Será que esta empresa de superalimentos consegue parar o extremismo?
A Kuli Kuli, que cultiva a planta Moringa e a transforma em barritas energéticas, acabou de receber um subsídio para dar emprego a agricultores africanos.
Por Ben Paynter, colaborador da Fast Company
Há oito anos, Lisa Curtis, antiga voluntária do Corpo de Paz, tinha um plano para ajudar vilas da Nigéria, um país da África Ocidental, usando um ingrediente que descobriu enquanto voluntária. Chama-se moringa, uma planta alta e folhosa, rica em proteína, vitaminas A e C e também cálcio e ferro.
A planta é deliciosamente nutritiva, mas também delicada, o que significa que precisa de ser lavada e transformada em pó, de preferência uma ou duas horas depois de ser colhida. É também resistente, podendo ser cultivada num solo pobre e num clima quente e seco. Plantada em quantidade suficiente numa comunidade local, pensou, podia ser uma colheita que melhorasse a vida de todos ali, que a poderiam vender por atacado ou a diferentes empresas de produtos alimentares de cidades próximas. Lisa Curtis nunca teve oportunidade de testar a sua teoria, porque foi chamada de volta aos EUA depois de um ataque terrorista ao escritório regional do grupo. Mas criou a Kuli Kuli Foods, uma empresa de barritas energéticas, doses e pós. A Kuli Kuli é uma organização benéfica que apoia 18 cooperativas lideradas por mulheres e quintas familiares em 13 países em desenvolvimento. No final de Agosto, os esforços de Lisa Curtis deram os seus frutos, quando a empresa obteve um financiamento federal da Millennium Challenge Corporation, uma agência que se concentra em ajudar os países a encontrarem formas económicas internas de lutar contra a pobreza, em parte para combater o terrorismo.
«Nós actuamos porque a agricultura é o principal factor de emprego na Nigéria, o que significa que é uma sociedade que se baseia muito neste sector», explica. «E quando as pessoas não conseguem ganhar dinheiro com a agricultura, tornam-se mais susceptíveis ao Boko Haram, ao AQIM ou a qualquer outro grupo terrorista que ofereça estabilidade económica.» A MCC não anuncia o seu ângulo de segurança nacional: “Os financiamentos da MCC complementam outros programas norte-americanos e internacionais que não só ajudam os países pobres a saírem da pobreza, como também criam uma frente interna mais segura e próspera”, refere o website do grupo. Desde que iniciou actividade, em Janeiro de 2004, a MCC declarou ter gasto 11,5 mil milhões de euros em projectos de todo o mundo que incluem construir melhores estadas, oferecer às comunidades água potável limpa ou fornecer electricidade a lojas. ~
Na Nigéria, o grupo está a participar num projecto de 385 milhões de euros para melhorar as práticas agrícolas e pecuárias com mais água disponível e melhores caminhos até ao mercado. Lisa Curtis afirma que o financiamento da MCC será feito por etapas. Começa de forma pequena, com potencial para aumentar e chegar aos 450 milhões de euros para apoiar a empresa e grupos parceiros se atingirem certos objectivos. Esses esforços começaram em Agosto, quando a Kuli Kuli ganhou 26 mil euros para aprofundar pesquisas sobre o potencial comercial da moringa, implicando uma viagem para avaliar produtores nacionais. A empresa escolheu desde então três grupos com que trabalhar, incluindo um que emprega mulheres da vila de Saro, perto da cidade de Maradi.
Lisa Curtis espera que cada colectivo consiga cultivar e processar cerca de 40 mil quilos por ano daqui a uns anos – o que daria cerca de oito mil barritas energéticas. «Inicialmente afectará 200 pessoas e depois creio que consigo chegar às 400 se operarmos a uma escala real», afirma Lisa Curtis. Até agora, a empresa ajudou várias organizações não lucrativas a plantarem mais de um milhão de árvores moringa, apoiando mil mulheres em países como o Gana e o Haiti. Como noutros locais, o esforço empresarial na Nigéria incluirá ensinar às pessoas o conteúdo nutricional da planta e a melhor forma de a preparar.
A Nigéria continua a ser um centro de volatilidade na região. Quase metade do país vive na pobreza, tornando-o um dos países mais pobres do mundo. Está rodeado de países com cada vez mais facções extremistas, e os EUA estão a construir uma base de drones de 97 milhões de euros no país. Segundo o “The New York Times”, cerca de 800 soldados norte-americanos estão colocados na região, onde a tensão se pode tornar fatal: em Outubro de 2017, militantes do Estado Islâmico mataram quatro marines que seguiam numa patrulha de rotina. «A nova parceria da MCC com a empresa de moringa Kuli Kuli apoia o crescimento económico do sector privado na Nigéria, fortalecendo a estabilidade numa região frágil», afirmou Ryan Johnson, senior director do Gabinete de Parcerias Estratégicas da MCC.
Ao mesmo tempo, a missão da empresa compensou financeiramente. No passado Janeiro, o eighteen94, o fundo de investimento da Kellogg, liderou uma ronda de 3,7 milhões de euros. A empresa mais do que duplicou as suas receitas este ano, com produtos disponíveis da Whole Foods à Amazon e Costco. Desde a sua criação, a empresa obteve alegadamente 1,8 milhões de euros de moringa a agricultores em países com quem tem parcerias. Espera processar pelo menos 600 mil quilos no próximo ano.
Este artigo foi publicado na edição de Novembro de 2018 da Executive Digest.