Seja Trump, Kamala ou outro: Polónia avisa que UE tem de se preparar para “mudança” na relação com os EUA

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radek Sikorski, alertou os aliados europeus para se prepararem para uma “mudança” na relação transatlântica e aumentarem os seus gastos em defesa, independentemente de quem for eleito presidente dos Estados Unidos em novembro.

Em declarações exclusivas ao POLITICO, Sikorski afirmou acreditar que os Estados Unidos continuarão a ser um “parceiro estratégico” para a União Europeia, independentemente do resultado das eleições presidenciais norte-americanas. No entanto, os países europeus “não têm outra escolha” senão assumir mais responsabilidade pela sua defesa coletiva, uma vez que Washington continuará a “manter um olhar atento sobre a Ásia”.

“É nosso dever explicar aos nossos parceiros norte-americanos que, enquanto sentirmos a ameaça da Rússia, não poderemos nos envolver totalmente lá [na Ásia]”, disse Sikorski, referindo-se ao facto de os países europeus terem muito menos forças destacadas na Ásia em comparação com os Estados Unidos.

As declarações de Sikorski, feitas após o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciar a sua retirada da corrida presidencial, sublinham a crescente preocupação entre os aliados europeus de Washington de que os EUA possam reduzir significativamente o seu investimento na NATO, especialmente se o ex-presidente Donald Trump e o seu parceiro de campanha isolacionista, JD Vance, forem eleitos em novembro.

Embora a Europa esteja mais nervosa com a potencial volta de Trump, diplomatas de vários países da UE argumentam que a reorientação para a Ásia é uma tendência mais profunda na política externa dos EUA e tem vindo a ser contínua tanto sob presidentes democratas quanto republicanos.

Além das suas declarações ao POLITICO, o gabinete de Sikorski preparou um documento de cinco páginas sobre o estado da relação transatlântica, que foi apresentado a outros ministros dos Negócios Estrangeiros da UE durante uma reunião em Bruxelas na segunda-feira.

O documento detalhado insta os líderes da UE e nacionais a adaptarem rapidamente o seu comportamento à mudança iminente, mas também a trabalharem coletivamente para dissipar perceções negativas sobre a relação transatlântica, que têm ganhado força, especialmente no lado republicano.

Entre outras questões, os líderes e funcionários da UE precisam abordar as perceções — corretas ou incorretas — de que os Estados Unidos estão a ser aproveitados pelos seus parceiros comerciais, incluindo a União Europeia. Embora a UE continue a ser o principal parceiro comercial global dos Estados Unidos, um crescente défice norte-americano no comércio de bens com a Europa alimenta essa narrativa.

As elites de ambos os lados do Atlântico precisam de “aprender a conversar” com o público sobre os benefícios mútuos da relação EUA-UE, tanto em termos económicos quanto estratégicos, afirma o documento.

Outro foco é a desinformação e propaganda russa, que está a intensificar-se antes da eleição presidencial de novembro, visando minar o apoio dos EUA à guerra na Ucrânia.

“Se Moscovo conseguir encorajar tendências isolacionistas entre os americanos, persuadi-los de que os Estados Unidos não têm interesses reais na Europa e motivá-los a opor-se à assistência militar à Ucrânia”, alerta o documento, “então o Kremlin poderá vencer não apenas uma guerra militar na Ucrânia, mas uma guerra híbrida em todo o Ocidente.”

Apontando diferenças nas perceções da Rússia entre americanos mais jovens e mais velhos, o documento também insta os formuladores de políticas a ajustarem os seus argumentos para um público mais jovem, que não tem memória da União Soviética.

Por fim, o documento polaco exorta as instituições da UE e as suas antenas nos Estados Unidos a intensificarem a “comunicação estratégica” direcionada aos decisores políticos em Washington, reforçando a ideia de que os EUA beneficiam da aliança com os países europeus.

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