Rússia tem um novo canto na costa europeia para fazer ‘malabarismos’ com o seu petróleo
O petróleo russo continua a fluir pelos mares, apesar das sanções reforçadas do Ocidente: num jogo ‘do gato e do rato’, cada golpe ocidental ao comércio russo de petróleo bruto e derivados é seguido por uma manobra de Moscovo, que aproveita qualquer lacuna, fracasso ou cumplicidade dos seus rivais geopolíticos.
A mais recente manobra do Kremlin foi a descoberta de uma nova ‘mancha escura’ no Mediterrâneo para realizar transferências secretas de petróleo através da técnica navio-a-navio, um procedimento perigoso que acarreta riscos ambientais significativos. Assim, Moscovo consegue manter a chamada ‘frota sombra’ em funcionamento, composta por antigos petroleiros recondicionados e que viajam sem seguro ocidental para evitar o limite de 60 dólares por barril de petróleo bruto russo.
Esta nova ‘mancha escura’ situa-se num enclave ao longo da costa da Grécia, depois de as autoridades gregas terem decretado manobras militares para bloquear esta atividade ilícita que vinha ocorrendo no Golfo da Lacónia.
De acordo com dados da empresa de análise ‘Vortexa’, citados pela publicação ‘El Economista’, perto das ilhas de Lesvos e Chios, no Mar Egeu, é onde atualmente se trocam cerca de um milhão de barris por mês de gasóleo, fuelóleo e outros produtos petrolíferos. De acordo com a ‘Bloomberg’, as trocas furtivas mantêm-se no Golfo da Lacónia, apesar da presença próxima dos militares gregos, embora a um ritmo menor – no entanto, uma vez que as manobras da Marinha grega não atingiram aquela estreita faixa de água, é aí que se concentram estes ‘depósitos’ de petróleo.
No entanto, não é só ao largo da Grécia: as transferências entre navios também se tornaram comuns ao largo do porto italiano de Augusta – na costa leste da Sicília – desde maio, após o início das manobras da Marinha grega.
Moscovo tem explorado diferentes cantos do Mediterrâneo para realizar as suas operações fantasmas: atualmente é na Grécia, há umas semanas foi em Espanha, um destino já antes visto – um carregamento de petróleo russo foi transferido entre petroleiros perto de Ceuta no início de novembro, restabelecendo uma prática clandestina que o Governo espanhol acreditou ter posto fim. O petroleiro ‘Suezmax’ desapareceu dos sistemas de rastreamento digital durante cerca de 60 horas, período em que se acredita ter feito a transferência do petróleo.
Não é a primeira vez que o comércio petrolífero russo encontra um “aliado” inesperado na Grécia: em 2023, começaram a surgir informações que apontavam para o todo-poderoso setor marítimo da Grécia (o país é o maior armador do mundo em tonelagem de porte bruto ou capacidade de carga segura de um navio) como apoio na logística de transporte de petróleo russo pelos mares ao redor do mundo.
Atraídos pela possibilidade de lucros enormes após a convulsão dos mercados energéticos no início da guerra na Ucrânia, algumas companhias marítimas gregas deixaram para trás os receios em termos de reputação e decidiram continuar a transportar petróleo bruto russo, apesar das sanções da União Europeia e dos Estados Unidos – também foram vendedores excecionais de petroleiros antigos para que o Kremlin pudesse continuar com o seu objetivo.
Robin Brooks, responsável do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), há muito que denuncia a situação. “As empresas ocidentais abandonaram a Rússia em massa, mas não os oligarcas gregos, que deslocaram os seus navios para ajudar Putin a vender o seu petróleo em todo o mundo. Por que a UE tolera isso?”, lamentou o analista. “São os petroleiros da UE – vindos da Grécia – que transportam o petróleo russo e mantêm a máquina de guerra de Putin em funcionamento. A UE tem o poder de parar isto de uma só vez, mergulhando a Rússia no caos enquanto luta para fechar os seus poços de petróleo”, continuou o economista.
Apesar de tudo, as exportações russas de petróleo bruto por via marítima caíram nas últimas semanas, com os embarques dos portos bálticos do país bem abaixo da taxa do mês passado (setembro). Os fluxos médios de quatro semanas caíram cerca de 150 mil barris por dia no período até 17 de novembro. Isto marca a maior queda nas exportações semanais desde o início de julho.