Serviços de segurança de Israel não conseguiram impedir pior violação do país em 50 anos: há quatro pecados capitais que explicam invasão

Os serviços de inteligência israelitas detetaram um aumento na atividade de algumas das redes do Hamas que controla pouco antes dos ataques a Israel: foi enviado um alerta aos soldados que guardavam a fronteira de Gaza, segundo garantiu o ‘The New York Times’, citando dois altos funcionários de segurança do país. No entanto o aviso não surtiu efeito: seja porque os soldados não entenderam ou porque nem sequer leram.

Então, como se explica o maior falhanço dos serviços de inteligência israelitas, tidos como um dos mais capazes do Mundo?

Pouco depois do aviso, o Hamas enviou drones para desativar algumas das estações de comunicação móveis e torres de vigilância ao longo da fronteira, impedindo que os oficiais de serviço monitorizassem a área remotamente. Foram também destruídas metralhadoras controladas remotamente que Israel instalou nas suas fortificações fronteiriças. Com o caminho ‘facilitado’, o Hamas fez explodir partes da cerca fronteiriça, o que permitiu que milhares de palestinianos passassem pelas brechas.

Estas falhas e fraquezas operacionais estão dentro de uma ampla gama de erros dos serviços de segurança israelitas que abriram caminho para a incursão do Hamas em mais de 20 cidades e bases militares – foi a pior violação das defesas de Israel em 50 anos e abalou fortemente o sentimento de segurança do país. Durante algumas horas, um dos exércitos mais poderosos do mundo ficou impotente para lutar contra um inimigo muito mais fraco, o que deixou aldeias indefesas durante grande parte do dia contra esquadrões de atacantes que deixaram mil israelitas mortos, incluindo soldados em roupa interior. Foram raptadas pelo menos 150 pessoas; invadidos pelo menos quatro acampamentos militares.

Para os responsáveis israelitas contactados pelo jornal americano, há quatro pecados capitais:

– Incapacidade dos agentes de inteligência em monitorizar os principais canais de comunicação utilizados pelos atacantes do Hamas

– Dependência excessiva de equipamento de vigilância fronteiriça.

– Aglomeração de comandantes numa única base fronteiriça que foi invadida na fase inicial da incursão, impedindo a comunicação com o resto das forças armadas.

– Vontade de aceitar, à primeira vista, as afirmações dos líderes militares de Gaza, feitas em canais privados, que os palestinianos sabiam que estavam a ser monitorizados por Israel, de que não se estavam a preparar para a batalha.

“Gastamos milhares de milhões na recolha de informações sobre o Hamas”, apontou Yoel Guzansky, alto funcionário do Conselho de Segurança Nacional de Israel. “Então, num segundo, tudo desabou como dominós.”

O primeiro fracasso chegou há meses, quando os chefes de segurança de Israel fizeram suposições incorretas sobre a extensão da ameaça que representava o Hamas a partir de Gaza – o conflito ficou reduzido à Jihad Islâmica Palestiniana, o que deixou a sensação de que não procurava uma escalada. “O Hamas é muito, muito contido e compreende as implicações de um desafio maior”, reconheceu Tzachi Hanegbi, conselheiro de segurança nacional de Israel, numa entrevista seis dias antes do ataque. Ou seja, o foco ficou nos perigos representados pelos militantes libaneses ao longo da fronteira norte de Israel.

A segunda falha foi operacional: o sistema de vigilância da fronteira israelita dependia quase em exclusivo de câmaras, sensores e metralhadoras operadas remotamente. Os comandantes militares ficaram excessivamente confiantes no sistema e reduziram o número de tropas no sul, transferindo-as para outras zonas de preocupação. Isso foi aproveitado pelo Hamas, que garantiu que a barreira se tornasse mais fácil de romper do que o esperado por Israel – 1.500 combatentes entraram em quase 30 pontos ao longo da fronteira, até alguns de asa delta, sem serem intercetados.

O segundo fracasso foi também operacional, o agrupamento de líderes da divisão militar de Gaza num único local – depois da invasão da base, a maioria dos oficiais superiores foi morta, ferida ou feita refém. A situação, combinada com os problemas de comunicação, impediu uma resposta coordenada, impedindo os israelitas de compreender a amplitude do ataque.

Assim, ninguém sentiu necessidade imediata de uma cobertura aérea massiva e rápida, mesmo com os relatos nas redes sociais de vários ataques em múltiplas comunidades. A força aérea demorou horas para responder, apesar de ter bases a poucos minutos de distância em tempo de voo.

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