Remodelação nas finanças. As reações, os protagonistas e os desafios

Na convenção nacional do PS realizada no Verão de 2019, Centeno apresentou João Leão como o “artífice das cativações”. Durante a governação, as cativações atingiram valores recorde mas foram fundamentais para atingir as metas orçamentais definidas no âmbito da intervenção que o país recebeu por parte do FMI.

João Leão foi também o homem escolhido pelo Ministério das Finanças na hora de negociar com os sindicatos da função pública, sobretudo com os médicos e os professores – questões como os aumentos salariais ou o descongelamento das carreiras estiveram em cima da mesa. Fonte do executivo disse à agência Lusa que a substituição de Mário Centeno por João Leão “constitui um garante natural de continuidade dos resultados alcançados pela governação em matéria de finanças públicas”.

Nascido em Lisboa em 1974, o novo ministro das Finanças, é doutorado em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA. Licenciado em Economia e Mestre em Economia pela Universidade Nova de Lisboa. É professor de Economia no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa desde 2008.

Foi Secretário de Estado do Orçamento entre 2015 e 2019 no XXI Governo da Republica. Foi Diretor do Gabinete de Estudos do Ministério da Economia entre 2010 e 2014 e assessor do Secretário de Estado Adjunto da Indústria e do Desenvolvimento entre 2009 e 2010.

Desempenhou as funções de presidente da Comissão Científica do Departamento de Economia do ISCTE entre 2009 e 2010 e de diretor do Doutoramento em Economia (2011-2012). É investigador da Business Research Unit do mesmo instituto. Foi membro do Conselho Económico e Social entre 2010 e 2014 e do Conselho Superior de Estatística entre 2010 e 2014. Integrou a delegação portuguesa no Comité de Política Económica da OCDE em 2010 e 2012 e integrou grupos de trabalho no âmbito da OCDE.

«João Leão é uma excelente escolha para o Ministério das Finanças. Como já tinha dito nalgumas entrevistas, ele foi o grande executor da política de consolidação orçamental dos últimos anos. A sua escolha dá as garantias necessárias que a prudência orçamental vai continuar», escreveu Álvaro Santos Pereira, antigo ministro da Economia e do Emprego Álvaro Santos Pereira, atual economista da OCDE, num primeiro tweet.

Já Duarte Marques, do PSD, também comentou no twitter, a saída de Centeno. «Mário Centeno herdou um país em crescimento e recuperação apos uma pré-bancarrota. Assim que chegou a crise pôs-se ao fresco. Mais socialista do que isto é dificil».

Em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro, António Costa, disse compreender e respeitar que «Mário Centeno queira um novo ciclo para a sua vida.»

Também a UGT já reagiu à saída de Centeno e considera que é «o pior momento que podia ter sido escolhido para esta substituição», pois o país vive tempos difíceis. Carlos Silva sublinha ainda que «é uma perda muito importante para o Governo, até em termos de reputação e credibilidade internacionais».

 

João Leão vai tomar posse na próxima segunda-feira, às 10h00, enquanto além de Mário Centeno sairá também do Ministério das Finanças o secretário de Estado-adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, e o secretário de Estado do Tesouro, Álvaro Novo.

Centeno: Das raízes algarvias à presidência do Eurogrupo

Nasceu em Olhão, passou a infância em Vila Real de Santo António e mudou-se aos 15 anos para Lisboa, onde, com os três irmãos, continuaria os estudos. O curriculum e a licenciatura em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), concluída com 16 valores, valeram-lhe a entrada em Harvard. No entanto, nunca esqueceu as raízes. Aliás, o ministro das Finanças foi mesmo homenageado em Vila Real de Santo António, no âmbito do Dia da Fundação da Cidade, com a Medalha de Mérito Municipal pelo seu «brilhante percurso académico» e »carreira internacional de sucesso» na área da Economia.

Filho de uma funcionária dos CTT e de um bancário, regressou a Lisboa com a mulher e os três filhos em 2000, onde entrou no Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, tendo sido nomeado diretor-adjunto do departamento quatro anos depois, cargo que ocupou até ao final de 2013.

«Harvard foi uma revolução na minha forma de ver a economia em quase tudo», disse Manuel Centeno, numa recente entrevista à revista Visão. “Tornei-me muito mais sensível à relação entre a economia e as pessoas”.
Durante o seu período no Banco de Portugal, Mário Centeno foi um dos autores de um estudo sobre o salário mínimo nacional, que aponta fragilidades ao seu aumento.

Depois de ser oficial a saída de Mário Centeno do Governo, o ministro demissionário recorreu ao Twitter para anunciar que não vai avançar com uma recandidatura ao cargo de presidente do Eurogrupo.

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