Responsáveis e embaixadores da UE já estão ‘aos papéis’ a prepararem-se para possível regresso de Trump à Casa Branca

Os principais responsáveis da União Europeia (UE) têm mantido encontros estratégicos com embaixadores dos 27 Estados-membros para debater os possíveis impactos de um eventual regresso de Donald Trump à Casa Branca. Estas reuniões refletem preocupações sobre as possíveis mudanças abruptas nas políticas dos EUA, caso o antigo presidente dos Estados Unidos vença as próximas eleições. De acordo com doze diplomatas da UE, ouvidos pelo Politico, os encontros têm abordado essencialmente dois temas: o futuro do apoio americano à Ucrânia e o risco de tarifas mais altas para produtos europeus.

“A principal preocupação é o comércio, mas, acima de tudo, a situação na Ucrânia”, afirmou um dos diplomatas em anonimato ao POLITICO, sublinhando que Bruxelas antecipa “mudanças abruptas na política americana, até mesmo antes da tomada de posse”. Segundo outras fontes, os receios de que Trump venha a adotar uma posição menos favorável em relação ao apoio militar e financeiro a Kiev são evidentes, dado o histórico do ex-presidente de retórica crítica a alianças e acordos internacionais, incluindo a NATO.

Na semana passada, as reuniões, primeiro reportadas pelo Brussels Playbook do POLITICO, envolveram pequenos grupos de embaixadores dos países da UE, reunidos na presença de altos responsáveis da Comissão Europeia, entre eles Björn Seibert, chefe de gabinete da presidente Ursula von der Leyen. Participaram também representantes de diversos departamentos da Comissão, como os que gerem áreas de comércio e energia, refletindo uma estratégia ampla de preparação para a possibilidade de novas tensões com Washington.

A par dos encontros, a UE teria ainda montado uma força de reação rápida, apelidada informalmente de “força-tarefa Trump”, focada em mitigar os impactos de um possível retorno do republicano ao poder. Segundo fontes diplomáticas, a UE poderá adotar medidas comerciais de retaliação se confrontada com uma política económica mais agressiva dos EUA. Recentemente, Trump ameaçou impor tarifas de 10% a 20% em todas as importações, com o objetivo de repatriar empregos industriais para os EUA, referindo-se à UE como “uma mini China”.

“Eles não compram os nossos carros, não compram os nossos produtos agrícolas, não compram nada. Têm um défice de 312 mil milhões de dólares connosco. A UE é uma mini China, mas não tão mini”, declarou Trump na quinta-feira, reafirmando uma postura de confrontação que aumentaria as tensões comerciais.

Além das tarifas, os embaixadores e responsáveis da Comissão abordaram a complexa questão das relações com a China. A UE prevê que um regresso de Trump resulte numa postura ainda mais hostil de Washington para com Pequim, o que poderá desencadear novos desafios diplomáticos e comerciais para o bloco europeu, obrigando a uma recalibração das suas próprias relações com a China.

Apesar de as preocupações se centrarem principalmente em Trump, a UE também analisa cenários com outros potenciais candidatos. Caso uma administração liderada pela vice-presidente Kamala Harris se torne uma realidade, a expectativa é de uma abordagem menos disruptiva, mas os responsáveis europeus pretendem manter-se preparados para todos os desfechos. “Estamos a preparar-nos para as eleições nos EUA, considerando todos os cenários possíveis”, afirmou Arianna Podestà, porta-voz da Comissão Europeia. “Comprometemo-nos a manter uma parceria próxima com os EUA.”

Estas reuniões e estratégias refletem a preocupação de Bruxelas em assegurar uma continuidade nas relações transatlânticas, mantendo a estabilidade nas áreas de comércio, defesa e energia, independentemente de quem vencer as eleições americanas.

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