Sector bancário grossista deve financiar clima

À medida que enfrentam uma crise iminente nas receitas e nas margens, que encerra um período de forte ressurgimento dos lucros a partir de 2020 e durante o pós-pandemia, os bancos grossistas de todo o mundo devem capitalizar as principais novas fontes de crescimento, como o financiamento climático ou os rápidos desenvolvimentos da Inteligência Artificial (IA), adianta a nova análise da Bain & Company, Five Themes That Will Fundamentally Change Wholesale Banking.
As projecções da Bain & Company até 2025, que resultam de entrevistas extensas e exclusivas a cerca de 30 CEO e executivos seniores de bancos grossistas de referência em todo mundo, mostram que o crescimento das receitas no período entre 2019 e 2022, com taxas de crescimento anual compostas (CAGR, da sigla em inglês) de 8% ou mais, está a perder força. De facto, a consultora estratégica adianta que essas taxas de crescimento podem cair 3/4 no período 2023-25, face aos níveis mais recentes, para um CAGR de 2% ou menos. 

«Os tempos de boom impulsionados pela macroeconomia e pelo dinheiro ultrabarato acabaram. Alcançar um maior crescimento e um desempenho superior sustentado face aos concorrentes vai ser mais difícil no futuro, mas é alcançável para os bancos wholesale que apliquem os recursos suficientes e façam escolhas essenciais e inteligentes em torno da IA, da tecnologia, do talento e dos produtos com impacto sobre o clima e os mercados de carbono, que serão absolutamente críticos para o futuro», afirma Francisco Montenegro, sócio da Bain & Company.
O risco nas perspectivas de desempenho financeiro dos bancos grossistas decorre das taxas de juro mais elevadas, já que, mesmo que os bancos centrais reduzam as actuais taxas de referência, deverão permanecer persistentemente acima dos níveis ultrabaixos dos anos anteriores. A acrescentar às pressões relacionadas com esse desempenho futuro temos os constrangimentos do lado dos custos, que resultam de uma necessidade crítica de investir na actualização tecnológica dos bancos grossistas. E o certo é que, actualmente, a maioria dos executivos inquiridos (52%) pela Bain & Company acredita que as perspectivas para o sector são apenas “médias” e que os ventos contrários da recessão, especialmente na Europa, deverão afectar o desempenho dos bancos. 

Aproveitar as novas fontes de crescimento: clima, IA e talento

O financiamento climático e aos mercados de carbono, mas também a alavancagem dos rápidos avanços na IA generativa, são as principais formas de gerar novas receitas e crescimento para os bancos grossistas, conclui o estudo da Bain & Company. Por exemplo, os produtos e serviços relacionados com o clima oferecem uma oportunidade de 1,4 biliões (milhões de milhões) de dólares em financiamento incremental anual a nível mundial até 2030, 550 mil milhões de dólares dos quais a serem endereçados pelos bancos grossistas. Isto pode gerar uma receita anual de 37 mil milhões de dólares, 4/5 dos quais provenientes dos empréstimos às empresas. Além disto, os créditos de carbono representam uma oportunidade adicional de receitas.
Ao mesmo tempo, conclui o relatório da consultora, a IA generativa vai mudar o modelo de negócio e operacional dos bancos grossistas. 72% dos executivos inquiridos esperam que esta transforme a forma como as suas instituições fazem negócios. Os casos de uso de IA citados vão desde o desenvolvimento de insights para clientes empresariais em tópicos como a optimização da liquidez até à optimização de processos essenciais, incluindo a automatização de etapas importantes no processo de empréstimo, ou à gestão das imposições regulatórias. Mesmo assim, a escala das oportunidades não realizadas em torno da IA é sublinhada por apenas 24% dos executivos, que acreditam que as suas organizações estão preparadas para desbloquear o potencial da IA. As razões vão desde a escassez de talento especializado em IA até à definição das prioridades certas que conduzem à sua implementação. O estudo aponta ainda para as oportunidades conferidas pelos activos digitais, pela modernização dos sistemas tecnológicos e pela atracção e motivação dos colaboradores.

No caso específico dos activos digitais, estes oferecem margem aos bancos grossistas para tornarem ainda mais eficientes outras actividades. A infra-estrutura do mercado blockchain e o uso da tokenização têm potencial para transformar a gestão de activos privados, como fundos de private equity, dívida privada e imóveis com maior liquidez e acordos automatizados, conclui a análise. Da mesma forma, a tecnologia distributed ledger permite aos bancos eliminar custos em actividades como a due diligence repetitiva para conhecer os clientes.
No espaço dedicado ao talento, o relatório da Bain & Company conclui que a mudança nas expectativas dos colaboradores significa que, para os bancos grossistas recuperarem terreno, terão de rever a proposta de valor oferecida às suas equipas e explorar as reservas ocultas de talento. No geral, conquistar o talento futuro certo é visto como crítico pela maioria dos executivos entrevistados, que destacam uma necessidade urgente de elevar esta prioridade nas agendas de gestão.