Sem o apoio dos EUA, a Europa será capaz de se defender sozinha? Podemos levar três anos a descobrir e “infelizmente, não temos tempo”

Está montada uma corrida ao armamento na Europa, depois de Donald Trump ter deixado claro que não se importaria com o que Putin viesse a fazer no continente, no âmbito da sua invasão da Ucrânia. Se os responsáveis e governantes sabiam desde há muito que não deviam depender dos EUA para a defesa da Europa, por outro lado o desenvolvimento de capacidades militares próprias exige uma vontade que, até agora, não tinha sido demonstrada.

E pode a Europa defender-se sem ajuda? Segundo especialistas ouvidos pela Bloomberg, para depender apenas de si própria e do seu armamento, seriam precisos ainda mais 10 anos de preparativos. Por outro lado, ao mesmo tempo que Trump desvaloriza a Aliança Atlântica, vários serviços de informações militares do ocidente dão conta de que o Kremlin estará em posição para atingir um Estado-membro da Nato num período entre três e cinco anos.

Trump, que disse que acolheria um ataque russo aos aliados da NATO que não cumprissem os seus compromissos de gastos, veio aumentar a pressão na corrida já que, a cumprirem-se os seus desígnios, cerca de um terço da Aliança ficaria de fora do âmbito de segurança dos EUA.

“Tudo leva tempo. Infelizmente, não temos tempo”, lamentou no final de janeiro o ministro da Defesa da Estónia, Hanno Pevkur.

Estes receios deverão marcar a agenda da Conferência Anual de Segurança de Munique, que começará dias antes de se cumprirem os dois anos do início da invasão da Rússia à Ucrânia.

Com efeito, os gastos de defesa na Europa dispararam ainda antes, logo na altura da anexação da Crimeia mas, se hoje as nações europeias fossem alvo de ataque, ainda enfrentariam falhas graves em questões de defesa antiaérea e antimísseis, mísseis e sistemas informáticos avançados.

Os especialistas indicam que o pior cenário possível depende de três condições: a Europa não conseguir ser rápida o suficiente a investir na sua defesa, os EUA não enviarem mais ajuda à Ucrânia e Trump ser reeleito e depois retirar os EUA da Nato.

Outros diplomatas de topo assinalam que há suspeitas de que Trump apenas queria ‘assustar’ a Europa, para que o continente acelerasse os seus gastos com defesa, em vez de se retirar totalmente da Aliança. Mas os receios mais imediatos de corte de ajuda a Kiev, que garanta uma vitória de Moscovo na Guerra, são mais iminentes.

Com 60 milhões de dólares em ajudas à Ucrânia parados no Congresso dos EUA, o conflito no Médio oriente e a tensão China-Taiwan a desviar as atenções norte-americanas, ficou patente a necessidade de a Europa se autonomizar.

Uma forma de manter os EUA por perto seria adotar as mesmas preocupações com a China, recordando a população americana da importância da Nato para os EUA.

Caso a Rússia vencesse a guerra, e os EUA cortassem relações, as potências da UE teria, para além de compensar o défice existente do conflito, triplicar a presença de tropas da Nato na nova fronteira com a Rússia, e com um Putin muito animado, cenariza outra fonte diplomática à Bloomberg.

Ainda que a Europa tenha acelerado os seus gastos em defesa, este empalidecem perante os investimentos russos na mesma área (em 2023 foram de quase 6% do PIB, contra 1,64% na Europa).

França e Reino Unido têm armas nucleares, mas não seriam suficientes para dissuadir a Rússia de usar as suas, pelo que já existem apelos nos bastidores da UE para que se retome o apelo de Emmanuel Macron para abertura de discussões sobre um arsenal nuclear europeu.

Ao mesmo tempo, a Europa enfrenta outro obstáculo: o protecionismo, já visto com tensões entre Paris e Berlim quando à compra de sistemas de armamento estrangeiros, e numa altura em que se discute a aquisição conjunta de armamento na UE.

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