Seca em Espanha: Barcelona a perder as estribeiras com turistas que gastam mais água do que os locais

Enquanto a chuva finalmente caía sobre Barcelona, trazendo alívio para uma região assolada por mais de três anos de seca, um novo ‘problema’ emergia nesta questão: o turismo. A temporada turística em ascensão na primavera trouxe consigo uma preocupação crescente sobre o uso desenfreado de água pelos visitantes, ameaçando levar o abastecimento da cidade ao limite, numa altura em que, graças a alguma chuva em abril, os reservatórios catalães começavam a recuperar.

Com esta ‘enchente de turistas’ e esperando-se que seja exponencialmente maior no verão, levantam-se receios de que a água não chegue para todos, até porque os visitantes costumam consumir muito mais deste precioso recurso do que os locais.

“Os apartamentos em Barcelona têm chuveiros eficientes e assim por diante. Mas há muitos milhões de pessoas que nos visitam todos os anos e, em termos de resíduos e utilização de água, comportam-se como as pessoas daqui se comportavam há 30 anos”, destacou Vicenç Acuña, diretor do Instituto Catalão de Investigação da Água, em declarações ao Politico.

O debate sobre a gestão da água tornou-se uma questão central nas eleições regionais, marcadas para este domingo, devido à relutância das autoridades em impor restrições ao setor turístico. Os candidatos da oposição suspeitam de manobras eleitorais por trás do alívio das restrições de água recentemente anunciado pelo governo regional.

“Não houve pressão sobre o setor turístico para mudar”, acrescentou Acuña, apontando para a relutância das autoridades em confrontar o consumo excessivo de água pelos turistas.

Embora o turismo seja vital para a economia catalã, as tensões locais aumentam à medida que os residentes veem os visitantes como uma sobrecarga para os serviços públicos e os recursos naturais. A disparidade entre o consumo de água dos residentes locais e dos turistas tornou-se evidente, com os turistas hospedados em hotéis utilizando significativamente mais água por dia do que os residentes.

“Para estas pessoas, a questão é que os turistas terão mais direitos do que os cidadãos normais em relação à seca. Não se pode fazer uma lei que vise apenas as pessoas que vêm para Barcelona ou para a Catalunha”, argumentou Eduard Rivas, presidente da Federação dos Municípios Catalães.

No entanto, alguns especialistas argumentam que culpar apenas os turistas não resolve o problema fundamental da gestão da água na região. Annelies Broekman, investigadora do Centro de Investigação Ecológica e Aplicação Florestal, critica a falta de preparação do governo regional para uma seca prolongada, atrasando os investimentos necessários em infraestrutura.

“A nossa vulnerabilidade à seca é, em grande parte, culpa nossa, porque não estamos a gerir a água para garantir que podemos lidar com a situação”, destacou Broekman.

Apesar das chuvas recentes, os reservatórios da Catalunha permanecem em níveis preocupantemente baixos, destacando a necessidade urgente de medidas de longo prazo para garantir o abastecimento de água da região. Jesús Carrera, hidrólogo de águas subterrâneas, enfatiza importância de reduzir a dependência das chuvas e investir em infraestrutura hídrica sustentável.

“É uma situação realmente difícil”, reconhece Carrera, referindo-se aos desafios enfrentados pela região na gestão da água.

Enquanto Barcelona se esforça para enfrentar a crise hídrica, as tensões entre o turismo e a sustentabilidade ambiental estão mais evidentes do que nunca. O futuro da região dependerá da capacidade das autoridades de encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação dos recursos naturais.

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