Segurança online: como proteger os mais novos
Segundo sondagens recentes referidas pela UIT, 3 em 4 crianças estão dispostas a partilhar informação pessoal em troca de bens ou de serviços e 1 em 5 será abordada por um predador ou pedófilo. Preocupada com esta realidade, a organização apresentou o projeto Child Online Protection.A iniciativa tem como objetivos identificar os principais riscos e vulnerabilidades que as crianças enfrentam na Internet, educar miúdos e graúdos para estas questões, criar ferramentas práticas que minimizem os riscos e facilitar as parcerias internacionais.
Uma criança de 7 anos usa a Net de forma diferente de uma com 12 anos ou de um adolescente com 16 anos. Por isso, o Child Online Protection reúne um conjunto de boas práticas e de alertas de acordo com a faixa etária dos utilizadores.
Dos 5 aos 7: supervisão é essencial
A maioria dos miúdos com esta idade recorre à Net para jogar online ou para ver desenhos e filmes animados. Ainda não são capazes de compreender os perigos existentes e os cuidados a ter. Por isso, sempre que o seu filho quiser aceder à Internet, deve ser supervisionado por um adulto. Por exemplo, se deixá-lo na sala com um jogo, confirme de vez em quando se mudou de página ou abriu outra aplicação.
Também é importante instalar software específico no computador, no tablet ou no smartphone para limitar o acesso à rede e criar uma lista de sites seguros que a criança pode visitar.
Dos 8 aos 12: a importância dos perfis privados
A partir dos 8 anos, é preciso ensinar os cuidados básicos a adotar na Internet.
- No mundo online, facilmente uma pessoa se faz passar por outra. Por isso, é importante rejeitar os pedidos de amizade de desconhecidos.
- Os dados pessoais devem ser mantidos privados. O seu filho pode, por exemplo, usar uma alcunha nos jogos online e nos chats. Alerte-o para falar consigo sempre que lhe solicitarem o nome, a morada, o número de telefone ou outro dado pessoal.
- A regra da privacidade aplica-se também ao perfil das redes sociais e à conta de utilizador, por exemplo, dos jogos online. Faça essa configuração juntamente com o seu filho. Assim garante que está bem feita e ensina-o a criar contas seguras.
- O nome de utilizador e a palavra-passe são secretos. Não devem ser revelados nem aos amigos.
- As crianças podem sentir curiosidade em encontrar alguém que conheceram online. Explique ao seu filho que, nesse caso, deve falar consigo primeiro. Se concordar com o encontro, acompanhe-o. Marque num local público e com muitas pessoas por perto.
- Uma vez que se publica um post (foto, vídeo ou texto), torna-se muito difícil retirá-lo da Internet. Além disso, pode ser comentado e replicado por outras pessoas. A impressão digital online está acessível a conhecidos e a desconhecidos: pais, professores e predadores sexuais. Ensine o seu filho a ter cuidado com o que partilha, pois deixa de controlar o conteúdo.
- Uma fotografia colocada online por um amigo não é nossa. Não devemos partilhá-la sem a respetiva autorização nem sem dizer de quem é.
- Peça ao seu filho para avisá-lo se alguém escrever algo ameaçador, rude, com conteúdo ofensivo ou inapropriado. Ensine-o a abandonar de imediato os sites que indicam “só maiores de 18 anos” e a selecionar as teclas “control-alt-delete” caso não consiga sair da página. Configure o motor de busca para bloquear os conteúdos destinados apenas a adultos ou instale software com filtros. Faça uma lista dos sites seguros e engraçados que o seu filho pode visitar.
- É importante verificar se determinado jogo online é adequado à idade do seu filho. Encoraje-o a bloquear qualquer jogador que o deixe desconfortável. A gestão do tempo para jogar deve ser equilibrada, sem esquecer os trabalhos de casa, as atividades extracurriculares e os momentos em família.
