Remunerações baixas ‘travam’ subida das universidades portuguesas nos rankings internacionais e impedem captação de talentos

Portugal afirma-se cada vez com maior força como País com Ensino Superior de alta qualidade, e conta com universidades e politécnicos reconhecidos internacionalmente, muitas vezes destacados nas listas das melhores do mundo. Mas a subida, que já foi mais acelerada, está a abrandar, e há dificuldade em captar e fixar novos talentos nas empresas nacionais. Os baixos salários no início das carreiras são um dos principais obstáculos.

A posição foi transmitida por Mariana Canto e Castro, diretora de recursos humanos da Randstad Portugal e Pedro Brito, associate dean da Nova SBE, no painel ‘O Ensino e o Talento: As oportunidades e entraves’, na XIV Conferência Executive Digest, esta quarta-feira.

O professor universitário apontou a tendência que se verifica de cada vez mais alunos estrangeiros inscritos em cursos com mestrados integrados, nas instituições de ensino em Portugal. “70% dos alunos são internacionais, de uma grande diversidade de 90 países”, explicou Pedro Brito. As razões que explicam o fenómeno são várias, de contexto, como a segurança ou o clima, mas há uma que se destaca: a presença de instituições portuguesas de Ensino Superior nos principais rankings internacionais.

“Temos uma vantagem competitiva que não sei se estaremos a aproveitar ao máximo. Trabalhamos muito na parte académica, garantindo ensino de elevadíssima qualidade, mas quando os alunos terminam a universidade e seguem a carreira, ai há um esforço desequilibrado”.

Os rakings têm como um dos principais critérios a remuneração dos alunos três anos depois de terminarem os estudos, o que tem ‘puxado’ o país para baixo nas listas dos países com as melhores universidades do mundo. “É uma oportunidade de focar energia também na gestão de carreiras destes alunos”, considerou Pedro Brito.

Mariana Canto e Castro reforçou a ideia de que a remuneração baixa “tem grande impacto” na fixação e captação de alunos e novos talentos vindos do estrangeiro. “Sabemos que em Portugal o arranque e início de carreira é difícil e não é particularmente bem remunerado”, lamentou.

A responsável de recursos humanos da Randstad apontou ainda para as oportunidades que existem para os alunos do setor técnico-profissional, que representam 51% da massa recrutada pelas empresas. “Até 5 nos no início da carreira recebem mais 2% do que os trabalhadores que cumpriram o ensino universitário”, explicou, reforçando que “o fantasma das remunerações” ainda assombra a formação de um cluster da Educação em Portugal.

Pedro Brito destacou uma oportunidade subexplorada, que são os alunos estrangeiros que as empresas não conseguem reter. è necessária uma mudança de perspetiva, e que o tecido empresarial deixe de olhar para estes alunos como “mais um trainee”.

“A nossa incapacidade de nos juntarmos uns aos outros, mesmo quando temos os mesmos objetivos é um obstáculo. Nas escolas, enquanto na olharmos para além dos resultados, será difícil criar clusters de Educação”, avisou o responsável da Nova SBE, indicando que o facto de Portugal estar “na cauda da Europa no que respeita ao Índice de Competitividade, no que respeita aos critérios de políticas fiscais e qualidade de gestão”, constituem outros desafios.

Mariana Canto e Castro, da Randstad, afirmou no debate que “a agenda do trabalho digno e as leis laborais têm que ajudar a dar flexibilidade às carreiras”, mas destacou que aumentou a ligação entre instituições de ensino e universidades. “Nos últimos cinco anos demos passadas de 10 anos para corrigir o desalinhamento”, felicitou a especialista em recursos humanos.

Por outro lado, aponta um “desalinhamento total” entre professores e empresas, ressalvado que há disponibilidade para um desafio que já lançou “de professores do Secundário, e ao Ministério da Educação”, de que os docentes possam visitar e trabalhar nas empresas para conhecerem a realidade. “A capacidade de liderança, não se trabalha quando se sai da Universidade, ou só enquanto se frequenta, é um trabalho de muitos anos, e começa logo ao nível do ensino básico”, clarificou Mariana Canto e Castro.

A responsável terminou apelando à necessidade de que o ensino “seja ao longo da vida”, destacando a importância do ‘reskilling’, de voltar a pôs os trabalhadores na escola “dar-lhes formação e prepará-los para terem flexibilidade”, para os especializar em funções nas quais à necessidade de mercado a suprir, e dessa forma criar uma ‘liquid workforce’ – uma mão-de-obra que está preparada e formada para ir trabalhar de um setor para outro.

A XXVIV edição da Conferência Executive Digest, um dos eventos mais relevantes do setor empresarial nacional, que reúne Presidentes, CEOs e gestores de referência, rostos e principais elementos do tecido empresarial português, decorre esta manhã, sob o mote “As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar”.

Entre os oradores no evento contam-se nomes como Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva e vice-presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, Helena Vieira, coordenadora de investigação na Universidade de Aveiro, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, Marios Henrique Silva, líder de Digital e Inovação na MC/Sonae, Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, João Mestre, diretor de Sustentabilidade na Fidelidade ou Pedro Brito, associate dean na Nova SBE.

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