Seca: Nove países podem em breve enfrentar conflitos por causa da falta de água
Milhões de pessoas em regiões mais remotas do planeta, e frequentemente negligenciadas pelas potências mundiais, podem enfrentar cenários de confrontos violentos devido à escassez de água. O alerta é feito pela Water Peace and Security (WPS), uma aliança de organizações que monitorizam a escassez de recursos naturais.
Análises conduzidas pelos especialistas mostram que vários países estão hoje em risco de ser mergulhados em conflitos de grande escala ao longo dos próximos 12 meses.
Susanne Schmeier, coordenadora da WPS, lamenta que o mundo não esteja a prestar a devida a atenção à ameaça iminente, afirmando que “riscos relacionados com a água, neste momento, não recebem a atenção que deviam”, cita a ‘Euronews’.
A responsável refere que a comunidade internacional pode focar a sua atenção por breves instantes neste tipo de emergências, como aconteceu aquando das cheias que devastaram o Paquistão, “mas à luz das várias crises que o mundo está a enfrentar, a água tipicamente não está no topo da agenda”.
Os especialistas explicam que a seca pode originar, ou intensificar, a insegurança alimentar e o deslocamento de milhões de pessoas, criando tensões e confrontos entre populações que competem por recursos em menor quantidade. E as autoridades governamentais poderão não ter capacidade para sanar os conflitos.
Ciente disso, a WPS desenvolveu uma ferramenta para que seja possível detetar atempadamente os riscos da emergência de conflitos devido à falta de água, recorrendo a informações ambientais, políticas e sociodemográficas.
Desde que começou a ser aplicada, em 2019, essa ferramenta já conseguiu prever com sucesso 9 em 10 conflitos que estão hoje em curso e 6 em 10 “conflitos emergentes”.
Dessa forma, os especialistas da WPS preveem que nos próximos 12 meses o Quénia, a Etiópia, a Somália, a África do Sul, o Iraque, o Irã, o Afeganistão, o Paquistão e a Índia entrarão em competição pela água, sendo que alguns países deste grupo combaterão entre si, o que poderá degenerar em guerras militares.
Apesar do cenário negro, Schmeier diz que ainda há espaço para a esperança, apontando que a consciência dos riscos de conflito devido à seca poderá “forçar-nos a colaborar”, salientando que são precisas medidas que atuem em todas as camadas das sociedades, desde o indivíduo, aos governos nacionais e à comunidade internacional.
Schmeier frisa que nesses países é preciso ativar campanhas que procurem reduzir o consumo de água e o seu desperdício, aumentar a eficiência da agricultura através de novas tecnologias de irrigação e de culturas mais resilientes, e proteger a degradação dos solos para evitar a desertificação.
“No campo político, temos de desenvolver técnicas de prevenção e resolução de conflitos”, avisa a responsável da WPS.