A partir dos 13: net-etiquetas para adolescentes
A maioria dos adolescentes usa diariamente as redes sociais, as aplicações de mensagens instantâneas, os jogos e as pesquisas digitais. O acesso à Internet é uma parte fundamental do seu quotidiano, pois ajuda a comunicar com os amigos e a organizar a vida escolar.
Mas, neste contexto, é mais fácil os adolescentes esquecerem que estão a interagir com uma pessoa de carne e osso. É simples dizerem e fazerem coisas que evitariam na vida real. Tal pode ofender ou envergonhar quem está do outro lado. Explique ao seu filho a importância de ser educado também na Internet, tratando os outros como gostaria de ser tratado. Se alguém disser algo ofensivo ou que o faça sentir desconfortável, aconselhe a não responder e incentive a abandonar o chat. Peça que lhe conte caso se depare com linguagem ou imagens inapropriadas ou assustadoras.
O contacto constante com a Net pode expor os mais jovens a sites pornográficos, de abuso infantil, que incitam à violência ou ao ódio racial. Muitas vezes, vão lá parar acidentalmente, através de e-mails, das redes sociais, de programas P2P (do inglês peer-to-peer, ou seja, dispositivos que comunicam entre si de igual para igual). Nesta faixa etária, os cuidados devem ser redobrados.
- Nas pesquisas, é importante ter uma ideia aproximada do que se procura, indicando, por exemplo, o tema (desporto, cinema, jogos, etc.). Quando se clica numa página e outras começam a abrir automaticamente, é de desconfiar. Se tem adolescentes em casa, partilhe algumas técnicas para apurar se a página é fidedigna, como identificar o proprietário do site ou o seu contacto. Alguns endereços usam-se da semelhança com nomes de confiança, por isso convém confirmar se foram escritos corretamente.
- As páginas com conteúdos violentos, racistas, ilegais ou pornográficos devem ser denunciadas à polícia.
- Quando o seu filho cria um perfil, uma conta ou um blogue, deve confirmar como serão usados os dados pessoais. Algumas empresas recolhem-nos para fins comerciais ou para fornecer a terceiros. Esclareça que, caso não queira ceder tais informações, pode preencher apenas os campos obrigatórios ou mudar de site.
- Existem truques para reforçar a privacidade de uma conta, como criar um endereço de e-mail e uma palavra-passe difíceis (combinando números e letras). Outra estratégia é ter 2 contas de e-mail: uma para os amigos reais e outra para os sites que exigem um registo.
- Os adolescentes devem ser ensinados a não abrir documentos e programas de fontes desconhecidas. Muitos desses conteúdos são usados para decifrar palavras-passe ou para extrair informações dos e-mails.
- A imagem é um dado pessoal, à semelhança do nome. É essencial explicar aos mais novos que as suas fotos, bem como as dos seus amigos, não devem ser partilhadas indiscriminadamente e sem autorização. Devido à sua natureza digital, as fotografias inocentes podem ser manipuladas, ganhando um novo caráter.
Evitar os predadores sexuais
Muitos predadores sexuais usam as redes sociais, os chats, os programas de mensagens instantâneas e os e-mails para conquistar a confiança dos mais novos. É o chamado grooming (termo em inglês para designar aliciamento). Altamente manipuladores, introduzem na conversa o tema “sexo”, recorrendo a fotografias e a linguagem explícita para distrair e confundir a vítima. Através de prendas ou de dinheiro, tentam aliciá-la até determinado local, onde possa ser “apanhada”. Muitas vezes, os encontros são fotografados ou filmados. Outra tentativa passa por convencer a criança ou o adolescente a tirar fotografias ou a participar em atividades sexuais filmadas. Os conteúdos são depois partilhados online.Os jovens com baixa auto-estima ou com pouca maturidade emocional estão mais vulneráveis a estas manipulações. Alguns hesitam em contar aos adultos porque são ameaçados pelo predador sexual, por vergonha ou por receio de perder o acesso à Net. É importante alertar os mais novos para o perigo do grooming.
