Rússia regista número recorde de “ataques terroristas” devido a ações antiguerra e operações militares, revela relatório

Desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia, as estatísticas oficiais da Rússia apontam para um aumento acentuado de incidentes classificados como “ataques terroristas”. Um relatório recente do portal Verstka destaca que, em 2024, o número destes ataques já alcançou um novo recorde, com um aumento de sete por cento em relação ao pico registado em 2003. Contudo, especialistas observam que grande parte deste aumento se deve à forma como as autoridades russas têm redefinido o conceito de terrorismo, agora englobando diversas ações antiguerra e operações levadas a cabo pelo exército ucraniano.

De acordo com um relatório do Ministério do Interior russo, citado pelo Verstka, foram registados 601 ataques classificados como “terroristas” nos primeiros nove meses de 2024, um valor que já ultrapassa o recorde anterior de 561 ataques, fixado em 2003. Após esse ano, o número de incidentes foi gradualmente reduzido e estabilizou-se ao longo de 13 anos, com entre oito e 50 casos registados anualmente. No entanto, esta tendência inverteu-se em 2022, ano em que a Rússia lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia.

Em 2022, o Ministério do Interior russo documentou 127 ataques classificados como atos de terrorismo, número que quase triplicou no ano seguinte, atingindo 410 casos em 2023. Já em 2024, este total foi alcançado apenas nos primeiros sete meses, com 403 ataques reportados até ao final de julho. Segundo o relatório, o aumento contínuo tem levantado questões sobre as novas definições de terrorismo aplicadas pelas autoridades.

O aumento dos casos deve-se, em grande medida, a uma expansão na interpretação oficial de atos terroristas, que inclui ações antiguerra. Estes incidentes, segundo o Verstka, incluem ataques incendiários a centros de recrutamento militar e até mesmo tentativas frustradas de tais ações. Estas ações são enquadradas como terrorismo, mesmo que tenham caráter de protesto contra a guerra, o que amplia significativamente as estatísticas oficiais.

Além disso, as ações levadas a cabo pelo exército ucraniano em solo russo são frequentemente registadas como ataques terroristas, contribuindo ainda mais para os números elevados. Estes dados, segundo observadores, refletem não apenas a situação de conflito, mas também uma narrativa oficial que procura classificar atividades antigovernamentais ou de resistência como terrorismo, diminuindo assim a distinção entre atos de violência com intenções políticas ou militares e protestos civis.

A inclusão de atividades associadas à guerra com a Ucrânia nas estatísticas de terrorismo destaca as complexidades do contexto russo atual e as dificuldades em distinguir entre atos de guerra e ações definidas como terrorismo pelo Estado. Especialistas afirmam que esta classificação poderá ter consequências no aumento da repressão sobre grupos e indivíduos considerados dissidentes, reforçando o controle estatal sobre a narrativa pública relacionada ao conflito com a Ucrânia.

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