dependendo das necessidades de caixa e, no vencimento, geralmente são prorrogáveis.
De acordo com um estudo do Berenberg Bank, em dezembro de 2019, apenas 8% do crédito disponível havia sido reclamado. Em março de 2020, esta percentagem saltou para 78%. “Com a economia global a sofrer uma pressão sem precedentes da crise da covid-19, as empresas estão a lutar pela sua sobrevivência.
Em Portugal, esta é uma solução gerida pela PME Investimentos e em parceria com os bancos e o Sistema de Garantia Mútua, permitindo às empresas a contratação de financiamentos para necessidades de fundo de maneio e de tesouraria.
Mas as respostas também podem vir do lado das seguradoras, atendendo a que, ao nível de seguro de crédito, o Governo português já aprovou uma verba para apoiar esta área. No entanto, não está ainda definido em que moldes irá ser disponibilizada: se através da ECA (Export Credit Agency) ou se através do mercado segurador privado.
Soluções financeiras desajustadas, do dia para a noite
Em análise ao atual cenário que vivemos, em entrevista à Revista Risco, Leonardo Palminha, financial risks specialist da Marsh Portugal, admite, desde logo, que “temos que ser realistas: o cenário é, de facto, muito difícil já que a maior parte do comércio nacional e internacional parou”.
Para o especialista, numa primeira fase, as ajudas financeiras do estado, chegando de forma célere às empresas, e as medidas extraordinárias, por exemplo lay off e moratória nos créditos, podem ajudar algumas empresas a sobreviver durante algumas semanas ou meses. “Mas, a eficácia e rapidez para que estes fundos cheguem às empresas vai ser determinante para a salvação das mesmas”, reforça.
Por outro lado, recorda que uma das principais formas de financiamento na economia real é através do crédito entre empresas, por via do diferimento dos prazos de pagamento. “Recebem agora a matéria prima e pagam a 60 ou 90 dias. Mas, nessa data terão que ter o valor para pagar. Perante a fragilidade das contas das empresas e a evidente deficiência de liquidez, a obtenção de crédito torna-se muito difícil”, detalha.
Soluções como o factoring ou o seguro de crédito, são instrumentos utilizados diariamente pelas empresas e que permitem antecipar recebimentos e protegerem-se dos riscos de incumprimento e insolvência. Mas, alerta, “estes instrumentos estão baseados num estudo dos riscos normais, usando mecanismos de mutualização do risco que num contexto extraordinário e catastrófico não funcionam”.
Assim, defende que o Estado terá de se articular com as instituições especializadas em riscos de crédito, para que os fundos sejam também canalizados para o lançamento do “novo normal”, ou seja, para que as instituições financeiras e seguradores de crédito disponibilizem soluções que as empresas utilizam no seu dia a dia, repartindo os riscos entre o setor privado (bancos e seguradores) e o Estado.
“Esta não é uma solução inovadora, já que na crise da década passada, os Estados europeus, incluindo o português, criaram linhas que foram disponibilizadas às empresas através dos seguradores de crédito, tanto no apoio à exportação (com cobertura do risco comercial e político), como por via do incremento dos limites de crédito concedidos nos seguros de crédito, ou mesmo como resseguro aos seguradores, dando-lhes maior capacidade para suportar as transações comerciais numa fase de retoma”, conclui.