Soldados norte-coreanos a combater pela Rússia abandonam linha da frente poucos dias depois de chegarem

Um grupo de 18 soldados norte-coreanos, enviado para reforçar as forças russas na Ucrânia, terá desertado da linha da frente poucos dias após a sua chegada, de acordo com relatos dos serviços de inteligência ucranianos. A deserção ocorreu nas regiões russas de Kursk e Bryansk, situadas a cerca de seis quilómetros da fronteira com a Ucrânia, conforme relatado pela emissora pública da Ucrânia, Suspilne.

Fontes de inteligência citadas pela Suspilne indicam que o exército russo está atualmente à procura dos soldados desertores, enquanto os comandantes russos tentam ocultar o incidente dos seus superiores. A presença dos soldados norte-coreanos na linha da frente fazia parte de um plano de Moscovo para reunir um batalhão de tropas enviadas pelo regime de Kim Jong Un, com o objetivo de apoiar a resistência russa contra as forças ucranianas.

Os militares norte-coreanos teriam sido posicionados numa área estratégica perto de Kursk, uma região que ainda se encontra em disputa devido às incursões das forças armadas da Ucrânia. A deserção desses soldados representa um revés para a Rússia, que continua a lutar para manter o controlo sobre algumas áreas no sudeste da Ucrânia.

Segundo o jornal ucraniano LIGA, as tropas norte-coreanas estavam previstas para integrar um batalhão especial conhecido como “Batalhão Buriate”, em referência ao grupo étnico de origem mongólica que habita partes da Sibéria, da Mongólia e do norte da China. Esse batalhão seria formado por tropas norte-coreanas com uma missão específica de combate nas regiões ocupadas pelo exército russo.

Nos últimos meses, a aliança entre Pyongyang e Moscovo tem-se fortalecido, com promessas mútuas de apoio em caso de ataque. Em junho de 2023, o Presidente russo, Vladimir Putin, fez a sua primeira visita à Coreia do Norte em 24 anos, onde ele e Kim Jong Un assinaram um “pacto de parceria estratégica abrangente”. O acordo inclui uma cláusula semelhante ao Artigo 5 da NATO, que estipula que um ataque a um dos membros é considerado um ataque a todos. Nesse sentido, o pacto prevê que, caso um dos países entre em guerra devido a uma agressão armada, o outro deverá fornecer assistência militar imediata e outros recursos disponíveis.

A deserção destas tropas norte-coreanas surge após relatos de baixas entre os soldados de Pyongyang que operam no território ucraniano. Segundo a imprensa ucraniana, seis oficiais norte-coreanos foram mortos na linha da frente russa, na região de Donetsk, a 3 de outubro de 2023. Três outros oficiais ficaram feridos e foram transportados para Moscovo para tratamento médico, segundo informações divulgadas pelo canal russo no Telegram, Kremlin Snuffbox.

Estes relatórios são corroborados pelo ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Yong-hyun, que, na semana passada, declarou no Parlamento que é “altamente provável” que a Coreia do Norte tenha enviado tropas para apoiar a Rússia. Kim sublinhou ainda que as informações sobre as baixas norte-coreanas nas linhas da frente são, provavelmente, verdadeiras.

Desde o início da guerra, a Coreia do Norte tem sido uma das principais aliadas da Rússia, oferecendo apoio logístico e material. O Departamento de Inteligência Principal da Ucrânia relatou, no final de 2022, a chegada de pessoal militar norte-coreano, incluindo engenheiros, à região de Donetsk, então ocupada pelas forças russas.

Em setembro de 2023, o Centro de Resistência Nacional da Ucrânia, criado pelas Forças de Operações Especiais do exército ucraniano, informou que Vladimir Putin havia persuadido Kim Jong Un a enviar cidadãos norte-coreanos para as áreas ocupadas de Donetsk e Luhansk para trabalhos de construção. Este movimento faz parte da crescente cooperação entre os dois regimes, que negam publicamente as acusações de que a Coreia do Norte tem fornecido munições e artilharia para o esforço de guerra russo.

A cooperação militar entre a Rússia e a Coreia do Norte tem sido motivo de preocupação internacional, particularmente para os Estados Unidos, que acusam Pyongyang de apoiar militarmente a invasão russa da Ucrânia desde o início do conflito, em fevereiro de 2022. Embora ambas as nações neguem qualquer envolvimento direto da Coreia do Norte nas operações militares, as evidências acumuladas, incluindo o envio de tropas e materiais bélicos, indicam o contrário.

Com o fortalecimento dos laços entre Moscovo e Pyongyang, a participação da Coreia do Norte no conflito ucraniano poderá crescer nos próximos meses, levantando questões sobre a escalada do apoio militar entre os dois regimes e as implicações para a guerra em curso.

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