- Por vezes, os predadores sexuais fazem-se passar por crianças ou adolescentes, de forma a ganhar a confiança da vítima. Explique ao seu filho que, na Internet, nem toda a gente é aquilo que diz ser.
- É preciso ensinar a proteger a privacidade. No mundo real, a criança ou o adolescente não daria metade das informações que, por vezes, faculta online, como o nome completo, a morada, a escola ou o número de telemóvel.
- As curiosidades e as dúvidas sobre os sentimentos e a sexualidade são perfeitamente normais, e a Internet tem um manancial de informação disponível. O melhor é encorajar a criança ou o adolescente a falar com quem conhece e confia.
- Deixe um alerta ao seu filho: deve contar-lhe qualquer proposta indesejada que receba. A situação deve ser participada ao proprietário do site e à polícia. As mensagens e os e-mails têm de ser guardados, pois servem de prova contra o predador.
Bullying online: o que fazer
Os mais jovens usam a Internet para partilhar sentimentos, preferências e eventos. No entanto, uma vez que publicam algo, deixam de ter controlo sobre a informação. Pode ser usada por terceiros para brincadeiras que parecem inofensivas, mas com possíveis consequências graves. Isto porque, como a sua identidade está em processo de desenvolvimento, são mais vulneráveis aos mexericos e ao bullying (agressão e coacção entre jovens).
A família e os professores devem saber identificar e prevenir o bullying. Quando a intimidação é feita através da Internet, é importante ignorar as mensagens. A criança ou o adolescente pode bloquear o agressor (também denominado bully), já que a maior parte dos programas de e-mail e de mensagens instantâneas permite criar bloqueios aos contactos indesejados. Com a ajuda dos pais, a situação deve ser denunciada à escola (em caso de colegas), ao site ou à operadora que presta o serviço (se o bullying for através de SMS).
É importante guardar as ameaças escritas e as fotografias, pois ajudam a identificar o bully e são potenciais provas. As situações mais graves, nomeadamente as ameaças de violência física, devem ser reportadas à polícia. O bullying é considerado crime a partir dos 16 anos.
Respeitar os direitos de autor desde cedo
Nem tudo o que se encontra na Internet pode ser usado à vontade. Os mais jovens precisam de ter consciência de que muitos conteúdos que procuram, como músicas, filmes, vídeos e jogos, estão protegidos por direitos de autor.
- Explique ao seu filho que um download não autorizado e a sua distribuição constituem crime na maioria dos países. Já é possível detetar onde foi feito e pode ter repercussões para os pais (podem ser obrigados a pagar contas avultadas).
- Os conteúdos protegidos estão, normalmente, assinalados com a frase “Todos os direitos reservados”. Quando não incluem essa indicação, podem ser usados, modificados e distribuídos sem problemas. Noutros casos, os conteúdos são gratuitos por determinado período de tempo.
- Alguns programas de download podem esconder conteúdos indesejados, como pornografia infantil ou vírus.
- Nas pesquisas para os trabalhos escolares, é necessário identificar as fontes, para evitar acusações de plágio.
Riscos das compras na Internet
Outro problema é o facto de alguns produtos serem específicos para maiores de idade, como o tabaco, o álcool e alguns jogos. Na Internet, dificilmente o vendedor confirma a idade real do comprador. Os adolescentes devem saber que podem ter complicações legais se mentirem para comprar um artigo não indicado à sua idade.Se permitir ao seu filho fazer compras online, recomende sites com um meio de pagamento seguro. São fáceis de identificar: têm um cadeado ou a indicação “https” na barra de endereço. Os cartões de pagamento com limite são uma boa solução para evitar surpresas desagradáveis. Deixe um alerta sobre os negócios que parecem muito bons para ser verdade, esses são de desconfiar.
No caso das compras efetuadas por telemóvel, é importante confirmar se os custos estão corretos. Muitas vezes, trata-se de compras integradas em aplicações e jogos em linha, que podem originar despesas indesejadas.