Sabotagem nos gasodutos Nord Stream: 8 questões ambientais que importa responder sobre a fuga de gás “sem precedentes”

A aparente sabotagem dos dois gasodutos Nord Stream pode tornar-se um dos piores acidentes industriais de metano da história, alertaram os cientistas, embora não seja um grande desastre climático. O metano – um gás de efeito estufa que é até 80 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono – tem-se escapado para a atmosfera por entre as três manchas na superfície do Mar Báltico, que os militares dinamarqueses estimam ter cerca de um quilómetro de diâmetro. Há, no entanto, oito questões ambientais que importa responder.

1. Qual a quantidade de metano que havia nos canais?

Não há uma agência governamental na Europa que possa dizer com certeza a quantidade de gás nos gasodutos. “Não posso dizer claramente pois os oleodutos são de propriedade da Nord Stream AG e o gás vem da Gazprom”, referiu um porta-voz do Ministério do Clima e da Economia da Alemanha.

Os dois gasodutos estavam em operação, embora Moscovo tenha parado de fornecer gás há um mês. “Pode supor-se que é uma grande quantidade” de gás, referiu o porta-voz. No caso do Nord Stream 2, não estava em operação mas foi abastecido com 177 milhões de metros cúbicos de gás em 2021. As estimativas do total de gás nos gasodutos que pode ter escapado variam entre os 150 milhões e 500 milhões de metros cúbicos.

2. Quanto está a ser libertado?

Kristoffer Böttzauw, diretor da Agência de Energia dinamarquesa, frisou que as fugas equivaleriam a cerca de 14 milhões de toneladas de CO2, perto de 32% das emissões anuais da Dinamarca. A estimativa da Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha apontou para 7,5 milhões de toneladas, cerca de 1% das emissões anuais alemãs, reforçando que não há “mecanismos de vedação” nos gasodutos, pelo que “com toda a probabilidade, todo o conteúdo vai escapar”.

Como pelo menos uma das fugas está em águas dinamarquesas, a Dinamarca terá de adicionar essas emissões ao seu balanço climático, disse a agência. Mas não está claro se todo o gás nas linhas está realmente a ser libertado para a atmosfera. O metano também é consumido por bactérias no oceano conforme atravessa a água.

3. Em que medida se pode comparar com fugas anteriores?

A maior fuga já registada nos Estados Unidos decorreu em 2015, em Aliso Canyon, responsável por perto de 90 mil toneladas de metano. Como as estimativas no Mar Báltico são pelo menos duas vezes mais altas, o desastre “não tem precedentes”, reforçou David McCabe, cientista sénior da Clean Air Task Force. Também Jeffrey Kargel, cientista sénior do Planetary Research Institute em Tucson, no Arizona (Estados Unidos), garantiu que a fuga “foi realmente perturbadora. É um crime ambiental se foi deliberado.”

4. Vai ter um efeito significativo nas temperaturas globais?

“A quantidade de gás perdido do gasoduto obviamente é grande”, disse Kargel. Mas “não é o desastre climático que se poderia pensar”. As emissões globais anuais de carbono são de cerca de 32 mil milhões de toneladas, o que representa uma pequena fração da poluição que impulsiona as mudanças climáticas.

“Esta é uma pequena bolha no oceano quando comparado com as enormes quantidades do chamado metano fugitivo que são emitidos todos os dias em todo o mundo devido a coisas como o ‘fracking’, mineração de carvão e extração de petróleo”, relatou Dave Reay, diretor executivo do Edinburgh Instituto de Mudanças Climáticas.

Lauri Myllyvirta, analista-chefe do Centre for Research on Energy and Clean Air, em Helsínquia, garantiu que era comparável à quantidade de metano libertada por toda a estrutura de petróleo e gás da Rússia durante uma semana de trabalho.

5. O ambiente local é afetado?

Enquanto o gás estiver em fuga, a vizinhança é um local extremamente perigoso. O ar que contém mais de 5% de metano pode ser inflamável, alertou Rehder, pelo que o risco de explosão é real. O metano não é um gás tóxico mas altas concentrações podem reduzir a quantidade de oxigénio disponível. As embarcações marítimas foram restritas num raio de 8 quilómetros, uma vez que o metano na água pode afetar a flutuabilidade e romper o casco de uma embarcação.

6. O que pode ser feito?

Há sugestões de que o gás restante deveria ser bombeado mas um porta-voz do Ministério da Economia e do Clima alemão garantiu que isso não era possível. Depois do oleoduto se esvaziar, vai “encher-se de água. Neste momento, ninguém pode mergulhar. O perigo é muito grande devido ao metano que escapa”. Qualquer reparação seria da responsabilidade do proprietário do gasoduto Nord Stream AG.

7. O gás pode ser incendiado?

Incendiar o gás iria reduzir de forma decisiva o impacto da libertação no aquecimento global. O metano é feito de carbono e hidrogénio, quando queimado cria dióxido de carbono, que é entre 30 e 80 vezes menos impactante no aquecimento do planeta. A queima é um método comum para reduzir o impacto do metano. Do ponto de vista climático puro, incendiar o metano faz sentido. “Sim, definitivamente – vai ajudar”, garantiu Piers Forster, diretor do Priestley International Center for Climate da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Mas ninguém quer avançar com essa solução, havendo ilhas habitadas e turísticas nas proximidades.

8. Quanto tempo vai durar e o que vem depois?

“Esperamos que o gás saia dos gasodutos até ao final da semana. Depois vamos investigar as causas”, referiu Böttzauw, diretor da Agência de Energia dinamarquesa.

Ler Mais