Rússia “fecha torneira” do gás à Polónia e Bulgária: Preços disparam, Comissão Europeia responde

O grupo russo Gazprom anunciou hoje que suspendeu todas as suas entregas de gás à Bulgária e à Polónia, dois países membros da União Europeia por não terem feito o pagamento em rublos.

Em comunicado, a Gazprom disse que notificou a empresa búlgara Bulgargaz e a empresa polaca PGNiG da “suspensão das entregas de gás a partir de 27 de abril e até que o pagamento seja feito em rublos”.

“A Rússia está a antecipar cortar o fornecimento de gás natural para a Europa antes que a Europa anuncie um potencial embargo”, explica Henrique Tomé, analista da XTB, numa decisão que está a ser vista pelos mercados como a mais firme da Rússia às sanções impostas pelos países do Ocidente, fazendo disparar os preços do gás natural.

A decisão do corte a estes dois países tem como base o comunicado do final do mês passado em que o Presidente russo, Vladimir Putin, confirmou os países “hostis” iriam ter de pagar o fornecimento de gás em rublos.

“Para comprar gás russo, eles [países “hostis”] precisam de abrir contas em rublos em bancos russos”, disse Vladimir Putin, que acrescentou que “se esses pagamentos não forem feitos, consideraremos isso uma falha do cliente em cumprir as suas obrigações.”

Para além do corte nos dois países, a Gazprom, que fornece cerca de 40% do gás à Europa, alertou que estes cortes podem prejudicar o abastecimento de países como a Alemanha, a Hungria e a Sérvia, pois a Polónia e a Bulgária têm gasodutos que fornecem estes países.

“Nem a Polónia nem a Bulgária pretendem fazer pagamentos em rublos, mas a reação de outros países europeus pode ser diferente. Segundo os meios de comunicação, a Áustria recuou e concordou em pagar o gás russo em rublos. Enquanto isso, a Grécia convocou uma reunião de emergência sobre a situação. Até agora, a Rússia interrompeu o fornecimento para países europeus relativamente pequenos, mas podemos interpretar as recentes medidas como um aviso para países maiores, como a Alemanha”, acrescenta o analista.

Em reação à decisão de Moscovo, a Polónia disse que não planeia prolongar o contrato com a Gazprom, que expira no final deste ano, segundo a ‘Reuters’, acrescentando que tem alternativas suficientes de gás, incluindo o gás natural liquefeito.

A Bulgária seguiu o mesmo caminho, dizendo que não vai renovar o contrato com a Gazprom que termina no final do ano. “Tendo em conta que todo o comércio e obrigações legais estão a ser observadas é claro que, neste momento, o gás natural está a ser usado mais como uma arma política e económica na atual guerra”, disse o ministro da Energia da Bulgária, Alexander Nikolov, citado pela ‘Reuters’.

“Embora a interrupção repentina das exportações de gás russo para a Europa seja um golpe para a economia europeia, também será um golpe para a economia russa. A Rússia simplesmente não pode substituir as exportações para a UE por exportações para outros clientes devido às questões em torno das suas infraestruturas já criadas”, conclui Henrique Tomé.

 

 

Reação da Comissão Europeia

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu, em comunicado, ao anúncio da Gazprom sobre a interrupção do fornecimento de gás a determinados Estados-Membros da União Europeia.

“O anúncio da Gazprom de que cessa unilateralmente o fornecimento de gás a clientes na Europa é mais uma tentativa da Rússia de utilizar o gás como instrumento de chantagem. Isto é injustificado e inaceitável”, começa por dizer.

A presidente da Comissão Europeia assegura que se está a trabalhar para que sejam garantidas alternativas e melhores níveis de armazenamento em toda a região e diz que “os Estados-Membros estabeleceram planos de contingência para esse mesmo cenário e trabalhámos com eles em coordenação e solidariedade”.

Para além disso, Ursula von der Leyen acrescentou que está a decorrer uma reunião do Grupo de Coordenação do Gás onde será delineada a resposta coordenada da UE, assegurando que vai continuar “a trabalhar com os líderes europeus e mundiais para garantir a segurança do aprovisionamento energético na Europa”.

 

Reação dos preços do gás natural

Segundo a agência de notícias, o preço de referência do gás natural TTF (Title Transfer Facility) chegou a subir mais de 19% esta quarta-feira, alcançando os 117 euros por MWh.

Neste momento, os preços acalmaram, seguindo em alta de 3,2% para 106 MWh.

Recorde-se que no dia 7 de março o preço do gás natural atingiu máximos históricos, batendo nos 345 euros por MWh.

Numa análise ao período de conflito, o gás natural encontrava-se nos 88 euros por MWh no dia anterior ao ataque do Kremlin à Ucrânia, tendo no dia 24 de fevereiro disparado para os 132 euros por MWh. Desde o dia 25 de março assistiu-se a uma subida constante até ao máximo histórico registado.

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