Salários estão a aumentar ao ritmo mais elevado desde 1993 e colocam em risco novas descidas das taxas de juro do BCE
O Banco Central Europeu (BCE) vê-se numa posição desafiadora após os salários negociados na zona euro registarem um crescimento anual de 5,42% – o maior desde 1993 –, o que poderá comprometer os planos de cortes nas taxas de juro projetados para 2025.
Segundo dados divulgados esta quarta-feira, o aumento dos salários negociados poderá influenciar as decisões do BCE, que já reduziu as taxas três vezes este ano, descendo a taxa de depósito de 4% para 3,25%, revela o ‘elEconomista’. No entanto, a persistência das pressões inflacionistas pode levar o banco central a adiar novos cortes em dezembro e até reconsiderar o rumo da sua política monetária.
A Alemanha, maior economia da zona euro, registou um aumento salarial anual de 8,8% no terceiro trimestre, muito acima dos 3,1% observados no trimestre anterior. Excluindo pagamentos únicos, o aumento foi de 5,6%, um sinal de que a dinâmica salarial pode prolongar os níveis elevados de inflação subjacente, dificultando o cumprimento da meta de 2% do BCE.
O crescimento salarial afeta o núcleo da inflação ao aumentar os custos de produção das empresas e a capacidade de consumo das famílias, tornando mais difícil a desinflação.
Para o BCE, o dilema reside em encontrar um equilíbrio entre conter a inflação e permitir que os salários recuperem parte do poder de compra perdido nos últimos anos. Enquanto os aumentos salariais podem impulsionar o consumo interno, prolongar os custos de financiamento elevados pode agravar as tensões económicas em diferentes países da zona euro.
O mercado financeiro já ajustou as expectativas, com os investidores a descartarem cortes agressivos nas taxas em 2025. As apostas em swaps apontam agora para uma taxa de 1,88% em outubro de 2025, acima dos 1,66% estimados anteriormente.