“Se as propostas russas de cessar-fogo forem ignoradas, a Ucrânia vai perder ainda muito mais território”: Kremlin reforça intenção de negociar tréguas

Vladimir Putin já manifestou a vontade de um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia, uma ideia reforçada pelo embaixador de Moscovo aos Estados Unidos, que descreveu, à revista ‘Newsweek’, a posição do Kremlin sobre as perspetivas de pôr fim à guerra mais mortal da Europa das últimas décadas.

De acordo com Anatoly Antonov, e perante o ceticismo americano sobre se Moscovo realmente procura um fim negociado para o conflito, “consideramos as declarações de representantes da administração dos EUA sobre a alegada falta de prontidão da Rússia para negociações de paz com a Ucrânia como uma tentativa deliberada de virar tudo ‘de cabeça para baixo’”.

Numa altura em que os militares russos obtiveram ganhos importantes na região de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, o que quebrou um impasse que durava há um ano, Antonov afirma que “não se pode falar de qualquer ‘congelamento’ do conflito”.

“Deixe-me enfatizar que quaisquer acordos russo-ucranianos devem levar em conta a situação ‘no terreno'”, explica. “Está excluída a retirada das Forças Armadas da Federação Russa para hipotéticas linhas divisórias. Lembremos: existe uma Constituição da Rússia. As fronteiras do nosso estado, que incluem novos súbditos federais, estão claramente marcadas.”

Estas fronteiras continuam a ser um ponto central de discórdia entre Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky: o referendo russo de setembro de 2022 para anexar as províncias ucranianas de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhia não recebeu o reconhecimento internacional, nem a disputada votação de março último para a anexação da Península da Crimeia, num contexto de crescente agitação que acabou por desencadear a guerra em curso.

“O presidente Putin indicou que a Federação Russa precisa de garantias de segurança tangíveis e legalmente consagradas no papel”, refere o diplomata. “Mas, com base na situação atual na Ucrânia, não está claro quem exatamente pode assinar o documento, tendo em conta o fim do mandato de Zelensky, que já perdeu a sua legitimidade. Esta é uma questão séria que precisa ser discutida e resolvida.”

A administração Biden enfatizou repetidamente que não prosseguiria quaisquer negociações para acabar com o conflito sem a participação do Governo ucraniano. “O Kremlin ainda não demonstrou qualquer interesse significativo em acabar com a sua guerra, muito pelo contrário”, garante um porta-voz do Departamento de Estado. “Qualquer iniciativa para uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia deve basear-se no pleno respeito pela independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas e consistente com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.”

Anatoly ntonov alerta ainda que a situação do campo de batalha só pioraria para a Ucrânia se as exigências da Rússia continuassem a ser rejeitadas por Kiev e pelos seus apoiantes internacionais. “Se as propostas russas para conversações de paz em Washington forem novamente ignoradas”, frisa. “Os ucranianos perderão muito mais território do que possuem atualmente.”

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